Como funcionam as investigações de um acidente aéreo?
Diante da tragédia com a cantora Marília Mendonça, o MonitoR7 falou com o órgão responsável pelas análises de um incidente de aviação para explicar o passo-a-passo de uma investigação de acidente aéreo
MonitoR7|Do R7

O Brasil, nos últimos anos, foi cenário de algumas quedas de aviões comerciais. Os acidentes, em sua maioria, são fatais. Além do luto ficam as dúvidas: como prevenir esse tipo de incidente? Falta preparo do piloto ou revisão das aeronaves? O que as instituições de controle podem fazer?
A Força Aérea Brasileira (FAB) tem um departamento especializado na análise desses casos. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA), como o nome já diz, é o órgão responsável por prevenir e investigar todos os tipos de incidentes aéreos.
De acordo com o site oficial do CENIPA, a investigação é o processo realizado com o propósito de prevenir novos acidentes e que compreende a reunião e a análise de informações e a obtenção de conclusões. Esse trâmite inclui ainda, a identificação dos fatores contribuintes para a ocorrência, visando a formulação de recomendações sobre a segurança.
Além disso, o Centro afirma não trabalhar com "causas" de um acidente desse tipo. Na realidade, os profissionais envolvidos entendem que existe "uma série de fatores contribuintes que possuem o mesmo grau de influência para a culminância do acidente".
Em relação às etapas do processo investigativo, o MonitoR7 entrou em contato com o CENIPA, que explicou o funcionamento completo da investigação de um acidente aéreo.
Primeiros passos
De acordo com o protocolo da Organização de Aviação Civil Internacional (OACI), todo acidente aeronáutico deve ser investigado. Para isso, o CENIPA mantém sete unidades de investigação distribuídas em todo o país de maneira estratégica. O SERIPAS (Serviços Regionais de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) são extensões do CENIPA e são responsáveis por atender as ocorrências de cada região.
Ao ser acionada, uma equipe de investigadores vai ao local para começar o processo. A primeira etapa é chamada de ação inicial e a agilidade é essencial nesse primeiro momento, para que a área do acidente seja preservada e as evidências não sejam comprometidas. Nessa fase, é realizada a coleta de dados, indícios e entrevistas com testemunhas e sobreviventes.
No vídeo disponibilizado pela FAB e enviado ao MonitoR7, o Major Daniel Duarte, especialista em prevenção da CENIPA, fala sobre o que é analisado e averiguado nesse momento: "Desde habilitações do piloto, condições da aeronave, do motor, combustível, condições metereológicas". Além disso, o major afirma que toda a parte de comunicação, tanto interna quanto externa, é usada para constituir o que aconteceu dentro da aeronave nos momentos finais antes do acidente.
Equipe
Toda investigação é conduzida pelo investigador encarregado. A equipe é composta por profissionais de diversas áreas e varia conforme a complexidade de cada caso. Podem estar envolvidos desde engenheiros aeronáuticos e especialistas da Agência Nacional de Tráfego Aéreo (ANAC) até médicos e psicólogos, já que estes avaliam as condições humanas dos tripulantes.
A psicóloga do CENIPA, Tenente Karynne Bayer, revela que o trabalho psicológico é feito com todos os personagens envolvidos no contexto do acidente. "Não somente os tripulantes envolvidos [...] familiares de vítimas, pessoal da manutenção, controle de tráfego aéreo, visita à empresa da aeronave, entrevista com o proprietário da aeronave, enfim, diversos elementos."
Caixa preta
A caixa preta é um dos itens mais fundamentais na investigação. Apesar do nome, a caixa é, na realidade, laranja, já que essa cor facilita a identificação do objeto em áreas extensas ou com grande destruição. O equipamento é um gravador que pode registrar informações como os áudios dos pilotos na cabine ou os dados dos comandos executados pela aeronave durante o voo. É fabricada com material resistente e foi feita para suportar altos impactos, calor e até pressões em águas profundas.
Cada avião possui um tipo de caixa preta: as comerciais de grande porte precisam ter gravador de voz e registros dos comandos, já em aeronaves de pequeno porte é exigido que tenha pelo menos um desses componentes. Alguns veículos, no entanto, nem possuem o equipamento. O acesso às informações é complexo e é feito no laboratório especializado em leitura e análise de dados de gravadores de voo da Força Aérea. O LABDATA é o único a oferecer o serviço na América Latina.
Após o download das informações coletadas com a caixa preta, os dados são encaminhados para o encarregado da investigação que, a partir desse material, pode simular as situações apresentadas pelo equipamento, com a ajuda de softwares.
Prazos
Renunindo as informações sobre a aeronave, a tripulação e as condições nas quais o voo era realizado, a equipe começa a elaboração do relatório final. O CENIPA afirmou que não existe prazo padrão para concluir uma investigação. "A conclusão das investigações terá o menor prazo possível, dependendo sempre da complexidade de cada ocorrência e, ainda, da necessidade de descobrir os fatores", diz a nota.
Após a conclusão do trabalho, o CENIPA divulga o relatório da investigação em seu site oficial. Depois, são disponibilizadas as recomendações de segurança para a comunidade aeronáutica. A investigação do Centro não tem como propósito apontar "culpados" pelo acidente, já que "objetivo das investigações realizadas [...] é prevenir que novos acidentes com características semelhantes ocorram", como afirma o CENIPA em nota.
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