Como a Renault reverteu a má fama do Gordini nos anos 1960
Teste de resistência teve 50.000km rodados a bordo do pequeno sedã
A década de 1960 no mercado automobilístico marcou o pioneirismo de várias marcas. Aqui já tínhamos desde modelos acessíveis até caminhões, ônibus e modelos familiares produzidos localmente. Um desses carros marcantes foi o Gordini.
O carrinho era produzido sob licença da Renault pela Willys Overland, começando em 1959 com o Dauphine até 1968 com o Gordini. Porém, a fama era de que o carro seria frágil lhe rendeu o apelido de “leite glória (desmancha sem bater)” em alusão ao famoso comercial da época.
Assim, em outubro de 1964, há quase 60 anos, a Willys planejou um evento para comprovar a qualidade do Gordini. Ele cumpriria o recorde de resistência ao rodar 50.000km sem parar no autódromo de Interlagos em São Paulo.
A ideia era do publicitário Mauro Salles, que detinha a conta da Willys Overland. Foi construída uma estrutura em Interlagos para abrigar os profissionais envolvidos no recorde, que teve aval da Federação Internacional de Automobilismo, a FIA, com a presença de Paul Massonet, que homologou o teste.
O Gordini bege claro foi retirado da linha de produção sem qualquer preparação prévia. E foi conduzido pelos pilotos Bird Clemente, Luiz Pereira Bueno, José Carlos Pace, Chiquinho Lameirão, Wilson Fittipaldi Jr, Carol Figueiredo e Geraldo Meirelles. Vladimir Costa, Danilo de Lemos e Vitório Andreatta, além de Luís Antônio Greco, ex-chefe da equipe Willys de competição, também dirigiram o carro.
Foram 133 recordes quebrados ao todo, mas o carro quase não conseguiu completar os 22 dias de teste. Após uma semana, Bird Clemente deixou o carro escapar em uma parte de asfalto recém-feita e o carro capotou.
Porém, foi “desamassado” na hora, recolocado na pista e seguiu rodando sem problemas. Ali foi escrito em uma das peças de estamparia o nome “Teimoso”.
Este colunista que vos escreve já teve a chance de entrevistar Bird Clemente, que disse há cerca de 10 anos (o piloto morreu em outubro do ano passado): “o carro de fato era frágil, não era preparado para o Brasil, mas fizeram muitas melhorias no carro na época a partir de então”, disse Clemente.
Por fim, o recorde rendeu fama ao carrinho, que ainda foi produzido por mais quatro anos. A Willys tinha o projeto M em desenvolvimento, que seria o Renault 12, sucessor do Gordini, que no Brasil deu origem ao Ford Corcel. Isso porque a Ford comprou a Willys Overland em 1967.
A Renault não seguiu no Brasil a partir do final do Gordini. Virtualmente, a linha Renault esteve presente nos motores 1.4 usados no Corcel, que evoluiu para os motores CHT nos anos 1989 e seguiu até os anos 1990.
Os Renault só voltariam ao Brasil em 1992, com o Clio por meio da aliança AMC (Automóveis e Motores do Brasil).
O recorde foi relembrado no último domingo com um desfile de carros antigos — vários Gordinis, um Dauphine e também um Willys Interlagos, além de um clássico R8, cruzaram o autódromo e fizeram uma volta histórica. O evento teve a participação de ex pilotos e também da família do ex-piloto Bird Clemente.
60 anos do recorde com o Renault Gordini em Interlagos. VEJA O VÍDEO!
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