MPT pede R$ 3,6 bilhões em multas e indenizações trabalhistas à Vale
Tragédia é considerada maior acidente de trabalho da década pela OIT com mais de 300 vítimas; procuradores pediram R$ 5 milhões para cada família
Minas Gerais|Lucas Pavanelli, com Clara Mariz*, do R7
![MPT entrou com ação civil pública contra a Vale](https://newr7-r7-prod.web.arc-cdn.net/resizer/v2/264RZUEHPFOJVC6I3V766CSD3E.jpg?auth=3ad1e249c13f2d41302dd3b5bbfb82c4977621a315a708268ba9ce7f44c9a82d&width=1152&height=864)
O MPT (Ministério Público do Trabalho) em Minas Gerais pediu à Justiça que a Vale seja condenada a pagar R$ 3,6 bilhões em multas e indenizações pela responsabilidade no rompimento da barragem 1 da Mina Córrego o Feijão, em Brumadinho, em 25 de janeiro deste ano.
Considerada a maior tragédia trabalhista da década pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), a tragédia resultou na morte e desaparecimento de mais de 300 pessoas, trabalhadoras diretas ou terceirizadas da mineradora.
Os procuradores do MPT apresentaram nesta terça-feira (26), uma ação civil pública com 19 pedidos de condenação à Vale. Dos R$ 3,6 bilhões pedidos na ação, o órgão pede bloqueio de mais R$ 2 bilhões (além do que já foi determinado pela Justiça). Também entram na conta o pagamento de R$ 5 milhões em indenizações para cada núcleo familiar atingido pelo acidente.
De acordo com o procurador do trabalho Geraldo Emediato de Souza, a "conduta irresponsável e negligente da empresa exige, pelo menos na seara da Justiça do Trabalho, uma condenação exemplar".
— Nós estamos em um momento muito importante porque, depois de dois meses, as famílias ainda não receberam as reparações. Queremos uma reparação justa e adequada para todas as famílias e que não seja aquela proposta pela empresa.
Leia também
Paralisações da Vale em Minas Gerais podem deixar 65 mil pessoas sem emprego
Riscos em Barão de Cocais causam bloqueio de mais R$ 2,95 bi da Vale
Prefeito de Mariana decreta estado de calamidade financeira
Brumadinho: polícia tem indícios de homicídio com dolo eventual
Simulação de rompimento de barragem alerta cidade de Minas
Confira os 19 pedidos de condenação do MPT à Vale por problemas trabalhistas:
1) Não dispensar qualquer trabalhador próprio, cujo contrato de trabalho estava em vigor no dia do rompimento da barragem, e manter o contrato em vigor por um prazo de três anos;
2) Não transferir ou alterar o contrato de trabalho em vigor no dia do rompimento da barragem;
3) Não rescindir os contratos de prestação de serviços ou fornecimento de mão-de-obra envolvidos no funcionamento e mantendo os contratos firmados com as empresas contratadas até aquela data;
4) Custear o acompanhamento médico e psicológico individual de livre escolha para cada trabalhador sobrevivente;
5) Custear o acompanhamento médico e psicológico individual de livre escolha para as famílias dos empregados e terceirizados da empresa;
6) Custear o atendimento médico especializado, que abrangerá questões relacionadas com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, ansiedade, abuso de álcool e de outras substâncias psicoativas, tratamento de doenças infecto contagiosas ou agravamento de doenças crônicas ocasionado pelo desastre, de todos os trabalhadores, próprios e terceirizados, e membros de suas famílias;
7) Ressarcir integralmente o custeio do atendimento médico e psicológico das famílias e dos trabalhadores até que a empresa implemente serviço de atendimento e tratamento para os beneficiários;
8) Emitir a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) para todos os empregados próprios da unidade de Brumadinho;
9) Determinar às empresas prestadoras de serviço que façam a emissão da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) a todos os empregados vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho;
10) Quitar a multa de 40% incidente sobre o saldo de FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) para todos os trabalhadores falecidos e desaparecidos no desastre;
11) Custear integralmente a publicidade das obrigações previstas nos acordos parciais preliminares, liminares e sentença/acórdãos, bem como das medidas e formas de acesso dos benefícios aos direitos assegurados, através de publicação de extratos no site, treinamento de atendentes e custear publicação em meios de comunicação;
12) Prosseguir com o pagamento de salários aos parentes e familiares dos trabalhadores desaparecidos;
13) Pagar todas as despesas com funerais e tomar as providências necessárias para a sua realização;
14) Pagar o seguro acidente, auxílio-creche e auxílio-educação
15) Pagar pensão vitalícia para os dependentes legais de empregados próprios ou terceirizados, incluindo reflexos em 13º salário, férias, horas extras e adicionais habituais previsto em norma coletiva e no regulamento empresarial;
16) Requer que a Justiça fixe um valor provisório para o pensionamento mensal dos dependentes;
17) Requer que a empresa pague danos morais individuais de, no mínimo, R$ 5 milhões para cada grupo familiar de empregados próprios e terceirizados;
18) Requer que a empresa pague dano moral coletivo e social do valor de R$ 2 bilhões;
19) Requer que a empresa pague indenização suplementar no valor de 1% do seu faturamento bruto em 2018 por dumping social.
Procurada pela reportagem, a Vale informou que não foi notificada sobre a ação do MPT.
* estagiária do R7, sob orientação de Lucas Pavanelli