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Os esquecidos pela quarentena

O número de mortes por covid-19 nas favelas é o dobro do registrado nos bairros nobres

Augusto Nunes|Do R7

Portadores de miopia seletiva, os loucos por lockdowns fingiram não enxergar a dramática piora da paisagem formada pelas favelas brasileiras. Em mais de 200 entrevistas coletivas, os doutores aglomerados no Centro de Contingenciamento da COVID-19, baseados em São Paulo, não fizeram uma única menção aos problemas enfrentados por incontáveis brasileiros amontoados em barracos. Era previsível que ignorassem a pesquisa feita pelo Instituto Data Favela, em parceria com a Locomotiva — Pesquisa e Estratégia e com a Central Única das Favelas (CUFA).

Entre 9 e 11 de fevereiro, foram entrevistados moradores de 76 favelas espalhadas por todos os estados brasileiros. As constatações são desoladoras. Nas duas semanas anteriores ao levantamento, por exemplo, 68% dos moradores não conseguiram dinheiro para comprar comida em ao menos um dia. As refeições diárias caíram de 2,4 em agosto de 2020 para 1,9 em fevereiro, e 71% das famílias agora sobrevivem com menos da metade da renda obtida antes da pandemia.

Nove em cada 10 moradores receberam alguma doação. Sem esse gesto solidário, oito em cada 10 famílias não teriam condições de se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza e pagar contas básicas. Nesse universo, o número de casos confirmados e óbitos é o dobro do registrado nos bairros nobres, mas apenas 32% procuram seguir as medidas de prevenção.

Outros 33% fazem algumas tentativas de ajustar-se às regras, 30% não conseguem segui-las e 5% desistiram de tentar. É certo que, de dois meses para cá, esse cenário se tornou ainda mais cinzento. Acuadas pela fome e pela incerteza, multidões de favelados usam o transporte público para buscar algum dinheiro em outros pontos da cidades.

Esses esquecidos pelas quarentenas sabem que as aglomerações nos ônibus, trens urbanos e vagões do metrô são perigosas. Mas acham muito mais perigoso esperar num barraco a salvação que não virá.

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