UFMG tem pesquisa para criar vacinas contra dengue que podem ser 50% mais baratas que a atual
Universidade pode dar vida a novos imunizantes, com tecnologia 100% brasileira; país tem 418 mil casos confirmados da doença
Minas Gerais|Pablo Nascimento, do R7
Duas novas vacinas contra a dengue, com tecnologia 100% brasileira, podem sair de Minas Gerais — estado com a segunda maior incidência da doença este ano.
Os projetos são desenvolvidos pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Os imunizantes podem custar até 50% menos que a vacina importada usada no Brasil atualmente.
Os projetos são coordenados pelo CT Vacinas, o mesmo grupo responsável pela vacina Spin-Tec, que combate a covid-19 e deve ser o primeiro imunizante nacional contra a doença.
Uma das pesquisas para o medicamento contra a dengue usa um vetor viral para produzir respostas imunológicas aos quatro sorotipos do vírus. A estratégia é parecida com a tecnologia da vacina Astrazeneca contra o coronavírus.
O professor Flávio Guimarães, pesquisador do CT Vacinas, avalia que a vantagem dos imunizantes brasileiros, caso bem-sucedidos, vai além do custo.
"Tem uma segunda vantagem que é até melhor que o custo. Atualmente estamos vacinando somente crianças e adolescentes pelo SUS [Sistema Único de Saúde] porque a produtora da vacina QDenga não tem capacidade de produzir todo volume que precisamos. O mundo todo está dependendo desta empresa", reforçou sobre a possibilidade de se ampliar a produção.
O projeto com vetor viral começou a ser desenvolvido em 2010 e foi pausado em 2014 por falta de investimento. A pesquisa foi retomada no ano passado após a liberação de novos recursos públicos.
"Participamos de uma chamada que não era especificamente para a dengue. Era para doenças negligenciadas e nós ganhamos para o projeto da dengue. Esses investimentos são resultado de uma realidade que vivemos na pandemia, que mostrou a necessidade de investimento em imunizantes nacionais. É um legado", avalia Guimarães.
A pesquisa do professor está na chamada fase pré-clínica, onde testes são realizados em camundongos. A iniciativa está na mesma etapa do outro projeto da UFMG, que usa a tecnologia de RNA mensageiro, produzido para provocar resposta imunológica.
A segunda pesquisa foi iniciada em 2022. A responsável é Sarah Rodrigues Sérgio, biomédica pela UFMG e mestranda do programa de bioquímica e imunologia da universidade. A jovem de 25 anos conta com o apoio de outras cinco pessoas para executar o trabalho.
"A dengue é uma das arboviroses que mais afeta a população atualmente. A doença afeta muitas pessoas e eu sempre quis trabalhar com vírus e imunologia", comentou Sarah sobre a escolha do tema da pesquisa.
Segundo Flávio Guimarães, os testes em camundongos devem ser concluídos até o fim do ano em ambos os projetos, mas já apresentam resultados satisfatórios.
Caso os medicamentos sejam considerados eficazes, as avalições vão evoluir, chegando até humanos. Os testes finais, no entanto, vão depender do resultado de outro projeto.
"Estas vacinas são um plano B para a vacina do Butantan, que está prestes a ser concluída. Se a do Butantan tiver sucesso, não faz sentido investir em outra pesquisa, mas a OMS [Organização Mundial da Saúde] sugere que tenhamos mais de um modelo de vacina em teste para doenças estratégicas", explica Flávio Guimarães.
Balanço da dengue
Dados do Ministério da Saúde apontam que 184 pessoas morreram vítimas de dengue no Brasil até esta segunda-feira (26). Outros 609 óbitos estão em investigação.
O diagnóstico positivo para a doença já foi confirmado para 418.933 pessoas este ano. Os casos prováveis, que incluem os confirmados e os em investigação, somam 920.427. A incidência média da doença no país é de 453,3 casos a cada 100 mil habitantes.
O Distrito Federal tem a maior incidência: 3.484,8 casos a cada 100 mil habitantes. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 1.515,8. A terceira posição é do Acre, com 828,7.
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