Falta de componentes ameaça produção de veículos no país
Onix e Civic já foram afetados por falta de componentes; fábricas da Honda nos EUA e Canadá também vão parar
Autos Carros|Marcos Camargo Jr
Com medidas de restrição impostas ao mundo em função da pandemia o mercado automotivo volta a sentir os efeitos da falta de componentes para fabricação de automóveis. É o caso dos chamados semicondutores, chips e partes eletrônicas hoje presentes nos veículos. No Brasil não é diferente: a Honda havia anunciado a paralisação temporária da produção do sedã Civic que durou nove dias. Já a GM anunciou suspensão da produção do Onix e Onix Plus a partir de abril, em um período que deve se estender, inicialmente, por dois meses.
Desde o último dia 9 a planta da Stellantis em Betim/MG, opera com 10% menos funcionários. Isso por que o grupo teve que parar a produção do Fiat Argo e Mobi, também por falta de componentes. A expectativa é que os colaboradores voltem das férias coletivas e retomem a produção do compacto na próxima segunda-feira (22).
No caso da GM a marca alertou que “a cadeia de suprimentos da indústria automotiva na América do Sul tem sido impactada pelas paradas de produção durante a pandemia e pela recuperação do mercado mais rápida que o esperado. Isso está afetando de forma temporária nosso cronograma de produção na fábrica de Gravataí (RS). A produção nesta unidade será interrompida nos meses de abril e maio, podendo ter efeitos em junho, retornando ao volume de produção regular em julho”.
Os funcionários da planta da GM em Gravataí, Rio Grande do Sul, estão em férias coletivas até o final deste mês.
Com essa paralisação da Chevrolet é possível que o Onix deixe a liderança entre os veículos mais vendidos do país por alguns meses. Entre janeiro e fevereiro o Onix, junto com o Onix Plus emplacaram 34.468 unidades sendo mais de 7.000 só na primeira quinzena de março.
E no mundo?
A Renault e a Stellantis também tiveram que interromper a produção de seus veículos no mês fevereiro. A Renault teve que suspender a produção em uma fábrica na França e em duas no Marrocos enquanto a planta da Romênia também foi paralisada. Já a Stellantis precisou fechar fábricas na Alemanha, Espanha e Itália temporariamente por dificuldades de fornecimento de peças.
Nos EUA e Canadá a Honda anunciou que suas fábricas terão as atividades suspensas por sete dias, a partir da próxima semana.
A paralisação ocorre pela falta de chips e semicondutores, assim como aconteceu no Brasil. Cerca de 80 mil veículos devem deixar de ser produzidos neste período.
Origem do problema
O elevado consumo de eletroportáteis como smartphones e notebooks durante a pandemia, resultado do fenômeno do home-office desequilibrou a demanda por chips e semicondutores no mundo inteiro. Assim, fabricantes deixaram de atender o setor automotivo, que estava parado, para fornecer a fabricantes de dispositivos eletrônicos. Estima-se que só as vendas de chips chegaram a US$ 439 bilhões em 2020, elevação de 18% em um ano o que levou a um desequilíbrio do setor.
Há cerca de 15 anos um automóvel tinha 15% de componentes eletrônicos o que hoje chega a uma média de 40%. Assim, sensores como do airbag, sistemas como a multimídia integrada à central eletrônica e até comandos simples como dos vidros elétricos demandam chips de comando.
Outro problema está na centralização da produção geralmente baseada na China, Tailândia e uma parte inferior nos Estados Unidos e Japão. No caso norteamericano a produção local só atende a 12% da demanda doméstica. Para piorar, em estados como o Texas, berço da indústria tecnológica nos EUA, houve fechamento temporário das indústrias no inverno rigoroso o que levou a uma nova suspensão na atividade fabril após as paradas de 2020 em função da pandemia. A Associação da Indústria de Semicondutores da China (CSIA) informou que o elevado consumo destes produtos eletrônicos deve se prolongar e as fábricas demoram um tempo para se adaptarem a um novo patamar. Estima-se que a normalização do fornecimento ainda leve cerca de três anos em escala global.
*com a colaboração de Guilherme Magna
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