Indústria em MG pode perder R$ 92 bi com paralisações da mineração
Balanço realizado pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais mostra que suspensões podem afetar economia em efeito cascata
Minas Gerais|Pablo Nascimento e Lucas Pavanelli, do R7
Um levantamento da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) aponta que o setor industrial pode deixar de faturar R$ 92,6 bilhões em 2019 com as paralisações da mineração anunciadas no Estado.
Desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, no dia 25 de janeiro, a Vale suspendeu atividades em mais de 10 de suas minas e barragens no Estado.
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Em parte, a medida foi tomada após decisões da Justiça. Em outras, por entendimento da própria empresa para acelerar o processo de descomissionamento, ou seja, desmonte das 10 barragens construídas pelo mesmo método das estruturas de Brumadinho e Mariana.
Com a paralisação das minas Fábrica, em Ouro Preto, Vargem Grande, em Nova Lima, e Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo, a estimava é de que deixem de ser produzidas cerca de 90 milhões de toneladas de minério este ano.
Flávio Roscoe, presidente da Fiemg, explica que não é apenas o setor de mineração que perde com a situação. Segundo ele, as mudanças afetam a produção de matéria-prima para importantes áreas, como a siderurgia, responsável pelo tratamento de aço. Com isso, os reflexos são sentidos em fábricas de áreas diferentes que vão do vestuário à indústria automotiva.
— Quando se interrompe as atividades de uma mina, o efeito se multiplica. Não é só o prejuízo da paralisação em si, mas também o efeito nas cadeias de produção que estão à frente da mineração. O impacto é multiplicador, porque vai faltar aço, prodtos metalúrgicos, guza, e assim sucessivamente. A falta do minério vai impactar todas essas indústrias, seus fornecedores e clientes.
Roscoe alerta, ainda, que os agentes públicos precisam separar "o joio do trigo", ao determinar paralisações de minas e barragens no Estado. Para ele, há muitas decisões conservadoras que determinam a suspensão de atividades em estruturas que não apresentam problemas.
— A sociedade como um todo está vivendo uma grande comoção. Mas também é preciso ter calma, senão nós vamos multiplicar os efeitos da tragédia. Não se trata de liberar todas as estruturas. As que estão com problemas devem ficar interditadas. Mas há outras que são importantes e que não oferecem riscos e, por isso, devem voltar a operar.
Setores
O estudo aponta que os setores mais afetados, em efeito cascata, serão o de transporte terrestre, comércio e atividades imobiliárias. Geraldo de Souza Marques é presidente de uma cooperativa de caminhões que transporta minério, principalmente na Grande BH. Ele diz que a situação já deixa motoristas preocupados com a redução do serviço.
— Cerca de 92% dos nossos clientes são de mineração. Atualmente temos 270 associados que podem ser afetados diretamente com a redução das viagens. Por trás deles, há eletricistas, borracheiros e mecânicos que dependem de nós.
De acordo com a pesquisa, a paralisação pode deixar 747.289 pessoas sem emprego, considerando trabalhadores da extração mineral e dos outros setores da indústria, como a automobilística, de maquinário pesado e construção.
Veja a lista das 10 áreas que podem ter maior impacto na produção (em R$ bilhões):
• Transporte terrestre (1.474)
• Comércio por atacado e a varejo (1416)
• Atividades imobiliárias (871)
• Intermediação financeira, seguros e previdência (718)
• Energia elétrica, gás natural e outras utilidades (662)
• Armazenamento, atividades auxiliares, transporte e correio (530)
• Construção (474)
• Refino de pretróleo (437)
• Atividades juríricas, contáveis e consultoria (378)
• Comércio e repação de veículos (365)