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O Racismo interpretado

Crônicas do Stoliar|Do R7

O Racismo precisa ser reconhecido. Mas calma, não falo de premiar ou exaltar esse crime... Eu falo de aceitar que ele existe, está entranhado na nossa cultura e precisa ser extinto. Foi isso mesmo que você leu, amigo! Usei a primeira pessoa do plural para falar de um crime, mas, assim como todo brasileiro, não acho que já cometi algum. Afinal sou branco, de classe média, nascido no Leblon... Quem assim comete crime nesse país?? Ainda não entendeu? Então, vou explicar melhor como isso começou.

Falo hoje do preconceito racial, um brasileiro que vive aparecendo por aí mas quase ninguém vê. 

Esse forasteiro apareceu por aqui quando o povo da floresta viu o primeiro homem branco, uns 500 anos atrás. Mas, naquela época, como era muito novo por essas bandas, ainda agia como um bebê, sabe?! Não falava, nem era compreendido por todos. Mas, o menino cresceu rápido quando os primeiros navios chegaram da África. Foi ligeiro. Se tornou grande e forte, a ponto de a princesa Isabel (incomodada com tanta pujança e vigor) decidir assinar uma lei para acabar de uma vez por todas com esse criminoso que matava e escravizava gente na recente e "promissora" sociedade brasileira.

Mas você pensa que ele morreu? Não, não caro leitor. Ele não morreu! Só foi preso mesmo. Dentro de cada um de nós. Mas esse é daqueles detentos com bom comportamento que recebem benefícios. Vira e mexe, ele tem alforria para sair, passear e talvez voltar para a prisão. E acredite: isso sempre aconteceu ao longo da nossa curta história. Sabe por quê? Porque o racismo está na nossa cultura. É ensinado em casa, na escola, na conversa do bar. Quer ver? Vou citar só algumas expressões que a gente aprende ainda criança:

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A "Ovelha NEGRA" da família é aquela pessoa diferente do grupo, que só faz "besteira". Quem nunca?

"DeNEGRIR" alguém é o mesmo que "difamar", manchar a imagem. Vai dizer que jamais disse essa palavra? Me engana...

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E a expressão "A coisa tá PRETA"? Significa que vem algo difícil, perigoso, desagradável pela frente.

"DOMÉSTICA" surgiu quando os escravos "rebeldes" precisavam ser "domesticados" pelos brancos.

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"A DAR COM PAU" é uma referência ao "pau de comer", um toco de madeira usado nos navios negreiros para dar comida a quem fazia greve de fome na travessia da África para o Brasil. Morrer era "melhor" do que ser escravizado...

"MEIA-TIGELA" se refere a uma pessoa medíocre né? Era o apelido do negro que só recebia a metade da tigela de comida porque não conseguia alcançar a "meta" nas minas de ouro. 

"Mercado NEGRO", "Magia NEGRA", "Lista NEGRA"... As expressões racistas que se aprendem desde criança no Brasil dariam para encher essa página. Como você interpreta agora tudo isso?

Não é de se estranhar que um rapaz negro numa bicicleta elétrica tenha sido confundido com um ladrão por um casal branco, como aconteceu essa semana no Leblon. O professor de surfe precisou provar na hora que não havia roubado a própria bicicleta. Parece estranho, mas é verdade e pasmem, é comum! Mas fiquem tranquilos, são só "saidinhas rápidas"...

Aliás, a polícia prendeu o verdadeiro ladrão: Um rapaz branco conhecido como "Lorão". Ele já havia sido preso outras sete vezes. Por essa ninguém esperava né?! 

Mesmo assim, o caso do professor de surfe negro foi registrado pela delegada como CALÚNIA! Ela não reconheceu o crime de racismo porque não houve ofensa de caráter racial ao rapaz. 

Pela lei brasileira, o casal branco é que foi mal interpretado... Coitado.

Pelo jeito, o preconceito racial continua firme e forte no Brasil sem receber o merecido reconhecimento. Que seja também só questão de interpretação.

A gente se vê na semana que vem.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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