Guedes quer os 4 meses de auxílio emergencial para vacinação em massa
Ministro da Economia falou com exclusividade ao blog e destacou planos para conter a 2ª onda do novo coronavirus e a crise na economia
Blog do Nolasco|Do R7
O Ministro da Economia Paulo Guedes espera que a segunda onda da pandemia novo coronavírus, apesar de mais mortal, seja mais curta para que os efeitos econômicos não sejam tão graves como em 2020. Para isso, Guedes defende a vacinação em massa durante o período em que o governo federal pagará o auxílio emergencial.
O Blog conversou com o ministro neste sábado (27), logo após Paulo Guedes receber a primeira dose da vacina Coronavac em Brasília. O ministro fala sobre ter ido vacinar, dos efeitos da pandemia sobre a saúde e economia e das medidas que são preparadas pelo Governo.
Veja abaixo a entrevista completa de Guedes ao Blog:
Blog do Nolasco - Ministro, como foi ser vacinado e por que esperou alguns dias?
Paulo Guedes - Eu estava trabalhando, esperei a semana inteira. E aproveitei meu primeiro dia de descanso, minha folga e fui vacinar. Eu poderia ter ido desde de segunda-feira, mas é um trabalho muito intenso.
Foi rápido? Doeu?
Muito rápido, super eficiente, um trabalho muito bom, pessoas gentis, não dói nada. É muito bom, é importante, precisamos da vacinação em massa, proteger a população brasileira, justamente, de um lado com o auxílio emergencial pra que tenham recursos durante esse período de dificuldade econômica. Mas ao mesmo tempo é essencial a vacinação em massa para que tenha um retorno seguro ao trabalho. Principalmente os invisíveis viu, são os mais frágeis, os mais vulneráveis, eles literalmente ganham o pão a cada dia. Então nós temos que vacinarmos, aproveitar esses 4 meses que nós estamos dando o auxílio emergencial e temos que vacinar toda essa população durante esse 4 meses. O Ministro Queiroga (Saúde) disse pouco antes de eu ir para a vacinação, que serão um milhão de vacinados por dia a partir do início de abril.
Em 2020 a gente teve uma perda econômica considerável, retração do PIB de 4%, a segunda onda vai prejudicar nosso crescimento econômico ou a gente vai ter uma recuperação em 2021 apesar desse cenário tão difícil, tão complicado?
Eu imagino que dessa vez, essa onda da epidemia, essa segunda onda, ela está muito mais violenta. A quantidade de mortes subiu muito mais, a nossa esperança é que com a vacinação em massa, ela apesar de ter sido um golpe mais profundo, mais intenso sobre a saúde, nós esperamos que seja uma onda curta. O problema da onda do ano passado é que ela foi muito longa, ela subiu ao longo de dois, três meses e ficou num platô dois, três, quatro meses para depois descer.
Quando chegou outubro e novembro quando parecia que estava indo embora, tanto que todo mundo desmobilizou hospital de campanha, todo mundo já estava mais ou menos preparado para um ano melhor, quando veio essa onda com novas variantes, ela é muito mais violenta, mais agressivas, você vê que as mortes subiram e faixas mais jovens (de idade) foram atingidas.
Com o distanciamento social você desacelera o contágio e com a vacinação em massa você imuniza a população. A nossa esperança é que você vacinando um milhão de pessoas por dia, a gente consiga em dois, três meses, a gente tenha atingido uma boa base de vacinação e que essa onda apesar de ser mais agressiva, a gente espera que essa onda seja bem mais curta.
Nós já estamos aí com uns 30 dias, grandes cidades com fechamento importante da economia, o senhor acha que a gente vai ser duramente afetado pela pandemia na área econômica?
Eu acho que o impacto pode ser menor, pode ser bem menos e mais breve. As pessoas aprenderam muito, a produtividade, a forma de trabalho, o monitoramento à distância. Tudo isso melhorou bastante. Nós mantivemos os sinais vitais da economia. Olha, Janeiro e Fevereiro a arrecadação foi recorde, foi acima do ano passado, já estávamos sem o auxílio emergencial e a arrecadação foi muito forte. A geração de empregos foi recorde também, 260 mil novos empregos. Janeiro é normalmente é um mês difícil, tem muitas demissões, acabam as festas de fim de ano, e os contratados são dispensados e ao contrário nós tivemos um janeiro fortíssimo.
É uma tragédia essa doença, essa pandemia, é uma tragédia terrível dimensões humanas que não tem preço, cada pessoa que morre é um universo que se estingue, do indíviduo e dos seus familiares, nós temos grandes amigos lutando nesse momento, o próprio Carlos Lamgoni que fez o choque de energia barata, o gás natural, está lutando contra a morte no hospital, muitos amigos nossos atingidos também.
Agora, com a vacinação em massa, você tem uma luz no fim do túnel, você tem uma esperança de que o impacto apesar de forte, seja muito breve. Até meados de março esse impacto não tinha chegado. Mas foi como o ano passado, chegou também em meados de março, estava tudo relativamente bom e em abril, foi um abismo né. Nós vendo essa tragédia se abatendo sobre nós novamente.
O que nós temos que dizer é o seguinte: as camadas de proteção serão lançadas, programa de crédito, manutenção de emprego, auxílio emergencial, antecipação de benefícios de aposentados e pensionistas, o diferimento do simples, ninguém pode se preocupar agora em pagar imposto, a economia está sendo travada novamente. Nós vamos fazer tudo novamente, com rapidez, dessa vez estamos mais experientes e preparados pra isso e esperamos que seja uma onda breve.
Que dia deve sair a possibilidade das empresas fazerem a redução de salários com redução de jornada, que dia deve sair a medida? O senhor já tem uma data?
Alguns dos programas já estavam prontos, mas encontram obstáculos políticos. Por exemplo, nós tinhamos uma medida muito boa, exatamente essa que você se refere, preservamos 11 milhões de empregos com esse benefício emergencial, 11 milhões de empregos formais. E era basicamente isso, você complementa o salário, a empresa pode reduzir a escala de trabalho e a gente complementava o salário para ela manter o trabalhador empregado.
Ora, em vez de pagar R$ 1 mil depois da pessoa ter perdido o emprego, é o seguro-desemprego hoje. A lógica do seguro-desemprego é essa, você espera a pessoa ser demitida e ela recebe aquele salário mínimo de R$ 1.100,00. Agora é muito melhor você pagar R$ 500,00 para pessoa ficar empregada 11 meses, ou seja, você dobra o período de cobertura. Em vez de você ter sido demitido pra ficar 5 meses recebendo seguro desemprego, é muito melhor você dar uma complementação salarial, você paga uma parte e ela então mantém o emprego por 11 meses. Custa a metade do preço e dura duas vezes mais a cobertura.
Então, apesar de ser um programa muito bem desenhado, sem impacto fiscal, a política deu uma travada. Esse programa está demorando um pouco mais porque a política deu uma travada. O outro que é a antecipação de benefício de aposentados e pensionistas, nós esperamos a aprovação do orçamento. O orçamento foi aprovado na quinta-feira, já pode ser disparado há qualquer momento. Os programas, a maior parte está pronta, e normalmente espera-se, quem dá o time das reformas é a política.
O Congresso ou o presidente da República?
Tem um que está parado no Congresso. Não é que está parado, mas que precisa ser processado, está em processamento no Congresso. O programa de crédito. O benefício emergencial, que é o problema do emprego, por exemplo, alguns parlamentares desaconselharam o presidente a mexer no seguro-desemprego. Então é a política que domina e é o certo. Nós somos uma democracia. Às vezes soluções técnicas perfeitas acabam não sendo implementadas porque politicamente tem um ponto sensível aqui e ali.
Muito obrigado Ministro.
Cuidem-se, cuidem-se. Vamos vacinar em massa porque dessa vez a onda pode ser bem mais curta, apesar que muito mais dramática do ponto de vista de óbitos. Boa sorte a todos, se cuidem e vamos ter resiliência. Vamos atravessar essa onda e sair do lado de lá com o Brasil muito mais forte e mais fraterno e nós estamos juntos nisso. Somos todos brasileiros e temos que enfrentar isso juntos.
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