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Leão erra o alvo ao criticar técnicos estrangeiros — ainda mais diante de Ancelotti

Ex-goleiro reclama de ‘invasão’ de estrangeiros durante evento da CBF e ignora que o futebol moderno é global por natureza

Espaço Prisma|Por Zé da Zaga

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O técnico Carlo Ancelotti participa do Fórum de Futebol Reprodução/Jo Marconne/CBF

A cena tinha tudo para ser histórica. No palco do Fórum Brasileiro de Treinadores, promovido pela CBF, um dos maiores técnicos da história do futebol mundial, Carlo Ancelotti, estava diante de ídolos e ex-treinadores brasileiros. Mas o momento acabou manchado por uma fala infeliz de Emerson Leão. Diante do técnico da seleção, Leão disparou: “Eu não gosto de treinadores estrangeiros no meu país”.

A frase, além de constrangedora pelo contexto, expôs uma contradição que há tempos ronda parte do futebol brasileiro: a resistência à modernização. Criticar a presença de um treinador estrangeiro — justamente quando o escolhido é um multicampeão como Ancelotti — é mais do que falta de tato. É uma recusa simbólica ao aprendizado.


Leão foi um goleiro brilhante, ídolo do Palmeiras, campeão do mundo em 1970, referência de liderança e disciplina. Como técnico, teve bons momentos em clubes brasileiros e chegou à seleção, mas nunca construiu uma carreira internacional de peso. Já Ancelotti coleciona títulos nas cinco maiores ligas da Europa, cinco taças da Liga dos Campeões e respeito unânime entre jogadores e dirigentes. São trajetórias incomparáveis.

Ao criticar o “estrangeiro” sentado ao seu lado, Leão não apenas errou o timing — errou o século. O futebol há muito deixou de ter fronteiras. Clubes e seleções de ponta contratam por competência, não por passaporte. Guardiola, Mourinho, Klopp, Scaloni e o próprio Ancelotti são exemplos de que o talento não tem nacionalidade. E se o Brasil atrai um nome desse calibre, o mínimo que se espera é hospitalidade e humildade para ouvir.


A declaração de Leão até ensaia uma autocrítica ao admitir que “os próprios técnicos brasileiros são culpados” pela falta de espaço. Mas o problema não é a presença dos estrangeiros — é a acomodação dos nacionais. O futebol brasileiro formou uma geração de treinadores repetitivos, presos a discursos e métodos antigos, incapazes de evoluir ao ritmo do jogo moderno.

O país que sempre foi exportador de talento agora precisa importar ideias. E não há vergonha nisso. Vergonhoso é confundir orgulho com ressentimento — ainda mais diante de um técnico que conquistou o respeito do mundo todo.


O gesto de Leão, naquele palco, serviu de retrato de um Brasil dividido entre o passado e o futuro. De um lado, a nostalgia; do outro, a necessidade urgente de reinvenção. Se o futebol brasileiro quiser voltar ao topo, talvez seja hora de ouvir mais Ancelotti — e reclamar menos da sua nacionalidade.

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