Resumindo a Notícia
- Um policial britânico cometeu dezenas de estupros e agressões ao longo de duas décadas
- Condenação agrava a crise na polícia britânica, que enfrenta desconfianças desde ano passado
- Entre relatos repulsivos, promotora-chefe disse que é um dos casos mais chocantes que já viu
- O condenado assumiu a culpa e enfrentará ao menos 30 anos de prisão
Mulheres britânicas protestam em frente à corte para que mais investigações sejam feitas
AFPA Justiça inglesa condenou nesta terça-feira (7) à prisão perpétua o ex-policial de Londres David Carrick, que cometeu dezenas de estupros e agressões ao longo de quase duas décadas, em um novo escândalo que agrava a crise de confiança na polícia britânica.
David Carrick, de 48 anos, que trabalhou em uma unidade especial da Scotland Yard dedicada à proteção de parlamentares e diplomatas estrangeiros, reconheceu em audiências anteriores 24 acusações de estupro contra 12 mulheres entre 2003 e 2020, além de incriminações de agressões e detenções ilegais.
Mas algumas delas estão relacionadas a crimes múltiplos, o que totaliza quase 50 estupros.
É um dos "casos mais chocantes com que já tive que lidar e que envolvia um policial em serviço", reconheceu a promotora-chefe, Jaswant Narwal, em janeiro.
De acordo com os investigadores, Carrick conheceu algumas de suas vítimas por meio de aplicativos de namoro e eventos sociais e usou sua posição para ganhar a confiança delas.
O policial reconheceu ter estuprado suas vítimas por meses e, em alguns casos, por anos. Ele as trancava em um pequeno armário embaixo da escada de sua casa por horas, sem comida. Chamava as mulheres de "escravas", controlava sua vida financeira e as isolava das pessoas próximas a elas.
"Ele gostava de humilhá-las e usava sua posição profissional para deixar claro que era inútil procurar ajuda, porque ninguém acreditaria nelas", disse o inspetor-chefe da polícia, Iain Moor.
Durante uma audiência na segunda-feira (6), a Promotoria fez um discurso angustiante sobre suas agressões "sistemáticas" a partir dos relatos de mulheres "presas" que "não confiam mais na polícia".
Carrick conheceu uma das vítimas em um bar, em 2003, a quem garantiu que estaria segura com ele — antes de apontar uma arma para sua cabeça e estuprá-la repetidamente.
Outra, que ele conheceu em um site de namoro, descreveu-o como um "monstro" quando estava bêbado, na maioria das vezes, e contou que o policial a obrigou a fazer tarefas domésticas nua.
Uma terceira mulher relatou que o homem batia nela com um chicote, assobiava para ela como um cachorro e a tratava como um objeto que "pertencia a ele e devia obedecê-lo".
Carrick, afastado da polícia, admitiu "total responsabilidade pelo que fez", disse seu advogado, Alisdair Williamson.
O caso gerou um novo choque no Reino Unido, dois anos após o assassinato da executiva londrina Sarah Everard, de 33 anos — também por um policial, que foi condenado à prisão perpétua —, que abalou seriamente a confiança na polícia britânica.