O nó cego da diplomacia Brasil-Israel e a sombra de Trump
Enquanto o mundo celebra o alívio humanitário, a trégua em Gaza não desarma o confronto entre Lula e Netanyahu
O dia de hoje, marcado pelo cessar-fogo entre Israel e Hamas, trouxe um respiro global. O fim da guerra, ainda que frágil e após uma resposta israelense à altura dos ataques de 7 de outubro de 2023, reacende a esperança após uma avalanche de tragédias cercadas de fome, miséria e mortes.
As cenas do reencontro de reféns — 20, mais precisamente, ainda vivos — com as famílias são de uma carga emocional fortíssima. Assistir ao pai que abraça e brinca com as filhas pequenas. O jovem que sobreviveu após cavar a própria cova. A mãe abraçando o filho. Os relatos são impactantes. No outro lado, a comoção se repete: prisioneiros palestinos em ônibus, a população incrédula, crianças erguidas para tocar o rosto de seus familiares.
No entanto, em Brasília, o clima entre o Palácio do Planalto e a Embaixada de Israel não vai nada bem. A cordialidade diplomática quase nula. O presidente Lula, embora negue problemas com Israel, mirou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em declaração feita a jornalistas em Roma, na Itália:
“O Brasil não tem problema com Israel. O Brasil tem problema com o Netanyahu. Na hora que Netanyahu não for mais governo, não haverá nenhum problema entre Brasil e Israel, que sempre tiveram uma relação muito boa. Nós sabemos o papel que o povo judeu tem feito, inclusive lutando contra a atitude do Netanyahu”, disse Lula.
A mágoa do presidente brasileiro é nítida. Ano passado, após comparar a reação de Israel ao Holocausto, Lula foi declarado “persona non grata” por Tel Aviv.
No caminho diplomático entre a capital brasileira e Israel, o tempo permanece fechado. O antigo embaixador, Daniel Zonshine, segurou os momentos de crise, mas deixou o posto recentemente. No momento, quem comanda as relações é a encarregada de negócios Rasha Athamni. As portas estão fechadas para manifestações públicas, que se restringem às redes sociais e a raras cerimônias no Congresso Nacional.
Lula, que tentou uma atuação pelo fim do conflito e se frustrou, agora vê o opositor do governo, o americano Donald Trump, colher os louros do acordo. Poucos dias antes, o presidente brasileiro havia cedido e conversado com o norte-americano, que, aliás, não esconde sua dedicação para lutar na América Latina. A Venezuela é logo ali. Israel, por sua vez, viu seu primeiro-ministro cada vez mais isolado das grandes potências mundiais. Mas manter os laços com os Estados Unidos, com reféns ainda vivos, provou ser o caminho.
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