Em dezembro passado, Araraquara foi incluída no grupo de 21 cidades premiadas com verbas adicionais pelo governo paulista em homenagem ao "desempenho exemplar no combate à pandemia de coronavírus". O prefeito Edinho Silva certamente achou a honraria muito merecida. Caprichando na pose de capa de revista, o petista que foi ministro de Dilma Rousseff vinha recitando desde julho a lista das “oito medidas que tornaram Araraquara um exemplo para o Brasil”. A medida número 7 celebrava a construção de um hospital de campanha com 30 leitos de enfermaria e 21 de UTI. “Criamos uma estrutura em que a possibilidade do sistema de saúde de Araraquara entrar em colapso é zero", garantiu Edinho. Menos de dois meses depois de premiado por João Dória, o próprio prefeito vem recitando de meia em meia hora que o sistema que chegara à perfeição está em frangalhos. “Estamos com 100% dos leitos ocupados”, repete. Nenhuma surpresa. Com 240.000 habitantes, Araraquara hoje dispõe de apenas 155 leitos de enfermaria e 75 leitos de UTI. A prefeitura deveria ter usado as verbas milionárias que recebeu dos governos federal e estadual na expansão da capacidade hospitalar. Mas Edinho Silva deve ter achado que não se mexe em fórmulas premiadas. E agora culpa o povo pelo naufrágio. “Isso não teria acontecido se a população obedecesse às regras de isolamento social que fixamos”, acusa. Haja oportunismo.