Propagação de conteúdos falsos coloca em risco o direito à vida
Movimentos que estimulam a desinformação mancham a reputação das vítimas e podem incitar casos de violência
MonitoR7|Do R7, em Brasília
A disseminação de notícias falsas tem se tornado algo cada vez mais corriqueiro e a facilidade que esses conteúdos têm para serem absorvidos pela sociedade coloca em risco a vida de quem é alvo de fake news.
"A desinformação virou um instrumento para promover violência contra indivíduos e grupos de pessoas. Ela deixou de ser uma ameaça simbólica para o regime democrático e cada vez mais tem sido usada como ferramenta para violentar pessoas e ameaçar o direito à vida, o maior de todos os direitos", analisa o coordenador executivo de jornalismo e liberdade de expressão do Instituto Vladimir Herzog, Giuliano Galli.
Segundo ele, a indústria da desinformação opera a partir dos sentimentos que uma notícia pode despertar em determinado indivíduo e, dessa forma, a reação de quem tem acesso a esse conteúdo é de sempre julgar a vítima, sem se importar se a informação é mentirosa.
“Os conteúdos gerados pela indústria da desinformação servem, principalmente, para difamar reputações e biografias de pessoas. Com isso, há pessoas no Brasil todo que são vítimas de violência por causa de desinformação, sendo perseguidas, violentadas e ameaçadas”, alerta Galli.
Importância do jornalismo profissional
As notícias falsas circulam 70% mais rápido do que as verdadeiras, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quando a notícia falsa trata de política, a transmissão é ainda mais intensa, de acordo com a corte. Um dos caminhos para combater a desinformação de qualquer segmento, na avaliação de especialistas, é o jornalismo profissional e as diversas ferramentas do setor, como a checagem de fatos.
A checagem é um dos caminhos mais seguros para provar que uma notícia é falsa ou verdadeira. Esse é um setor que ganha espaço à medida que se aumenta o combate às fake news. Um exemplo é o MonitoR7.
Para o advogado e cientista política Nauê Bernardo Azevedo, a mentira é uma artimanha do debate público e é usada desde sempre, mas hoje há meios mais rápidos, como as redes sociais, para que ela se espalhe. A tarefa da imprensa é fundamental para frear a desinformação e passa por transparência sobre a agenda do veículo de notícias, uso responsável do sigilo de fonte e cuidado na apuração, avalia o especialista.
"A mídia profissional carrega um papel muito importante de contribuição na busca pela verdade. No entanto, diante de um contexto no qual o conceito de verdade está em ampla disputa pública, cabe à imprensa profissional o uso de extrema ética como um freio no processo de viralização da mentira”, defende Nauê.
"O que diferencia as fake news de erros jornalísticos é a intencionalidade; quem criou a informação falsa tinha um propósito", explica a doutora e professora de comunicação Luísa Guimarães.
Segundo a educadora, existe uma tendência das pessoas de divulgar aquilo que parece ser verdade. "'Eu achei estranho, mas é melhor compartilhar.' Na maior parte das vezes as pessoas divulgam aquilo que está dentro do viés de confirmação [do que elas acreditam]", disse.
Luísa destaca a necessidade do acesso à educação midiática. "Isso deveria ser democratizado, as escolas deveriam capacitar o cidadão para isso. Informação é poder”, disse.