O rei e o calhambeque pifado: o dia que eu conheci Roberto Carlos
Roberto Caros, o Cadillac 50 falecido e uma operação nacional para ressuscitar o carro que desceu as curvas de Santos

O motor da máquina ecoava um ruído de longe. Vinha estiloso pelo porto carregando um ícone. Era como ouvir uma canção do Rei. A velocidade alta atendia a nossa expectativa. Era a primeira vez que ficaria frente a frente com um desses grandões. Um nome do hall de artistas que marcaram o século XX.
Em ocasiões especiais e quando estou meio para baixo, costumo comprar ou usar alguma peça “melhorzinha”. Como trabalho em frente às câmeras, tenho o privilégio de poder vestir roupa nova numa terça-feira qualquer.
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Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7
Todo dia é um evento para um profissional como eu. Nessa, eu separei uma camisa rosada que ganhei de aniversário de uma grande amiga nipônica, uma calça marrom que gosto muito e um tênis branco.
Tenho imagens, olhe só!
Nesta história, o meu companheiro Sanchupança é Santiago, o cinegrafista gente boa. Ele é sempre gentil, educado e preocupado em agradar, mas sofre de um mal que muitos profissionais de vasta experiência possuem: o desencanto.
Eu cheguei no carro animado, era dia de conhecer Roberto Carlos! Mas para Santiago, era um turno comum de trabalho. Já viu rei cantor, rei jogador, rei de tantas outras coisas que nada mais impressionava.
Ele, com a religiosa educação, engoliu os comentários que poderiam conter minha empolgação em respeito à boa convivência que cultivamos. Ela é regada a doces e aos sambas de Zeca Pagodinho que coloco no rádio do carro quando viajamos.
O Domingo Espetacular é a proteína mais pura da Record, um filé mignon de cordeiro criado nos Alpes. Nunca dei as caras nele, o mais próximo foi o dia que conheci as emoções de Roberto.
Nosso destino era o Porto de Santos, especialmente a área de embarque de passageiros de cruzeiros marítimos.
Fui lá uma única vez, essa! Parece muito um aeroporto, muito mesmo. Mas no lugar de pista, tem mar e navios enormes, a perder de vista, são como os aviões.
Uma burocracia, viu! É preciso ter papel para tudo, mas no auge do meu privilégio de imprensa, só precisei apresentar meu RG.
Estavam vários veículos jornalísticos. Emissoras concorrentes, portais de fofoca, jornais de mídia impressa, especializados em navios e muitos turistas, muitos mesmo.
Eu tinha duas missões: gravar uma reportagem e uma entrevista com o Rei para o Domingo Espetacular.
Vou exemplificar!
Imagine um jantar... Terá arroz, feijão, farofa, salada, legumes e um belo pedaço de carne nobre.
O Domingo Espetacular é a proteína mais pura da Record, um filé mignon de cordeiro criado nos Alpes. Nunca dei as caras nele, o mais próximo foi o dia que conheci as emoções de Roberto.
Vejo uma movimentação. São passageiros a caminho do embarque. Um homem vestido casualmente, de óculos escuros. Quem lê este blogue já sabe que observo tudo muito bem. Miro o olhar e percebo que é o apresentador Tom Cavalcante — dispensa apresentações.
Fizemos uma fila e logo entramos na área de embarque. É o local onde os passageiros sobem no navio. Ele inclusive estava lá. Era alto, bem alto, estilo Titanic, só que mais moderno. Todo branco, como sabemos que o Rei gosta, e repleto de senhoras apaixonadas pelo maior cantor do Brasil. Gente que há anos escuta e celebra a carreira desse homem grandioso.
Minutos antes, conheci um grupo de mulheres. Na hora, me lembrei da Hebe Camargo, Lolita Rodrigues e da Nair Belo. Deu vontade de embarcar com elas. Não paravam de se zombar e rir da vida. Estavam para subir no navio do Roberto e celebrar o privilégio.
De canto, na despedida, uma das amigas me contou, escondida, que uma das quatro tinha o diagnóstico de um câncer. Fizeram o certo! Curar uma doença com o melhor remédio: a felicidade.
O assessor do Roberto é um homem alto, decidido, e assim que me viu exclamou: “Você que vai fazer para o Domingo Espetacular? Fique aqui na ponta. É onde ele vai primeiro”.
Tinha uma pequena rampa, um respiro de espaço entre um aglomerado de jornalistas.
O local estava dessa forma: uma grade separava o local do Roberto da imprensa. Estávamos todos pendurados na grade com os equipamentos apontados. Era um “tititi” enorme, repórteres se preparando, cinegrafistas disputando espaço, gente se reencontrando...
Eu vi a rampinha e pensei ingenuamente: ganhei um metro quadrado! Mas o assessor olhou e me disse: “Escuta! Ele não vai subir essa rampa, melhor ficar aqui!”
Tive que me amassar no meio da galera.
Vejo uma movimentação. São passageiros a caminho do embarque. De repente um homem vestido casualmente, de óculos escuros...
Quem lê este blog já sabe que observo tudo muito bem. Miro o olhar e percebo que é o apresentador Tom Cavalcante — dispensa apresentações.
Ele passa rápido. Não sei se evitaria as entrevistas ou se fez uma manobra para que chamássemos ele e percebêssemos a presença do comediante.
Quem está na ponta fica com esse trabalho, então disse em voz intensa: “Tom, hey! Me dá uma entrevista? Somos colegas de trabalho da mesma empresa”.
Um ato de coragem e de meia verdade. Sou do litoral, nunca o tinha visto de perto. Mas sustentei um rosto de que era uma entrevista corriqueira.
Tom Cavalcante se apresenta no cruzeiro de Roberto Carlos há anos, faz parte do grupo de artistas que sobem a convite dele. Coisa para gente importante.
Ele me olhou, buscou na memória algo que lhe fizesse lembrar de mim e, por motivos naturais, não encontrou. Resolveu perguntar meu nome. Respondi que era Gabriel!
Vi o semblante confuso dele...
Confesso que não vi a cena. Quando virei, percebi que algo de errado não estava certo (risos). O carro parou de funcionar, não pegava nem com reza brava.
Tom é um gentleman, educado e com um ar de inteligência emocional. Me concedeu a entrevista e seguiu atendendo as outras equipes.
Cheguei a perguntar para ele sobre o “Acerte ou Caia”, que na minha cabeça era gravado na Argentina, mas ele falou Chile. Ou seja, totalmente por fora da logística da emissora.
O momento chegou e logo você saberá por que estamos falando de Roberto Carlos.
O carro veio em alta velocidade e fazendo barulho de aceleração. O Rei anuncia a chegada assim. Era um Cadillac anos 50, vermelho sangue. Dentro, bancos de couro cor bege que reluziam de tão hidratados.
O carrão freou brusco e mostrou a força do cantor — logo desceu do carro.
Eu me lembro bem do contraste. O carro grita, o Roberto sussurra quando desce lentamente e vai em direção aos jornalistas.
Meu coração acelerou. Ele andou em minha direção e perguntou se eu estava bem. Nem lembro o que respondi.
Por sorte, tem vídeo:
Quem foi que disse que ele é meu amigo? Que loucura é essa?
Na verdade, é uma técnica amadora autodesenvolvida. Ajo como se entrevistasse uma pessoa da esquina. O mesmo grau de curiosidade, respeito e formalidade usado com um anônimo, eu utilizo com uma celebridade. Acredito que isso cria conexões imprevisíveis.
Roberto tem paciência curta. Acredito que olhe os jornalistas todos e já calcule o gasto de energia em atender todos. Fiz três perguntas e ele, na última, já dava passos para trás.
Foi tudo muito bem, como planejado. O dia estava mágico.
Ele botou o quepe de comandante, acenou para os fãs e logo subiu no navio. Quem sobrou? Adivinhe! O Cadillac 50 cor vermelho sangue. Como o dono embarcou, alguém tinha que tirar o carro dali. É uma área de segurança nacional protegida pela Polícia Federal e a Guarda Portuária. Mas, caso fosse preciso, a Marinha do Brasil poderia ser acionada.
Confesso que não vi a cena. Quando virei, percebi que algo de errado não estava certo (risos). O carro parou de funcionar, não pegava nem com reza brava.
Vi um trabalhador passar esbaforido dizendo: “Eu não vou mexer nesse carro! Se estragar alguma coisa, vou ter que pagar!”
Ficaria com o mesmo medo! Imagine só o preço de uma peça original de um carro desses?
Fomos gentilmente convidados a nos retirar porque a pauta havia mudado naquele momento. A cena era a seguinte:
O Cadillac vermelho aberto! Uma viatura da Polícia Federal, diversos agentes e um cabo de “chupeta” ligando um carro ao outro. Era uma operação de ressuscitação do calhambeque.

Vi uma patente alta da Polícia Federal balançar a cabeça, desacreditado.
Até hoje eu conto essa história assim.
O navio partiu rumo ao horizonte com o Roberto e os súditos. O calhambeque ressuscitou das cinzas, como a fênix vermelha, reenergizado por uma força de segurança nacional.
Um rei, mesmo no perrengue, nunca perde a majestade.
Um abraço!
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