Minério de ferro é responsável por 60% do superávit comercial de MG
Queda de produção e, consequentemente, da exportação da commoditie poderia causar prejuízos para empresas em mais de 250 municípios
Minas Gerais|Lucas Pavanelli, do R7
Escoado principalmente por meio de ferrovias até os portos do Espírito Santo e Rio de Janeiro, de onde é levado para países como a China, o minério de ferro extraído das minas dos mais de 250 municípios produtores de Minas Gerais é responsável, sozinho, por 60% do saldo positivo da balança comercial do Estado.
Em 2018, a diferença entre exportações e importações foi positivo em US$ 14,9 bilhões. Minas Gerais exportou US$ 23,9 bilhões e importou US$ 9 bilhões. Somente o minério de ferro é responsável por US$ 6 de cada US$ 10 desse superávit.
O restante é dividido entre uma série de produtos básicos e semimanufaturados, como o café em grãos, carne bovina e de frango, soja, celulose, açúcar, dentre outros, que não tem o mesmo peso do minério para a economia do Estado. Os dados são do Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços.
Essa conta dá dimensão do impacto causado por uma queda brusca da produção de minério de ferro em Minas Gerais e, consequentemente, das exportações. Apesar da tragédia de Brumadinho, onde uma barragem da mineradora Vale se rompeu em 25 de janeiro deste ano e deixou mais de 300 vítimas, até o momento não é possível afirmar que o Estado perdeu em exportações da commoditie.
Ao contrário, os dados mostram que nos dois primeiros meses do ano, as exportações de minério de ferro somaram US$ 1,26 bilhão, cifra 16% maior que o US$ 1,08 bilhão registrado no mesmo período do ano passado.
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No entanto, uma série de decisões judiciais e medidas preventivas adotadas pelas empresas mineradoras desde a tragédia em Brumadinho mostram que a produção de minério pode ficar aquém do previsto em 2019. Somente a Vale já teve mais de 10 minas com atividades suspensas até o momento e calcula em mais de 80 milhões de toneladas o potencial prejuízo nessas unidades ao longo do ano, o que representa nada menos que 20% da produção mundial da mineradora.
A Amig (Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais) estima que uma eventual paralisação das atividades da Vale no Estado acarretaria um impacto de R$ 7,7 bilhões na balança comercial no ano, o que representa cerca de um quinto do valor total de minério de ferro exportado por todas as mineradoras do Estado.
A dependência da mineração como principal pilar de sustentação da economia em Minas Gerais deixa o Estado à mercê de eventuais crises no setor. Professora e pesquisadora da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Débora Freire, a dependência da mineração fica ainda mais clara em situações como essa.
A professora realizou um estudo para analisar os eventuais impactos da paralisação de algumas barragens no Estado e aponta, como possível solução para reduzir a dependência do setor, o estímulo a uma diversificação da economia.
— Nós poderíamos usar o Cfem para criar fundos de investimentos para que outras atividades econômicas sejam incentivadas, assim como já ocorre em outros países.
Com isso, de acordo com a professora, a mineração seria responsável por estimular um futuro em que ela não seria tão determinante para a economia mineira.