Itamaraty acompanha denúncia de famílias sobre tráfico humano de brasileiras nos EUA
Parentes dizem que as mulheres foram coagidas por uma coach; os familiares questionam vídeos em que as supostas vítimas negam os crimes
Minas Gerais|Helena Lima, da Rede Mais
O Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) informou, nesta segunda-feira (17), que está em contato com a polícia americana para acompanhar as investigações sobre os possíveis casos de tráfico humano denunciados por duas famílias brasileiras.
Os parentes fazem campanha nas redes sociais alegando que as filhas teriam sido manipuladas por uma brasileira que vive nos Estados Unidos e se apresenta como coach nas redes sociais, nas quais vende consultas virtuais.
Uma das jovens é natural de Perdões, a 220 km de Belo Horizonte. Letícia Maia Alvarenga, de 21 anos, mudou-se para os Estados Unidos em 2019 para trabalhar como babá. Sem se identificar, o pai da jovem relata que viu a filha pela última vez quando ela esteve no Brasil em abril deste ano.
"A Letícia estava fria. Diferente. Não a reconhecemos. Ela não conversou conosco. Ela pegou alguns documentos e foi dormir em um hotel. Depois, seguiu viagem", contou o homem, apontando uma mudança de comportamento da filha, que, segundo ele, era próxima da família.
O pai afirma que desde abril não tem contato com Letícia. Depois que a campanha montada pelos pais ganhou repercussão nas redes sociais, a jovem publicou vídeos e fez uma transmissão ao vivo na internet, dizendo que estava bem. Nas gravações, a brasileira se mostra nervosa, diz não querer contato com a família e acusa os parentes de ser abusivos.
"Eu vim aqui fazer esse vídeo para colocar um ponto final nessa história. Minha família chegou longe demais", disse Letícia na transmissão realizada em uma rede social. Internautas perguntaram à jovem onde ela estava, mas a mulher se negou a contar.
O pai, no entanto, acredita que a filha pode estar sendo coagida pela coach Kat Torres. "A Letícia disse que estava trabalhando para a Kat Torres. A gente está suspeitando de tráfico humano", declarou o homem.
"Primeiro, a Letícia começou a nos pedir dinheiro. A gente ajudava, para ela fazer as despesas nos Estados Unidos, mas começamos a notar que estava pedindo de forma abusiva", diz o pai ao relatar que a filha teria perdido o controle financeiro.
A família da brasileira Desirrê Freitas também suspeita que a mulher tenha sido vítima do suposto esquema e ainda sugerem a possível influência de Kat Torres. Os parentes e amigos da jovem criaram uma página na internet, na qual relatam que não a veem desde setembro de 2019.
Após a divulgação do suposto desaparecimento, Desirrê também divulgou um vídeo nas redes sociais dizendo que está bem e não quer contato com a família. Na gravação, a brasileira afirma que está vivendo na Europa.
"Eu estou gravando este vídeo para ordenar para que vocês parem de me perseguir. Parem de me procurar. Parem de perguntar a terceiros sobre o meu paradeiro. Se eu bloqueei vocês, tem um motivo. Eu não quero falar com vocês. Estou cansada de ter vocês na minha vida. Se eu quisesse falar com vocês, eu estaria falando", disse Desirrê.
A família de Letícia registrou um boletim de ocorrência de desaparecimento na Polícia Civil de Minas Gerais. A corporação investiga o caso.
Resposta
Kat Torres, que também diz ser modelo e atriz, publicou um comunicado em que nega as acusações. Em sua página em uma rede social, a coach compartilhou o vídeo em que Letícia pede para não ser procurada pela família.
"Eu tentei proteger as pessoas para que elas não fossem expostas, mas as pessoas não me deram escolha. Lembrando aqui que a menina é maior de idade e não cometeu crime nenhum. A única coisa que ela fez foi ter fugido de uma situação e de pessoas que ninguém deveria ser obrigado a ficar perto", disse Kat na nota.