Número de casos de covid-19 em Minas pode ser 1.500% maior
Estudo da UFMG e UFOP mostra que número real de infectados pode chegar a 56 mil no Estado; para cada caso confirmado, outros 16 não são notificados
Minas Gerais|Luíza Lanza*, do R7
Um estudo realizado pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e a UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto) aponta que Minas pode ter 16 vezes mais infectados pelo novo coronavírus do que registram os dados oficiais.
Na terça-feira (12), quando a pesquisa foi divulgada, eram 3.435 casos confirmadospelo Governo de Minas. Mas o estudo, realizado pelos professores Leonardo Costa Ribeiro, da Face (Faculdade de Ciências Econômicas) da UFMG e Américo Tristão Bernardes, do Departamento de Física da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), demonstrou que há 16,5 casos da covid-19 para cada um confirmado oficialmente.
Nessa previsão, o número de infectados em Minas, na terça-feira, estaria perto de 56 mil.
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A subnotificação do Estado supera em mais de quatro vezes a do Brasil: de acordo com o trabalho, a proporção no país é de 3,8 pessoas com a doença para cada caso registrado. Há cerca de um mês, quando os pesquisadores divulgaram a primeira edição do estudo, o cálculo indicava subnotificação de 7,7 vezes no plano nacional.
Subnotificação
O pesquisador Leonardo Ribeiro explica que, no período de 12 de abril a 10 de maio, houve elevação significativa da testagem para a covid-19 no Brasil. Há um mês, eram realizados 296 testes por milhão de habitantes, e, há dois dias, foram feitos 1.597 testes por milhão.
— Isso explica, em parte, a redução da subnotificação no país. Enquanto isso, Minas Gerais testa muito pouco. Com 476 testes por milhão de habitantes, está muito atrás, por exemplo, do Amazonas e do Distrito Federal, com 1.600 testes.
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Ele ressaltou, ainda, que as dificuldades enfrentadas para testagem estão relacionadas a infraestrutura laboratorial, mão de obra, aquisição dos testes e logística. Oitavo país com maior número de contaminados, o Brasil ocupa a 27ª posição em testagem por milhão de habitantes entre os 30 mais afetados pela Covid-19.
Síndrome Respiratória Aguda Grave
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Um dos fatores que pesaram nos cálculos durante a pesquisa foi a quantidade de hospitalizações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave). De acordo com Ribeiro e Bernardes, Minas Gerais tem, entre os estados brasileiros, o terceiro maior número de internações por SRAG, mas aparece apenas na 11ª posição na lista dos casos confirmados de covid-19.
— Consideramos que a combinação de alto número de hospitalizações pela síndrome com números baixos de testes e casos confirmados seja indício de que há grande subnotificação nos registros oficiais
Um levantamento do R7 Minas mostrou que as mortes causadas por doenças respiratórias aumentaram 763% neste ano: a SES-MG registrou, entre janeiro e abril, 855 óbitos por SRAG. A média da última década foi de 99 mortes no mesmo período.
*Estagiária do R7 sob a supervisão de Lucas Pavanelli