Volkswagen Brasilia completa 50 anos: veja curiosidades sobre o modelo
Compacto nasceu no início dos anos 1970 e despertou conflitos internos entre matriz e filial da marca
Autos Carros|Marcos Camargo Jr e Marcos Camargo Jr.
Em homenagem à capital federal, então uma jovem cidade promissora, a Brasília (cidade) era simbolo de modernidade. O mesmo se pode dizer do Volkswagen Brasilia (o carro), sem acento, mas com uma trajetória marcada pelo pioneirismo da indústria automobilística brasileira. Produzida entre 1973 e 1982, a Brasilia teve mais de 1 milhão de unidades produzidas em vários países, mas a chancela do projeto é brasileira.
O R7-Autos Carros acompanhou uma pequena cerimônia de 50 anos do hatch compacto lançado nos anos 1970. Ao lado de fãs da Brasilia e apaixonados como o ex-projetistas Günter Hix, o autor do livro sobre o carro Fabio Pagotto, bem como aficionados pelo carro, levantamos algumas curiosidades sobre ela.
A Brasilia chegou em um momento de certa pressão para o seu sucesso que foi estrondoso. Rudolf Leiding presidiu a companhia de 1968 a 1971. No seu curriculum estavam produtos de pouco êxito como o sedã 1600, o esportivo TL e poucas novidades como o Karmann Ghia TC. No início do seu ano de despedida, Leiding autorizou o projeto de um carro totalmente novo que daria origem ao Brasilia.
Na época em que foi lançada concorria com o Ford Corcel apresentado em 1968 e o Dodge 1800. A GM já tinha confirmado a chegada do Chevette e seu lançamento foi antecipado um pouco justamente por causa da Volkswagen. Em abril de 1973 o compacto da Chevrolet chegava às lojas. Em junho era a vez da Brasilia.
Nessa época de cada dez carros vendidos, sete eram Fuscas. Mas isso não iria durar para sempre. Assim a Volkswagen já apostava em novos modelos como a perua Variant, o TL, e trabalhava no moderno Passat.
Aproveitando o espaço "desperdiçado" pelo Fusca nos para-lamas surgiria um carro com amplo salão para os passageiros. Seguindo a ideia de um porta-malas raso traseiro e outro amplo sob o capô dianteiro, o Brasilia não seria uma perua alongada como a Variant. Seria hatch e mais esportivo.
Inicialmente teria um desenho muito distinto do aprovado. O primeiro desenho de Mario Piancastelli era como o de uma minivan, mas foi abandonado. A partir do desenho da linha SP, Piancastelli deixaria o novo carro mais esportivo e moderno. Porém, viável economicamente para ser produzido em larga escala.
A dianteira bicuda viria da necessidade de abrigar o pneu estepe. Com clay, a orientação era para os projetistas melhorarem a dianteira do carro dando ainda um estilo único. A lanterna era "canelada" como nos Mercedes Benz, outra inspiração do Brasilia.
Por dentro, a ideia de um painel elevado seria descartada, pois nos primeiros esboços os projetistas viram que o espaço interno do carro era uma grande vantagem para seus 4,01 de comprimento e apenas 2,40m de entre-eixos. Curiosamente esse painel é uma evolução do DKW Fissore, projeto antigo da década passada, com os mesmos elementos.
Pouca gente sabe, mas o Brasilia tem as dimensões de um Fusca, pois deriva de sua plataforma. A suspensão foi deslocada para as extremidades do carro permitindo um amplo espaço interna, coisa que o Fusca perdia em função dos para-lamas salientes.
As amplas dimensões de um carro pequeno foram bem trabalhadas pelo departamento de Marketing. Uma fita métrica com essa frase acompanhava o material de lançamento da Brasilia, nome da jovem capital federal, que explicava por si só o nome de um carro bem brasileiro.
Mecânica "consagrada"
O Brasilia chegou a rodar anos depois com protótipos de motores refrigerados a água, mas sua concepção original era para ser como o Fusca: motor boxer refrigerado a ar e tração traseira. Era o 1600 de apenas 60cv com carburação simples que dois anos depois passaria a ter dupla carburação bem mais eficiente. O freio era a disco, algo moderno para a época.
A partir de 1975, menos de dois anos após o lançamento, começaram os estudos para modernização do carro. Isso foi acelerado após o lançamento do Passat. A orientação da época era que todos os carros seriam modernos como o Passat, o que não aconteceu.
Muitos estudos de design foram feitos para modernizar as linhas retas da Brasilia. Perfis de capô mais longo, mais curto, com farois embutidos e com grade maior foram apresentadas, mas nenhum aprovado.
Em 1978 ela ganhava pequenas mudanças estéticas mantendo seu estilo. Em 1980 mudaria o painel inspirado nos elementos da aviação. "Painel de 2001", dizia a propaganda da época. Os bancos seriam mais envolventes e também seriam usados no Gol.
Na comemoração dos 50 anos do Brasilia, a Volkswagen chamou um grupo de apaixonados pelo modelo nacional. Günter Hix, que trabalhou no projeto do Brasilia contou alguns pormenores da época. "Os painéis tinha plástico injetado, coisa moderna para época, mas fizemos as peças um pouco mais baixas para aumentar a sensação de espaço", conta orgulhoso.
Acervo da Garagem Volkswagen
A partir de 1978 a Volkswagen passou a reservar algumas unidades dos modelos de produção para um futuro acervo. O primeiro foi uma Variant II e o segundo foi justamente o Brasilia LS 1981 verde Turmalina do acervo. O carro nunca foi emplacado e segue totalmente íntegro por cuidado dos funcionários. "Na fábrica não tinha coração para coisa velha. Mas a gente requisitou o carro, cuidou dela ao longo do tempo..." lembra Hix.
Hoje há cerca de 30 automóves clássicos preservados pela marca em seu acervo particular. No entanto, o espaço não está aberto a visitação. Há modelos zero quilômetro como o Santana EX, Logus, Pointer, Fusca Última Série, Kombi Last Edition e muitos outos.
Fim do Brasilia
Com mais de 1 milhão de unidades produzidas a Brasilia não deixou sucessor natural. Em 1980 o lançamento do Gol selaria o final de muitos produtos da marca Volkswagen em prol de algo novo. O Gol também seria um grande sucesso a ponto de despertar conflitos internos entre o departamento de projetos na matriz alemã e a filial brasileira. Com o Gol viriam o Voyage, Saveiro e a perua Parati. De tão modernos aposentaram a Brasilia em 1982 após a marca desmentir que iria descontinuá-la.
No mesmo ano a Variant II também deixaria de ser produzida. A linha do Gol mostraria uma estratégia certa para a marca. Todos os produtos derivados foram um sucesso de mercado ao longo dos anos 1980 e 1990 na mesma geração. A Brasilia provou sua resistência e segue agradando fãs da marca. Muitos colecionadores especialmente europeus tem se interessado pelo Brasilia que só foi produzido no Brasil e no México mas teve unidades exportadas para a Europa e até Oriente Médio e África.
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