Combustível do futuro: como vai ficar a gasolina após mudanças
Com mais etanol, consumo deve aumentar e carros a gasolina podem ter problemas mecânicos
Na última semana entrou em vigor a “Lei do Combustível do Futuro” (PL 528/2020), que cria os programas nacionais de diesel verde, de combustível sustentável e também da legislação que aumenta a mistura de etanol e de biodiesel à gasolina e ao diesel. Mas como vai ficar a gasolina a partir dessa mudança?
Em primeiro lugar, a quantidade de mistura de etanol à gasolina vai subir, passando dos 27,5% máximos atualmente para a margem de 22% a 27%, podendo chegar a 35% conforme a lei. Isso muda e muito a composição atual.
Porém, essa mudança terá várias consequências. O R7-Autos Carros conversou com dois engenheiros automotivos, que resumem as mudanças que essa alteração pode ter para os motores:
Em motores flex teremos aumento do consumo, com mais etanol adicionado à gasolina. Isso porque o etanol tem até 70% do poder calorífico da gasolina e por isso o consumo irá aumentar de forma significativa.
Em motores a gasolina será preciso ter cautela. Carros monocombustível mais antigos a gasolina não estão ajustados a receber tanto etanol no tanque. Como consequência, os donos desses carros terão problemas com sistemas de alimentação e injeção como bomba, velas, injeção direta ou indireta e no motor como um todo.
Carros fabricados há 20 anos ou 30 anos, por exemplo, estão calibrados para receber até 20% de etanol, mas não 35% dizem especialistas ligados ao tema.
Em carros antigos fabricados antes de 1980, os carburadores, velas e os motores certamente terão dificuldades de processar alta quantidade de etanol adicionado à gasolina.
Já a quantidade de biodiesel adicionada ao diesel vendido ao consumidor final subirá 1 ponto percentual a cada ano, ou seja, para 15% em 2025 até chegar em 20% em 2030. Segundo especialistas, veículos a diesel podem ter problemas em itens como filtros e bomba de combustível além de problemas de alimentação.
Mas isso não vai acontecer agora. A primeira fase do programa 14.993/2024 só deve vigorar a partir de março de 2025. Agora ficará a cargo do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a avaliação da viabilidade das metas de aumento da mistura.
A intenção da lei é integrar políticas públicas para redução de emissões e descarbonização previstas na Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), Programa de Mobilidade Verde (Mover) e Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos (Proconve).
O foco do programa está na redução de emissões de poluentes, mas ainda será preciso reconhecer que a aplicação prática de mudança de composição terá efeitos práticos sobre os motores. E isso ainda não está claro nas avaliações.
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