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O assédio nosso de cada dia. Ou a angústia das mulheres no metrô

Pesquisa revela que as mulheres têm medo da violência no transporte público. E essa informação diz muito a respeito de nós homens

|Celso Fonseca, do R7

Manifestação contra a estupidez masculina
Manifestação contra a estupidez masculina

Por mais que hajam políticas afirmativas, manifestações nas ruas, largos trabalhos de conscientização e até campanhas públicas, a violência contra a mulher se cristaliza no Brasil como um câncer de devastadoras metástases. Incontido e repulsivo.

Pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo, entre tantas já divulgadas do gênero, desnuda a situação da mulher no transporte público da maior cidade do Brasil: quatro em cada dez mulheres consideram um lugar inóspito para frequentar, porque é lá, no metrô e no ônibus, onde dizem correr mais risco de sofrer algum tipo de assédio.

Mulheres – na sua maioria jovens e negras – apontam o lugar em que, por razões óbvias não podem evitar a não ser que escolham viver num claustro do medo – como o mais perigoso em seu dia a dia. A agressão de homens em metrôs e ônibus fere o direito básico de se locomover, seja para o trabalho, a escola, o cinema, a casa dos amigos. Em última instância, limita o direito à vida. 

Se você entra num ônibus, metrô ou trem sentindo-se na iminência de sofrer algum tipo de constrangimento há algo de muito podre no Brasil. Os gestores de transporte público da cidade tem que proteger suas usuárias com todas suas forças possíveis, sem tréguas, sem descanso. Uma mulher não pode deixar de sair de casa porque vai ser ameaçada por um homem. 


Além do abandono, a pesquisa propõe uma pergunta mais que necessára: por que os homens assediam as mulheres e continuam a fazê-lo sem tréguas? Por que ainda hoje uma atitude tão deslocada do que imaginamos como civilização continua a acontecer hora após hora, minuto após minuto.

Não há nada que possa legitimar tamanha selvageria, até quando seremos e agiremos como animais? Nós homens, precisamos melhorar o tempo todo, refletir o que falamos e pensamos. Gerações criadas sobre o permissivo machismo precisam entender que o mundo mudou, ainda bem, e não dá para repetir os erros do passado. Uma piada machista num grupo de whatsApp da família não deve ser aceito apenas como brincadeira, um gracejo inoportuno não deve ser tolerado. O homem precisa reaprender a seduzir, conquistar e ser, acima de tudo cúmplices de primeira hora. Se as gerações mais velhas não conseguirem o que parece tão simples, que os jovens nos salvem.

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