Em Araraquara, delação virou ofício
Edinho Silva premia com dinheiro do povo servidores que denunciam quem infringir alguma norma do lockdown
Augusto Nunes|Do R7
Em 21 de fevereiro, o prefeito Edinho Silva impôs a Araraquara o mais severo lockdown registrado no Brasil desde o início da pandemia de coronavírus. Em 25 de março, uma semana depois da ampliação das restrições, ninguém morreu de COVID 19 na cidade. “Araraquara fez o que a ciência diz que tem que fazer “, gabou-se Edinho. No dia 26, seis mortes informaram que o prefeito é um precipitado compulsivo.
Em dezembro, ele achou muito merecido o prêmio em dinheiro que recebeu do governo paulista por seu desempenho na luta contra o vírus chinês. O sistema de saúde que montara, garantiu, havia blindado o município contra novas ofensivas. No começo de fevereiro, a falácia naufragou na segunda onda. "O sistema hospitalar está perto do colapso", choramingou Edinho, implorando ao governador João Doria outra leva de leitos de UTI.
Depois de atribuir o aumento de óbitos e infecções à variante de Manaus, que teria desembarcado em Araraquara a bordo de turistas amazonenses, proibiu a circulação de gente nas calçadas e de automóveis no asfalto. Nesta semana, o ex-tesoureiro do PT que foi ministro de Dilma Rousseff conseguiu superar-se. Inspirado na ditadura cubana, transformou a delação em ofício.
Na ilha presídio, “comitês de defesa da revolução” denunciam vizinhos e parentes que ousem criticar o regime inaugurado em janeiro de 1959. Em Araraquara, foi criada por decreto uma “gratificação especial de desempenho no contexto da pandemia". Ganha pontos o funcionário público que delatar qualquer pessoa ou empresa que infringir alguma norma baixada pelo general da guerra sanitária.
No Reino de Edinho, só podem estar nas ruas espiões pagos pelo prefeito para denunciar quem estiver nas ruas. Cada fiscalização, por exemplo, vale 1 ponto. Cada pessoa surpreendida sem máscara nas ruas vale 2 pontos. No fim do mês, a pontuação é convertida em dinheiro.
Sempre tive muitos amigos em Araraquara. Neste momento, tenho pena de Araraquara.
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