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A maestria do 'Acaso Casa' de Almério e Mariene de Castro

Sintonia musical entre Pernambuco e Bahia marcam trabalho de Almério e Mariene de Castro em disco recém-lançado

Folha de Pernambuco|Do R7

Sintonia musical entre Pernambuco e Bahia marcam trabalho de Almério e Mariene de Castro em disco recém-lançado
Sintonia musical entre Pernambuco e Bahia marcam trabalho de Almério e Mariene de Castro em disco recém-lançado

Aos adeptos do acaso, comecemos pela aleatoriedade de alguns encontros, a exemplo dos que promovem admirações recíprocas entre pessoas desconhecidas e que, a partir de então, tornam-se avessos um do outro, tal qual Almério e Mariene de Castro fizeram em um show no Rio (2017) e que, inevitavelmente, ganhou registro recente no disco “Acaso Casa”, produção que amplifica o talento já conhecido de ambos e encanta pelas pernambucanidades e baianidades musicais contidas em cada uma das dezenove canções.

"Acho que estrelas do céu dançaram e planetas se realinharam para esse encontro acontecer. É o que sinto, é muito forte. Mariene é como uma árvore gigante, com balanços fortes e lentos. O ser artístico dela falou com o meu ser artístico", deleita-se Almério, falando sobre a parceria. "Ele e eu, na verdade, estamos nos reencontrando. Uma conexão e sintonia lindas. Quando o vi cantar pela primeira vez, pensei: que bom, meu Deus, não estou mais só!", alegra-se a multiartista baiana, que no disco percorreu caminhos que a trouxeram de volta ao Nordeste. "Esse é nosso brejo, nosso interior. Tudo ali! Vivo! De verdade! Falando de duas almas nordestinas", completa Mariene.

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E como falaram. Cantaram. Bradaram. Viveram! Ora com solos, ora como dueto, o fato é que agraciar esse encontro é saudável a quaisquer ouvidos aptos a sentir as destrezas de voz e de corpo (e de alma) do brejeiro Almério, natural de Altinho, Agreste pernambucano. Particularmente entregue, como sempre, ele surge límpido, potente e assumidamente nordestino em sotaque e força quando reverbera "um blues para Luiz Gonzaga" em "Respeita Januário", poetizando, até, o "xingamento" de chamar o pai do Rei do Baião de "véi braboda febre tife"; ou quando não se exime em ser singular na memorável "Fala", composição de João Ricardo e Luhli e reluzida por Secos&Molhados.


Disco 'Acaso Casa'
Disco 'Acaso Casa'

"O repertório, assim como nosso encontro, ao acaso, surgiu muito natural. Eu, Juliano (Holanda), Mariene e José Maurício Machiline (diretor do show), fomos dizendo das canções que nos emocionavam e que a gente tinha vontade de cantar. A maioria levava para um lugar do interior, ela para a Bahia e eu para Pernambuco, que de onde vem nossa força", conta ele, que não hesita em dividir as memórias afetivas presentes no disco, com Mariene de Castro. "Tê-la junto, foi mais incrível ainda porque ela soma no palco. A gente se observa um ao outro, com noção de espaço cênico, tudo para a música acontecer."

E aconteceu. Em "Pau de Arara", composição de Guio de Morais e do 'Velho Lua', e singularmente interpretada no disco, assim como em "Boiadeiro", música de Armando Cavalcanti e Klecius Caldas, imortalizada também por Luiz Gonzaga e reproduzida com a propriedade nordestina de uma baiana e de um pernambucano. "Acenderam-se as luzes do palco, a gente entrou e cantou. Nasceu assim! De parto natural, com muito amor! Uma gestação leve, fluida e desejada", enaltece Mariene que não poderia deixar de trazer o seu samba em, por exemplo, "Saudade Louca" (Arlindo Cruz eAcyr Marques) e em "Mas Quem Disse Que Eu Te Esqueço" (Hermínio Bello e Yvnne Lara).


Faixas embevecidas por violões, bandolins, sanfonas e vozes tão bem entoadas, também, nas versões de "Espumas ao Ventos" (Accioly Neto) e em "Canto de Ossanha", esta última para Baden Powell e Vinicius de Moraes nenhum botar defeito, fechando o disco que ganha o contraponto de uma abertura levada pela suavidade de "Avesso" (Ceumar e Alice Ruiz), até então desconhecida do diretor e da própria Mariene de Castro mas que, devidamente apresentados, cederam para que fosse ela a primeira música a traduzir, no disco, esse (re)encontro.

"Quando cantei "Avesso" para Zé, ele que dirige o show, de cara disse que queria que abrisse com essa canção, para responder ao final com a canção 'Vai Dar Namoro', como se estivesse dizendo assim ó: 'você é a pessoa mais parecida comigo que conheço só que do lado do avesso, por isso que vai dar namoro, porque esses avessos vão se atrair de alguma forma, e foi o que aconteceu", explicou Almério que, a propósito, continua intenso, também, em seu "Desempena" - logo mais em novembro o seu segundo álbum chega em formato de DVD ao vivo (gravado no Teatro de Santa Isabel). Antes disso, no Canal Brasil (TV a cabo), poderá ser degustado neste domingo.

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