Repórter do R7 relata desolação e medo 7 dias após tragédia em MG
Enviado ao local da tragédia destaca a solidariedade da população, que distribui de água e comida a abraços, e a incansável jornada do resgate
Minas Gerais|Márcio Neves, enviado do R7 a Brumadinho (MG)
Cheguei a Brumadinho na noite de sábado (26), um dia após o rompimento da barragem da Vale na cidade e que, uma semana depois, já deixa mais de uma centena de mortos e outros tantos desaparecidos. Cada passo da cobertura jornalística ao longo dessa semana é acompanhada de momentos de respirar fundo e tentar contar aqui no R7 os detalhes dessa tragédia.
Não são dias fáceis, já que também sou mineiro. Até o sotaque, perdido depois de mais de duas décadas vivendo em São Paulo, reapareceu. Uma amiga certa vez me disse que a língua materna, aquela que aprendemos com nossos pais e, por consequência, o sotaque e as gírias sempre vêm a tona em momentos de tensão. Talvez explique.
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Não houve um dia em que circulei pela cidade, parei para almoçar ou simplesmente para comprar uma água, em que não ouvi moradores lamentarem a perda de “chegados” — como nós mineiros nos referimos aos conhecidos — ou mesmo de parentes, quando não de filhos ou filhas desaparecidos e, alguns, mortos.
Em um restaurante na última quinta-feira, duas senhoras, irmãs e proprietárias do local, sem saber que eu era jornalista, resumiram bem o que vejo em cada canto dessa cidade. “Tá todo mundo cabisbaixo, chateado, tá tudo tão triste e não há outro assunto na cidade”.
Além do clima de tristeza, o medo também acompanhou a rotina de todos nós aqui no domingo, quando as sirenes de emergência da Defesa Civil tocaram. No auto-falante, pediam que as pessoas deixassem suas casas para procurar um local alto e seguro, pois uma segunda barragem poderia se romper.
Em minutos, pulei da cama, me vesti e fui ver o que acontecia. Decidi ligar para a Polícia Militar, já que o telefone da Defesa Civil dava sinal de ocupado. Logo veio a confirmação de que precisaria deixar o hotel imediatamente e buscar um local seguro. Foi o que fiz. Logo enviei uma reportagem relatando essa emergência, mas com medo e receio do que poderia acontecer nas próximas horas daquele dia.
Por fim, o alarme foi preventivo e, apesar de uma manhã de ruas fechadas e circulação restrita em toda a cidade e, até mesmo, com as buscas suspensas, logo tudo voltou à “normalidade do pós-desastre” — se é que é possível usar a palavra "normalidade" nesse contexto.
Houve também o momento de se emocionar. Ao acompanhar o velório de uma das vítimas e ver os gritos de dor e desespero de familiares, que perderam alguém tão querido precocemente, as lágrimas encheram os olhos e todo o trabalho me pareceu muito mais difícil de ser feito.
Para encerrar, não se pode deixar de falar da solidariedade que se espalhou por essa cidade. Em todo canto, há gente tentando ajudar, seja com um copo d'água, com um prato de comida, com um abraço ou com uma palavra amiga.
Em paralelo à solidariedade, tem sido impressionante ver o trabalho das equipes do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, que incansavelmente, mesmo diante de problemas financeiros como o atraso de salários, não para um segundo de fazer as buscas, logo reforçadas por colegas de vários Estados e até mesmo outros países.
Vídeo resume uma semana de buscas após a tragédia