Mãe oferece bicicleta da filha em troca de frango para ceia em BH
Sem poder trabalhar por problemas de saúde, moradora da capital mineira encontrou na oferta a chance de ter um jantar especial
Minas Gerais|Ana Paula Pedrosa, da Record TV Minas
Uma bicicleta infantil usada em troca de um frango e verduras para a ceia de Natal. A proposta desesperada foi a maneira que uma mãe encontrou para fazer um jantar gostoso para a família pelo menos nessa data especial.
Sem poder trabalhar por problemas de saúde e com a geladeira completamente vazia, Danielle Moura buscou ajuda em uma rede social. "Foi no desespero. A bicicleta da minha filha pequena é a única coisa que eu tenho de valor. Meu celular está quebrado e com a parte de cima [da tela] queimada, minha televisão é de tubo, quem vai querer comprar?", diz.
Nesta quarta-feira (22), quando fez a publicação, ela tinha em casa arroz, canjiquinha e uma batata para alimentar seis pessoas: quatro filhos com idade entre 3 e 18 anos, a mãe e ela mesma. O pai da criança e dos adolescentes é usuário de drogas e saiu de casa há seis meses.
Para a higiene, a família tinha em casa apenas um sabonete e algumas fraldas da filha caçula. As contas de água, luz e aluguel estão todas atrasadas há vários meses. Depois que fez o post, ela conseguiu promessas de doações do desejado frango e de leite e ajuda para pagar uma das contas de água em atraso.
Aumento da pobreza
A renda da família atualmente é de R$ 700, da pensão que a mãe de Danielle recebe desde a morte do marido, em 2020. Até o ano passado, as condições da família eram melhores, porque o pai de Danielle, além do emprego formal, vendia picolés para complementar a renda e ela ainda conseguia trabalhar em serviços de limpeza. Ela conta que a perícia não renovou seu afastamento do emprego, mas que não tem condições de trabalhar porque sente muitas dores em decorrência de um problema na coluna.
O valor que a família tem para passar o mês equivale a R$ 116,60 por pessoa, o que a coloca em condição de pobreza e muito perto da situação de pobreza extrema. As definições estão em decreto publicado pelo governo federal em novembro deste ano: famílias com renda de até R$ 100 por pessoa são classificadas de pobreza extrema e as que recebem até R$ 200 por pessoa são consideradas pobres.
A parcela da população que se encaixa nessas definições vem aumentando. Estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que em 2019, antes da pandemia, a proporção de pobres era de 10,97% da população, cerca de 23,1 milhões de pessoas.
Durante a pandemia, o melhor momento foi em setembro de 2020: com o pagamento do auxílio emergencial a grande parte da população, a pobreza recuou para 4,63% do total, ou 9,8 milhões de brasileiros. Em julho deste ano, com a redução do número de pessoas que recebem o auxílio, a pobreza voltou a aumentar e cerca de 27,7 milhões de brasileiros — 12,98% da população —são considerados pobres ou extremamente pobres.
O contato da família da Danielle Moura foi retirado da reportagem após ela e a família receberem ajuda de dezenas de pessoas que se comoveram com a história.