É a primeira vez que manifestantes exigem impeachment no STF
Para Gilmar, mais perturbador que o tamanho dos protestos é o ineditismo da palavra de ordem
Augusto Nunes|Augusto Nunes, do R7
Em 2 de agosto de 2012, quando começou o julgamento do Mensalão no Supremo Tribunal Federal, não somavam 1 ponto no Ibope os brasileiros capazes de escalar de cor o time formado por 11 ministros. Transmitidas ao vivo pela TV Justiça, as 69 sessões consumiram um ano e meio. Em 13 de março de 2013, uma plateia de novela testemunhou o último capítulo, que chegou ao clímax com a condenação de 24 dos 40 denunciados no processo que se arrastava desde 2006. Milhões de brasileiros descobriram que aqueles homens e mulheres cobertos por uma capa negra, fluentes numa língua pouco parecida com a usada pela gente comum, decidiam em última instância coisas que podiam mudar — para melhor ou para pior — a vida do país.
Essa descoberta levaria boa parte dos brasileiros a decorar os nomes dos ministros, informar-se sobre quem é quem na cúpula do Judiciário, vasculhar a folha corrida dos indicados para uma vaga no STF e também a revogar uma frase frase pétrea de Ulysses Guimarães: "Decisão do Supremo não se discute; cumpre-se". Embora continuassem a cumprir o que foi aprovado pela maioria, os pagadores de impostos (e de todas as contas federais) passaram a discutir com crescente desenvoltura as decisões dos ministros.
Nesta virada de década, a turma majoritária, comandada por Gilmar Mendes, delibera sobre qualquer assunto, entra sem pedir licença em territórios pertencentes a outros poderes, faz o que lhe dá na telha. Em contrapartida, as vítimas das decisões se consideram autorizados a julgar os julgamentos do grupo. Sobrou para o líder: neste 17 de novembro, multidões assombradas pela tentativa de ressuscitar o paraíso dos corruptos impunes saíram às ruas para exigir o impeachment de Gilmar Mendes.
Mais perturbador que o tamanho da mobilização é o ineditismo da palavra de ordem: antes de Gilmar, nenhum integrante de uma corte suprema de qualquer país foi alvo de manifestações semelhantes. Ele sabe disso. Tem motivos para desconfiar que a indignação tende a crescer — e pode alcançar os que esperam na fila. Caso insista em imaginar que lida com um bando de robôs, pode tornar inevitável a façanha indesejada: será o primeiro titular absoluto do time da toga expulso de campo pela pressão da plateia.
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