Queda de barragem em minas

Minas Gerais Metais pesados ultrapassam limite em três cidades cortadas pelo rio Doce

Metais pesados ultrapassam limite em três cidades cortadas pelo rio Doce

Já em Valadares, novo laudo mostra que água não estaria contaminada 

  • Minas Gerais | Felipe Rezende, do R7, em Belo Horizonte

Sem respostas concretas da Samarco sobre a qualidade da água atingida pela lama de rejeitos liberada da barragem do Fundão, em Mariana, a população que dependia do rio Doce recebe a cada dia um estudo que mostra a contaminação do leito.  

Desta vez, o Igam (Instituto Mineiro de Gestão das Águas) aponta que a concentração de metais pesados ultrapassou o limite aceitável em três cidades cortadas pelo rio Doce. A bacia foi tomada pela enxurrada de rejeitos que percorre 700 km até a foz do rio, no Espírito Santo.

De acordo com o Igam, as coletas começaram no dia 7 de novembro, dois dias após a tragédia, em 13 pontos do percurso. No dia 8 foi registrada alta concentração de arsênio, cádmio, chumbo, cromo e níquel entre os municípios de Marliéria e Belo Oriente. Em Rio Casca, o instituto verificou nível acima do limite legal de cobre e mercúrio. O cobre dissolvido também ultrapassou a contagem permitida em Belo Oriente.

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O Igam não quis divulgar as concentrações dos metais pesados na água, por isso não é possível afirmar quão prejudicial ela é para a saúde - especialistas garantem que os prejuízos são verificáveis a longo prazo, já que o organismo humano não sintetiza as substâncias, que vão se acumulando nos órgãos. Pela segunda vez, o Igam alegou que "está tendo muito cuidado ao informar os dados sobre a qualidade da água no rio Doce" e que os números isolados serão divulgados "após a comparação dos resultados obtidos até o momento e a realização dos relatórios definitivos".

Funed garante qualidade da água

Já em Governador Valadares, cidade de 280 mil habitantes que ainda sofre com a falta de água mesmo após ter normalizado a captação do recurso, um novo laudo da Funed (Fundação Ezequiel Dias), ligada ao governo do Estado, mostra que a lama encontrada no rio Doce na altura do município não é tóxica.

O estudo indica que não há concentração de mercúrio, cádmio, arsênio ou chumbo. Outros metais, como ferro dissolvido, manganês e alumínio dissolvido, foram encontrados em níveis considerados elevados, mas menores do que os da última análise. Conforme a prefeitura da cidade, as três substâncias são retiradas da água com o tratamento com polímero de acácia negra antes de chegar à torneira dos moradores. A água coletada pela Prefeitura de Baixo Guandu (ES) próximo a Valadares, na última semana, mostrou contaminação por metais pesados, o que segundo a Funed não ocorreu nas últimas amostras. 

Análise independente

Para esclarecer se a lama já desceu o leito do rio Doce contaminada ou se ocorreu alguma reação química no caminho, cientistas de várias partes do Brasil organizaram um grupo para analisar de forma independente as amostras de água. O Giaia (Grupo Independente de Análise do Impacto Ambiental) já arrecadou R$ 51 mil em financiamento colaborativo pela internet. 

Em nota, o Igam explicou que os metais pesados são constituintes naturais do meio ambiente, pois estão presentes em numerosos minerais e rochas. Muitos desses elementos são pouco solúveis e permanecem aderidos aos sólidos, sem se misturar à água. A solubilidade de todos os metais depende muito do valor de pH e do potencial de oxirredução do meio, sendo que a diminuição do pH da água pode proporcionar a liberação desses elementos do meio sólido para água.

O pH dos pontos analisados não apresentou variação, o que o instituto considera "um fator positivo para a não dissolução desses metais na água".

Samarco não comenta

A reportagem do R7 questionou a Samarco mais uma vez sobre os estudos das amostras coletadas pela própria empresa, mas ainda não obteve respostas após 13 dias. Em comunicados no site e em entrevistas de executivos desde o dia do rompimento, a mineradora, que é controlada pela Vale e pela BHP, reforçou que a enchente de lama não continha rejeitos tóxicos para seres humanos, apenas material inerte em compostos de areia.

A mineradora não divulgou qualquer laudo, até o momento, que ateste a qualidade da água. A Vale também não se manifesta sobre o assunto. 

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