Após bônus no carro zero, movimento entre os usados tende a crescer
Venda vai crescer entre os modelos usados mas com preços bem mais baixos
Autos Carros|Marcos Camargo Jr. e Marcos Camargo Jr.
Ao longo da semana, o anúncio do governo de concessão de um desconto entre R$ 2.000 e R$ 8.000 nos carros zero-quilômetro deverá aumentar o movimento também entre os usados. Antes da medida, lojistas e profissionais do ramo de carros usados reclamavam de uma paralisação nas vendas, que agora devem voltar a se movimentar conforme os modelos novos com desconto sejam entregues.
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O R7-Autos Carros conversou com lojistas e analistas de mercado para entender o cenário dos carros usados a curto prazo. “O mercado de usados ganha tração porque a venda de carros novos volta a ficar em alta. Sem dúvida, o preço dos usados vai cair mas de forma mais acentuada entre os seminovos, mas isso já vinha ocorrendo desde o fim do ano passado”, explica Leandro Ferrari, diretor da CarShopper e especialista de mercado.
Rafael Almeida, profissional de vendas de carros há 15 anos, explica que antes do anúncio muitos compradores estavam distantes das lojas: “Tinha cliente achando que o governo iria baixar os preços de carro usado, como se isso fosse possível. Agora, com a medida, pelo menos o interesse voltou, e o cliente vem pedir descontos”.
No entanto, esse movimento de venda de carros novos já estava com viés de alta, porque a economia está mais lenta, e o crédito, mais caro. “Veja que as montadoras já estavam oferecendo bônus, e isso tende a ficar mais evidente agora. Algumas marcas estão oferecendo R$ 10 mil de bônus, além do desconto em nota fiscal”, diz Ferrari. Atualmente, os juros da taxa Selic estão em 13,75% ao ano, mas, na prática do mercado, os juros estão em torno de 1,8% ao mês.
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Seminovo vai cair mais
Com essa redução no preço dos novos, o consumidor precisa fazer a conta sobre o que vale a pena comprar. Os analistas são unânimes em afirmar que os preços de carros seminovos com até dois anos de uso devem cair abruptamente.
Um exemplo é o Renault Kwid 2024, que agora sai por R$ 58.990. “Como o crédito está mais caro e restrito, o consumidor tem que fazer a conta dos juros e do valor final para saber o que vale mais a pena.”
O carro da Renault linha 2024 que teve R$ 10 mil de redução está bem próximo da cotação de tabela para o modelo 2022: R$ 53.350. Com uma entrada de 60%, em torno de 48x de R$ 699, o valor final ficará em R$ 69.643, bem próximo do valor antigo já com juros. O mesmo carro 2022, com a mesma entrada, terá valor final com juros em torno de R$ 73 mil, o que dá vantagem ao carro zero-quilômetro. “Sem dúvida vale a pena, mas temos que levar em consideração: mais de 43% das pessoas estão endividadas, sem condições de pagar suas contas. No passado já tivemos uma bolha de venda de carros de entrada, que resultou em maior endividamento, e o melhor é sempre negociar à vista”, alerta Ferrari.
Agora, os modelos usados mais velhos, que já vinham caindo de preço havia um ano, deverão manter o mesmo patamar. Especialmente os modelos 1.0 completos, com valor mais acessível, que são negociados à vista. “Esses carros estão com tíquete entre R$ 25 mil e R$ 35 mil, enquanto um modelo novo custa o dobro. Esses carros mais antigos, como Corsa, Palio, Sandero, Gol, modelos mais antigos em geral já fora de linha, tendem a ficar no mesmo patamar de preço”, finaliza.
Momento do comprador
Sem dúvida, a vantagem na negociação agora está nas mãos do comprador. A queda de preço — ainda que momentânea — no mercado de carros novos dá ao comprador um grande poder de barganha por um preço melhor.
Rafael Almeida explica que os bancos ainda não sinalizaram queda nas taxas, e esse será o próximo desafio. “Os juros assustam, mas também o cliente está apertado, com orçamento restrito. Geralmente quem pede crédito está seguro da decisão, até porque planos sem entrada não existem mais.”
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Em um dos principais feirões do Brasil, o AutoShow, realizado há 51 anos em São Paulo e há 38 no ABC, o movimento de compra de carros já vem subindo. “Retornamos da pandemia num patamar de 80 veículos, ano passado chegamos a 1.500 e já superamos a marca de 2.000 veículos ofertados nos nossos eventos feitos aos domingos. Mesmo com a queda do preço, sabemos que é o momento do comprador, que tem maior poder de barganha e pode conseguir um carro com um desconto maior”, explica Eduardo Ribeiro, diretor da Matel Produções, empresa organizadora do AutoShow.
O importante, segundo os especialistas, é fazer a conta e preferir negociar sempre à vista, pois o crédito continua restrito e com juros altos e deve ficar assim por um bom tempo.
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