Atentado, suicídio ou os dois? Brasília busca explicações
Autoridades federais têm madrugada de sobressaltos após explosões e morte diante do Supremo
Pouco mais de 12 horas depois das explosões que interromperam os trabalhos e levaram à evacuação preventiva de Supremo e Congresso, e à varredura do Planalto, autoridades que investigam as explosões seguidas de morte ao pé da estátua da Justiça, no STF, ainda buscam respostas para o ato inédito. No mundo político, as opiniões também se dividem entre os que classificam o episódio como iniciativa solitária de um suicida, e os que veem no episódio uma nova tentativa de ataque à sede do Judiciário.
Depoimento do agente de segurança que tentou abordar o homem que se aproximou “de forma suspeita” do monumento da deusa vendada – símbolo da isenção do julgamento da Justiça, relata com riqueza de detalhes os movimentos do indivíduo. Após atirar objeto na direção do prédio do STF, ele advertiu ao segurança que não se aproximasse, exibindo explosivos atados ao corpo. Em seguida deitou-se, ajustou um destes explosivos sob a cabeça e aguardou a explosão.
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Seria uma cena clara de suicídio não fosse a escolha do local para esta prática, nem o histórico de atividade política e as publicações recheadas de simbolismo, com labaredas, frases de efeito, algumas em tom de ameaça a políticos e fotos com a bandeira nacional, feitas pelo homem nas rede sociais. Elementos que foram levantados rapidamente nas horas que se seguiram às explosões e à morte do “lobo solitário”, como o classificou a governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão.
Na manhã seguinte ao episódio, o presidente do Supremo, Roberto Barroso, declara que o inquérito aberto para apurá-lo será anexado ao inquérito do 8 de janeiro, se ficar caracterizada vinculação com os ataques às sedes dos três poderes ocorrido em 2023. A declaração deixa uma avenida de dúvidas sobre o eventual caráter político do ato que resultou na própria morte do homem, identificado como Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos.
Na manhã desta quinta, enquanto a polícia especializada ainda desarmava ou detonava pelo menos outros 4 artefatos deixados por Francisco, as análises e interpretações do episódio oscilam entre classificá-lo como homem-bomba a tirar a própria vida em protesto contra o Supremo, ou alguém em surto psicótico, em ação solitária, que representaria uma ameaça menor às autoridades e ao sistema como um todo.
O correr das investigações dará solidez a esta ou aquela interpretação dos fatos. Mas os dados preliminares já permitem afirmar que, a despeito da sanidade mental do homem vitimado pelas explosões que provocou, o extremismo político passou a inserir o Brasil na rota de atos de violência política semelhantes a atentados. A novidade começa a tomar ares de rotina, e leva o país a sobressaltos até hoje atípicos.
O parque monumental brasiliense, criado no auge do desenvolvimentismo da era JK pelos geniais arquitetos e paisagistas convocados pelo presidente que ergueu a capital nos anos 60 está desatualizado. Planalto, Congresso e principalmente o Supremo são obras de arte arquitetônicas indefensáveis: completamente vulneráveis a uma simples pedrada, e ao sobrevôo de jatos superônicos (que estilhaçam suas fachadas), foram criados para representar a beleza da harmonia entre os três pilares da democracia assim como os gregos a conceberam.
As explosões em Brasília parecem enfaticamente expressar o fim da era da inocência e o passaporte para uma viagem à irracionalidade – e seu incerto caminho de volta.
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