8 de Janeiro: câmeras mostram ministro do GSI orientando invasores em ataque ao Planalto
Gonçalves Dias é visto sozinho no gabinete presidencial, às 16h29, caminhando, abrindo portas e conversando com extremistas
Blog do Nolasco|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília, e Thiago Nolasco, da Record TV
Imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto, obtidas pela Record TV, mostram a atuação do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, em 8 de janeiro de 2023, quando a sede do Poder Executivo foi atacada por extremistas. Ele foi indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Dias é visto, às 16h29, sozinho no Palácio, caminhando pelo local e tentando abrir algumas portas. Depois, entra no gabinete presidencial e, em seguida, volta pelo mesmo corredor e conversa com os invasores para que deixem o prédio presidencial.
As imagens das câmeras de segurança mostram também que os extremistas receberam garrafas de água e orientações para a saída do edifício. Também é possível ver que os objetos foram entregues por militares que trabalhavam no GSI na época. Os vândalos ficaram por cerca de uma hora na porta do gabinete presidencial e não invadiram o espaço presidencial.
Comissões
A Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados ouviria às 14h desta quarta-feira (19) o ministro-chefe do GSI sobre os ataques de 8 de janeiro, mas ele não compareceu. O pedido para a realização da audiência pública foi feito pelo deputado federal Coronel Meira (PL-PE).
Antes de Dias, quem comandava o GSI era o general Augusto Heleno, na gestão Jair Bolsonaro. Ele também foi convidado para depor, desta vez na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Extremistas, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, mas não compareceu.
Em 8 de janeiro, Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF) foram invadidos e depredados por vândalos que quebraram vidraças, destruíram e roubaram obras de arte, e danificaram cômodos e móveis das sedes dos Três Poderes.
O episódio deixou um prejuízo de pelo menos R$ 21 milhões aos cofres públicos, segundo estimativas feitas pelos Três Poderes, e ocorreu por falha na operação das forças de segurança pública do DF, de acordo com a equipe de intervenção que atuou na capital federal depois do ocorrido.
O que diz o GSI?
Em nota, o GSI afirma que as imagens mostram a atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar dois andares (terceiro e quarto) do Palácio do Planalto. O órgão voltou a afirmar que as condutas dos envolvidos estão sendo apuradas e, caso comprovadas, os "respectivos autores serão responsabilizados". A reportagem também procurou o ministro Gonçalves Dias, mas não houve retorno.
Confira, abaixo, a íntegra da nota do GSI:
"A respeito de reportagem veiculada no dia de hoje, sobre os ataques do 8 de janeiro, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) esclarece que as imagens mostram a atuação dos agentes de segurança que foi, em um primeiro momento, no sentido de evacuar os quarto e terceiro pisos do Palácio do Planalto, concentrando os manifestantes no segundo andar, onde, após aguardar o reforço do pelotão de choque da PM/DF, foi possível realizar a prisão dos mesmos.
Quanto as afirmações de que agentes do GSI teriam colaborado com os invasores do Palácio do Planalto, informa-se que as condutas de agentes públicos do GSI envolvidos estão sendo apuradas em sede de sindicância investigativa instaurada no âmbito deste Ministério e se condutas irregulares forem comprovadas, os respectivos autores serão responsabilizados.
Cabe ainda ressaltar que as imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto, gravadas no dia 8 de janeiro, fazem parte de Inquérito Policial instaurado no âmbito do STF, e o GSI não autorizou ou liberou qualquer imagem que não fosse destinada aos órgãos investigativos responsáveis, tendo em vista a proteção do sigilo do inquérito, previsto no art. 20 do Código de Processo Penal."
Veja as obras destruídas pelos extremistas
No térreo:
• Obra Bandeira do Brasil, de Jorge Eduardo, de 1995 — a pintura reproduz a bandeira nacional hasteada em frente ao Palácio e serve de cenário para pronunciamentos dos presidentes da República, foi encontrada boiando sobre a água que inundou todo o andar, após vândalos abrirem os hidrantes.
• Galeria dos ex-presidentes — totalmente destruída, com todas as fotografias retiradas da parede, jogadas ao chão e rasgadas.
No 2º andar:
• O corredor que dá acesso às salas dos ministérios que funcionam no Palácio do Planalto foi severamente vandalizado. Há muitos quadros rasurados ou quebrados, especialmente fotografias.
No 3º andar:
• Obra 'As Mulatas', de Di Cavalcanti — a principal peça do Salão Nobre do Palácio do Planalto foi encontrada com sete rasgos, de vários tamanhos. A obra é uma das mais importantes do autor. Seu valor está estimado em R$ 8 milhões, mas peças dessa magnitude costumam alcançar valor até cinco vezes maior em leilões.
• Obra 'O Flautista', de Bruno Giorgi — a escultura de bronze foi encontrada completamente destruída, com pedaços espalhados pelo salão. Está avaliada em R$ 250 mil.
• Escultura de parede em madeira de Frans Krajcberg — quebrada em diversos pontos. A obra se utiliza de galhos de madeira, que foram quebrados e jogados longe. A peça está estimada em R$ 300 mil.
• Mesa de trabalho de Juscelino Kubitschek — exposta no salão, a mesa foi usada como barricada pelos terroristas.
• Mesa-vitrine de Sérgio Rodrigues — o móvel que abriga as informações do presidente em exercício teve o vidro quebrado.
• Relógio de Balthazar Martinot — o relógio de pêndulo do Século 17 foi um presente da corte francesa para dom João 6º. Martinot era o relojoeiro de Luís 14. Existem apenas dois relógios deste autor. O outro está exposto no Palácio de Versailles, mas tem a metade do tamanho da peça que foi destruída pelos invasores do Planalto. O valor desta peça é considerado fora de padrão.
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