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MG tem capacidade de atender 12% dos casos graves de covid em UTIs

Estudo da Secretaria de Saúde prevê necessidade de 5.515 leitos, em 12 de abril; das 3.096 unidades intensivas de Minas, apenas 658 estão desocupadas

Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7

Falta de UTIs pode aumentar número de mortes, diz médico
Falta de UTIs pode aumentar número de mortes, diz médico

Os hospitais de Minas Gerais têm capacidade de atender apenas 12% do total de pacientes em estado grave infectados pelo novo coronavírus durante o pico de internações provocadas pela doença, por volta de 12 de abril. Um grupo de 12 pessoas a cada 100 em risco de vida.

O R7 teve acesso a um estudo da Diretoria de Atenção Hospitalar e de Urgência e Emergência, da Ses (Secretaria Estadual de Saúde), que prevê uma demanda de 5.515 leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), para um pico de aproximadamente 143 mil infectados no Estado, neste mês.

De acordo com dados oficiais do Governo, Minas tem atualmente 3.096 unidades para os atendimentos complexos, sendo que 2.438 (78,76% do total) já estão ocupadas. Os números mostram que restam hoje 658 leitos para atender a demanda de covid-19 indicada no relatório, caso nenhum destes quartos sejam ocupados por pacientes com outras doenças até lá. Assim, seria necessária a criação de 4.857 pontos de atendimento para casos graves.

No último dia 27 de março, a Ses enviou uma mensagem contendo um balanço da situação à Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), responsável por administrar nove hospitais públicos do Estado. No documento, consta a informação que "tais análises contribuirão para as definições de ampliação da capacidade instalada nas principais Unidades da Fhemig que darão resposta à pandemia de covid-19”.


Um outro estudo assinado pelo secretário de Vigilância em Saúde do Governo Federal, Wanderson Kleber de Oliveira, e por pesquisadores da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, entregue à Secretaria de Saúde de Minas, nesta sexta-feira (3), confirma o colapso no sistema.

As análises dos pesquisadores indicam esgotamento de UTIs para a região de Belo Horizonte a partir de 13 de abril e o de enfermarias e respiradores mecânicos para as semanas seguintes.


Dados preocupantes

Projeção mostra pico de internações em 12 de abril
Projeção mostra pico de internações em 12 de abril

O médico Jean Gorinchteyn, do Hospital de Infectologia Emílio Ribas, referência nacional na especialidade, considera a defasagem preocupante. O infectologista explica que os pacientes com sintomas mais severos da covid-19 costumam ter o sistema respiratório afetado e, por isto, precisam da ajuda dos equipamentos, como respiradores, medidores de batimentos cardíaco e de pressão, que são encontrados apenas nas UTIs. Para Gorinchteyn, a falta do atendimento completo coloca a vida do paciente em risco.


— É o que está acontecendo na Itália, Espanha e Nova Iorque. O paciente tem uma fadiga respiratória, desenvolve uma insuficiência, não é atendido e morre.

No caso dos doentes que apresentam sintomas mais simples e precisam ser internados, a hospitalização pode acontecer em leitos básicos, onde muitas vezes o tratamento é de baixa complexidade.

Segundo o relatório da Saúde ao qual a reportagem teve acesso, 14.420 pessoas infectadas pelo coronavírus vão precisar deste tipo de atendimento em Minas no dia 11 de abril. Considerando que o Estado tem 16.386 enfermarias públicas e privadas, estando 9.831 (60%) ocupadas, restariam 6.555 unidades para atender os pacientes com covid-19. Seria, ainda, necessária a criação de outros 7.865 leitos.

Capacidade dobrada

Documento do Governo mostra cenário de leitos
Documento do Governo mostra cenário de leitos

A Fhemig, os hospitais de campanha e o investimento de verbas em unidades do interior aparecem como promessas para o alívio do gargalo que pode se formar no Estado caso as previsões da Ses se concretizem.

Segundo as medidas já anunciadas pelo poder público, 3.017 UTIs devem ser criada nas próximas semanas, o que representa quase o dobro da capacidade atual.

Um centro hospitalar provisório está sendo montado em um espaço de convenções, na região Oeste de Belo Horizonte. Segundo a pasta, o local vai contar com 800 enfermarias básicas e com 100 UTIs, que devem começar a funcionar até o final de abril.

O Governo de Minas informou ao R7 que o Estado tem 2.589 leitos com potencial de serem transformados em espaços de tratamento intensivo. Já a Fhemig divulgou que o plano de resposta à covid-19, atualizado nesta terça-feira (31), prevê a criação de 328 unidades para casos graves e 397 enfermarias até maio nas nove unidades que são administradas pela rede. A Fundação promete, ainda, dedicar outros 173 leitos simples para atender exclusivamente pacientes com coronavírus.

Leia também: OMS vê aumento de casos de coronavírus entre jovens

A prefeitura de Belo Horizonte também analisa fazer um hospital de campanha no estádio Mineirão, mas ainda não foi divulgado o número de leitos previstos para o local e nem quando isto deve acontecer.

Somadas todas as UTIs anunciadas, caso elas fosse motandas até o próximo dia 12, o déficit reduziria de 4.857 para 1.840. Em relação aos leitos de enfermaria, somando todas as unidades prometidas, a defasagem cairia de 7.865 para 6.495.

A Ses também destacou que estão sendo destinados R$ 164 milhões para ajudar hospitais e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) do interior para uma possível sobrecarga nos atendimentos.

Cenários voláteis

Procurado pela reportagem, o Governo de Minas justificou que os cenários calculados sobre as contaminações podem mudar em um curto espaço de tempo e alegou que já foram publicadas outras projeções para o Estado, “de diversas fontes” e com “metodologias e cenários diferentes”.

Questionada se o número de leitos de enfermarias e UTIs disponíveis seriam suficientes para atender as demandas previstas, a Secretaria de Saúde respondeu que “em todo o mundo, caso não haja medidas de restrição de contato social, não existem leitos suficientes, principalmente de terapia intensiva, para o atendimento dos casos graves”.

O Executivo Estadual ressaltou, ainda, que os esforços para combater a pandemia devem acontecer de diferentes setores, incluindo o privado.

“O esforço para a ampliação de leitos deve ser feito por todos os atores, Ministério da Saúde, Secretarias de Estado, Operadores de Planos de Saúde e gestores municipais”, destacou o Governo de Minas.

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