Na época, Tancredo, avô de Aécio, era governador
R7
O juiz da comarca de Cláudio, na região Oeste de Minas, José Alexandre Marson Guidi, determinou que o Governo de Minas Gerais informe se familiares do deputado federal Aécio Neves (PSDB) já receberam indenização pela construção do aeródromo da cidade entre os anos de 1983 a 1985. Nessa época, uma pista de chão batido foi construída no local.
O ex-presidente eleito Tancredo Neves, avô de Aécio, foi governador de Minas Gerais entre 15 de março de 1983 e 14 de agosto de 1984. Já em 2008, quando Aécio Neves era governador, o Estado declarou de utillidade pública o terreno e gastou R$ 14 milhões para asfaltar e realizar melhorias no local. A obra está sendo investigada pelo Ministério Público por suspeita de desvios de recursos e de finalidade.
Para o juiz de Cláudio, "a extrema necessidade de se apurar a efetiva área do aeródromo construído entre os anos de 1983 a 1985, se justifica pelo fato de impedir uma indenização injusta e eventual dano ao erário, caso tenha ocorrido sobreposição do novo aeródromo sobre o anterior".
No fim do despacho, mandou intimar o DER (Departamento de Estradas de Rodagem), com urgência, para informar se houve um aeródromo construído na década de 80, custeado pelo Poder Público, e se houve indenização aos proprietários da época.
A determinação do juiz de Cláudio é mais um capítulo do imbróglio judicial em relação ao terreno, parte de uma fazenda que pertencia ao ex-prefeito da cidade, Múcio Guimarães Tolentino, tio de Aécio.
Indenização milionária
Conforme a Record TV Minas mostrou em agosto deste ano, os herdeiros de Tolentino, morto em 2017, exigem que o Estado pague a quantia de R$ 2,1 milhões de indenização, o dobro do valor previsto quando o terreno foi desapropriado por Aécio.
O valor da indenização já foi aceito pela AGE (Advocacia-Geral do Estado). Cabe, agora, ao juiz, bater o martelo e determinar o pagamento. O aeródromo não recebe voos desde 2016, quando foi homologado pela ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil).
Cláudio sempre foi um dos destinos preferidos de Aécio. Quando governou o Estado, de 2003 a 2010, o tucano voou para o município 102 vezes em aeronaves do Estado.
No mesmo período, Aécio foi 60 vezes para Brasília. Ao todo, foram 1.337 voos para diversos destinos. O gasto com os deslocamentos chamou a atenção do Ministério Público, que moveu processo contra Aécio alegando que ele usou as aeronaves para fins particulares.
Em 2019, a Justiça em Belo Horizonte chegou a bloquear os bens de Aécio Neves no valor de R$ 11,5 milhões para ressarcir os cofres públicos. Dois meses depois, a mesma Justiça da capital extinguiu o processo alegando que o caso prescreveu. O Ministério Público recorreu ao Tribunal de Justiça, mas o caso ainda não foi apreciado pelos desembargadores.
Outro lado
Em nota, o governo estadual, por meio da AGE (Advocacia Geral do Estado), informou que só vai se manifestar no processo. Também em nota, o deputado federal Aécio Neves alegou que o tema abordado não guarda qualquer relação com o mandato parlamentar.
"Durante a gestão dele nenhum valor foi pago pelo Estado aos antigos proprietários da área em que foi construído o aeródromo. À época, os proprietários não aceitaram o valor da desapropriação proposto pela área técnica do Estado por considerá-lo muito baixo e recorreram à Justiça".