Flamengo, Palmeiras e a ‘Escolha de Sophia’ no final da temporada
Tal qual a mãe que precisa decidir qual filho salvar, rivais postulantes aos grandes títulos lidam com escolhas difíceis
Espaço Prisma|Maurício Noriega

A história é bastante conhecida. Uma mãe polonesa precisa escolher qual filho salvar da brutalidade nazista na Segunda Guerra. O filho mais velho, mais forte e saudável, ou a filha caçula, mais jovem e frágil.
Em seu romance A Escolha de Sophia, o escritor norte-americano William Styron usa a “escolha” como fio condutor do texto que é um grito contra os horrores do nazismo.
Claro que há um exagero em minha premissa. Proposital. Uma alegoria relativa a escolhas. Todos precisam fazê-las e, muitas vezes, com grandes perdas envolvidas.
No caso de Flamengo e Palmeiras, que brigam ponto a ponto pelo título do Campeonato Brasileiro e decidirão a Copa Libertadores da América, as escolhas são inevitáveis.
Ao que parece, o Palmeiras já escolheu abandonar o Brasileiro para juntar suas forças na tentativa de conquistar o tetracampeonato continental. Seria jogo psicológico do treinador Abel Ferreira? Uma forma de provocar seus jogadores e tentar jogar com a questão do favoritismo, que é exageradamente abordada no futebol?
O Flamengo, que deu um passo gigantesco rumo à taça nacional, também precisa lidar com uma escolha difícil. Terça-feira joga com o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte.
Jogo pegado, rivalidade enorme, gramado sintético. Qual é a melhor opção? Jogar com força máxima e confirmar o título em caso de vitória e tropeço do Palmeiras contra o Grêmio, em Porto Alegre? Ou seria melhor poupar os titulares com espaço de apenas quatro dias entre o jogo em Belo Horizonte a final continental em Lima?
Desistir do Brasileiro é uma boa escolha de Abel Ferreira para o Palmeiras? Concentrar esforços numa decisão de jogo único, sujeita a acontecimentos aleatórios e cujo resultado final nem sempre reflete o desempenho em campo? Ou seguir lutando com todas as forças pelas duas taças?
De fora é fácil analisar.
Na teoria, lutar sempre com todas as forças por todos os objetivos possíveis parece a melhor resposta. Carregada de romantismo e simbologia.
Na prática, há muitos fatores envolvidos. Jogadores extenuados, alguns contundidos. Confiança em alta ou em baixa. Logística de viagem. Análise de momento individual de atletas e características de adversários.
A escolha flamenguista é mais fácil, sem dúvidas. Os quatro pontos de vantagem dão a Filipe Luís uma enorme vantagem estratégica no Brasileirão. O rubro-negro tem três jogos a fazer no torneio nacional. Um em casa, contra o Ceará, e dois fora, diante de Galo e Mirassol.
Além dos quatro pontos de vantagem sobre o Palmeiras, o Flamengo tem uma vitória a mais e um saldo de gols acachapante de 50 contra 29. Mesmo que vá com os reservas contra o Atlético, perca e o Palmeiras resolva tirar tudo de seus titulares e vença o Grêmio, o Flamengo seguirá líder com um ponto de vantagem.
Terá poupado seu melhor time e obrigado o rival a esgotar suas forças para seguir lutando, mas com outras duas partidas fora de casa, contra Atlético Mineiro e Ceará. Isso tudo na semana da final da Libertadores.
Caso esteja falando a verdade e não jogando balões de ensaio, Abel Ferreira deve mandar um catadão palmeirense a Porto Alegre, enquanto preserva seus titulares em busca da solução de problemas técnicos, físicos e táticos que abundam.
Pelo que mostrou técnica, física e taticamente na vitória sobre o Bragantino, Filipe Luís pode se dar ao luxo de administrar a vantagem e guardar seu time mais forte para a partida de sábado, em Lima, que vale o primeiro tetracampeonato continental de um time brasileiro.
Escolha fácil? Difícil? Qual seria a sua escolha?
Perdão pelo spoiler, mas a Sophia do romance escolheu salvar o filho mais velho, entendendo que a caçula, sendo mais frágil, resistiria menos à estupidez do campo de concentração. Porém, lidou com a dor e o remorso da escolha pelo resto da vida.
Maurício Noriega é jornalista e comentarista da RECORD
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