Ford Escort faz 40 anos no Brasil. Saiba os bastidores da chegada do carro ao país
Projeto foi estudado por quase dez anos e após idas e vindas estreou em junho de 1983
Autos Carros|Marcos Camargo Jr e Marcos Camargo Jr.
A Ford vivia tempos de grande renovação na sua linha de produtos em 1983. Na verdade era o final do ciclo de muitas mudanças. Depois de tirar de linha o mal sucedido Maverick (ele se tornaria um carro desejado apenas anos depois), a montadora também interrompia a produção do luxuoso Galaxie em abril daquele ano e se preparava para fazer um carro moderno que representaria um novo patamar para a linha Ford no Brasil.
Enquanto isso, a Ford renovava discretamente o Corcel II, um carro polivalente lançado em 1977 e que tinha ainda o Del Rey como compacto moderno e com apelo de luxo, embora fosse um Corcel "de gravata".
Mas e o ESCORT? A ideia de trazer um carro compacto de perfil esportivo é bem mais antiga do que parece. A Ford importou unidades do Escort europeu MK1 ainda nos anos 1970, onde fez uma série de estudos de viabilidade do carro. Porém, após 1973, a crise do petróleo e as dificuldades com alta da inflação e o preço dos combustíveis, brecou investimentos. O Maverick lançado naquele ano entrou no ano que a crise explodiu e a prioridade era racionalizar investimentos.
A Ford tinha um portfólio completo com o Corcel, o Maverick como modelo médio e o Galaxie ocupando a posição de carro de luxo e já com as versões que eram icônicas entre si como o luxuoso Landau e o Maverick GT como modelo esportivo. A Ford ainda atuava muito bem no segmento de caminhões, pickups com a F100 e tinha ainda resquícios da linha Willys (adquirida em 1966) com a linha F-75, o Jeep e o Rural.
Só no início dos anos 1980 foi que o Escort já na terceira geração veio ao Brasil para novos testes de validação. O projeto Zeta, como era internamente conhecido, tratava com toda a confidencialidade o desenvolvimento de um novo projeto. As unidades tinham sido recém produzidas na Europa, de onde vinham fazendo muito sucesso.
Os primeiros MK3 que vieram ao Brasil tinham motor CHV com comando de válvula no cabeçote, câmara hemisférica eram bem versáteis no deslocamento entre 1,2 e 2,0 litros quatro cilindros. Os carros que vieram ao Brasil eram 1,3 e 1,6 litros, mais adequados ao nosso mercado.
O Escort europeu era muito bem construído, mas a suspensão era inadequada para as nossas ruas. Todo o conjunto de molas e amortecedores foi reconstruído. E a decisão da engenharia de não usar o motor CHV e sim o CHT derivado do Corcel era uma economia de custos que acabou viabilizando o projeto.
Mas o Escort não era “plug and play” como se diz hoje em relação ao motor CHT. Para encaixar na nova estrutura, os apoios de coxins foram redesenhados, câmbio, elétrica, escapamento e mangueiras - tudo foi refeito em função da nova estrutura. E a equipe trabalhou de forma intensa, especialmente no ano de 1982 para lançar o carro no ano seguinte.
A Volkswagen trabalhava na diversificação da linha Gol e naquele ano lançaria o Voyage e depois a Parati. A Fiat traria da Itália um novo carro moderno e espaçoso que daria origem ao Uno e a GM trazia o Monza, que inicialmente seria um carro médio para conviver com o Chevette, embora antigo, mas já todo modernizado. A Ford precisava de um novo produto.
E o Escort teve sua data de lançamento definida no primeiro trimestre do ano. Ele efetivamente começou a ser produzido em escala no mês de junho de 1983. Vendido nas versões 1.3 e 1.6 CHT, tinha as versões L, GL e o Ghia nas versões duas e quatro portas.
E foi um sucesso de imediato. No ano seguinte viria o esportivo XR3 que virou objeto de desejo. O Escort veio no tempo certo para aposentar o Corcel, o que aconteceria mesmo em 1987, e forçar um downgrade no Del Rey, para que pudesse aumentar a produção e as vendas de um carro bastante moderno para a época. O Escort foi produzido ao longo dos anos 1980 com pequenas alterações, ganhou motor AP ainda no fim daquela década, em 1991 ganharia uma nova geração e em 1997 passaria a ser importado da Argentina como uma geração adiante. Ele seguiu no Brasil ainda até 2003, dando espaço para a chegada do Ford Focus.
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