Ele vestiu uma peruca e matou três pessoas da mesma família por inveja
A reportagem investiga, apura e caminha lado a lado da notícia em um dos crimes mais estranhos de Santos
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Sessenta anos de prisão separam um dentista da liberdade em um dos casos mais emblemáticos que acompanhei nesses anos todos de reportagem. Conversei com a família que foi vítima desse crime cruel que tirou a vida de três pessoas em atos covardes motivados por inveja.
Flávio do Nascimento foi preso em 2018, três anos depois de matar um empresário de Santos, a irmã e um cunhado. Na época, os assassinatos apavoraram a população.
A poucos metros dali, silenciosamente, a felicidade do progresso dele alimentava o ódio de um vizinho de rua.Um dentista que estudou, se formou, se dedicou… e viu o concorrente sem diploma prosperar.Ali começou uma conspiração que mudaria a história criminal de Santos.
Agilson Correa era inteligente. Mesmo com pouco estudo tinha uma veia empreendedora e estava em ascensão no ano de 2014. Era dono de várias clínicas odontológicas com atendimentos a preços populares, sem entender nada do assunto.
Não era dentista, nunca estudou para ser. O talento dele era de empreendedor ousado. Observou que em Santos faltava estrutura para dentistas, sabia que era caro. Então uniu o dinheiro que tinha e a necessidade do mercado com um modelo de negócio que solucionava a questão: clínicas populares onde o dentista entrava e atendia os pacientes.
Fez sucesso! Na segunda década dos anos 2000, Agilson já tinha clínicas em duas cidades. A família trabalhava junto e havia funcionários contratados. Ele controlava tudo de Santos, onde depositou a energia no espaço aberto no centro da cidade. Tudo caminhava bem.
A poucos metros dali, silenciosamente, a felicidade do progresso dele alimentava o ódio de um vizinho de rua. Um dentista da cidade que viu o negócio concorrente fluir assistindo à própria derrota.
Do outro lado da rua existia um consultório odontológico também. Pertencia a Flávio. Era bem em frente ao espaço do Agilson. O dentista teria sentido financeiramente a redução da clientela depois que o empresário abriu a clínica lá.
Era estudado, tinha um diploma de odontologia, diferentemente de Agilson, e se dedicou tanto que conquistou o próprio local de trabalho. Passava na frente da clínica todos os dias. Por azar da livre concorrência ou por falta de gestão, o consultório de Flávio faliu e foi aí que a conspiração do dentista começou.
O caso foi noticiado e imagens de câmeras foram divulgadas. Um homem teria cometido o crime, mas não se sabia quem. O que era notável nos vídeos era o uso de uma peruca. Sete meses depois, Flavio matou a irmã de Agilson, Aldacy e o cunhado dele, Airton.
Para Flávio, o sucesso do Agilson foi o motivo da falência dele, fato suficiente para decidir tirar-lhe a vida. Segundo a polícia e a Justiça, ele premeditou e planejou matar o empresário. A morte aconteceu no dia 23 de dezembro de 2014.
Agilson saía da clínica dele, no centro da cidade, quando foi atingido por um tiro na cabeça. Um sobrinho que estava junto com ele também foi vítima, mas não morreu. O empresário nem teve tempo de correr.
O crime aconteceu em um horário movimentado, tanto que chocou testemunhas. Era por volta de onze da noite, em uma época em que o centro de Santos era mais agitado. O caso foi noticiado e imagens de câmeras foram divulgadas. Um homem teria cometido o crime, mas não se sabia quem. O que era notável nos vídeos era o uso de uma peruca.
Sete meses depois, Flávio matou a irmã de Agilson, Aldacy, e o cunhado dele, Airton. Nas imagens, outra peruca foi usada. Ele organizou tudo, seguiu as vítimas e atirou estrategicamente, segundo os investigadores.
Na cidade, o clima era de medo. Não se tinha ideia de quem estaria envolvido nos assassinatos e o uso do adereço, a princípio, criou um pânico nos santistas. Todo mundo achava que se tratava de um maníaco: o Maníaco da Peruca.

O autor trocava de perucas para tentar dificultar a identificação dele e criar a sensação de que havia mais de uma pessoa matando gente em Santos.
A diligência de homicídios da Polícia Civil de Santos investigou a fundo, analisou câmeras de monitoramento da época e acompanhou os passos do maníaco, tanto que em pouco tempo já tinha conhecimento de que quem vestia a peruca e assassinava pessoas era Flávio.
O resumo dos assassinatos cometidos por ele é: três pessoas da mesma família mortas com tiros à queima-roupa, um sobrinho e uma funcionária da clínica atingidos com menos mira e que, por sorte, não morreram.
O caso chegou até as minhas mãos bem mais tarde. O Maníaco da Peruca já estava preso há pelo menos três anos e o processo tramitava na Justiça. A defesa de Flávio tentava reverter o julgamento previsto para acontecer com júri popular.
Como o caso era de ampla popularidade, a estratégia era tentar que um juiz da vara desse o veredito e calculasse a pena. Com questões muito técnicas, por algum momento, o julgamento foi anulado, mas não adiantou. No fim foram 60 anos de prisão para os três homicídios após a deliberação dos jurados. O caso estava encerrado.
Quando a sentença saiu, oito anos depois do primeiro assassinato, fiz uma coisa que chamamos de “suíte”: recontar a história através da atualização dela.
A produção buscou os envolvidos que sobreviveram à história e me repassaram a missão. Fui até o escritório do advogado que representava a família do Agilson. Era em um prédio comercial bem próximo do local do crime, no centro histórico de Santos.
Lá estava um jovem à minha espera. Era magro, de cabelos curtos e pele parda. Bruno, o filho do empresário. O rapaz era empreendedor com o pai e me contou o que aconteceu depois da “chacina” realizada pelo Maníaco da Peruca.
Com vinte e poucos anos, ele já tinha a própria empresa, mas viu de perto o terror rondar a família dele que nunca se recuperou totalmente.
Depois do crime desvendado, as manchas de sangue sujaram a imagem dos consultórios, ficaram ligados aos atos do Flávio que ganharam projeção nacional. O prejuizo foi muito grande. Depois de um tempo, eles insistiram, tantaram reabir as portas mas não vingou. A família se manteve como pode, cheia de dívidas.
Até a descoberta do autor do crime, que demorou meses, não se sabia quem era o assassino ou se eram mais de um. Os funcionários saíram da empresa com medo, a família até tentou manter as clínicas abertas, mas já não havia clientes. Quem entraria em um lugar de uma família perseguida por assassinos?
O negócio precisou ser fechado por um tempo, era o ganha-pão deles. Depois de o crime ser desvendado, as manchas de sangue sujaram a imagem dos consultórios, ficaram ligados aos atos do Flávio que ganharam projeção nacional.
O prejuízo foi muito grande. Depois de um tempo, eles insistiram, tentaram reabrir as portas, mas não vingou. A família se manteve como pôde, cheia de dívidas. Aos poucos foi reconstruindo aquilo que o Maníaco da Peruca destruiu.
Por ironia do destino e pela infelicidade de Flávio, o talento não morreu com a partida de Agilson, e Bruno, filho dele, continua o legado do pai empreendendo em outro ramo.
Flávio segue preso em Tremembé, no centro de detenção dos famosos. Na última vez que soube de algo, a defesa dele tentava provar na Justiça insanidade mental do condenado. Até hoje o assunto aqui ganha corpo. É uma tatuagem no jornalismo criminal da Baixada Santista.
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