Marketeiros são cobrados e responsabilizados pela queda de aprovação do governo
Parece, mas não é: Há um corre-corre nas salas do Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo
Heródoto Barbeiro|Heródoto Barbeiro
Os marketeiros estão de cabelo em pé. São cobrados diariamente e responsabilizados pela queda e/ou aprovação do governo. E são pagos para melhorar a imagem especialmente do presidente, haja vista que no imaginário do povo brasileiro o governo federal é centrado no presidente da República.
Lutar contra a inflação, o dragão da maldade, não é para qualquer profissional de comunicação. O que dizer para a população que chega ao supermercado e os preços de hoje não são mais os de ontem? O agravante é que o presidente se isenta de culpa, usa a velha tática de transferir o problema para o governante anterior e fala que recebeu uma “herança maldita”.
O fato é que a mídia colabora com a avaliação que fazem do governo com editoriais, artigos críticos assinados e pesquisas eleitorais nas principais cidades brasileiras. O que fazer???
Há um corre-corre nas salas do Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo. O bater de cabeças não é apenas uma figura de linguagem. Diante do número de assessores, há trombadas físicas nos corredores.
Precisam mostrar serviço, ainda que os índices de aprovação não melhorem. Incompetência? As verbas publicitárias são polpudas e as principais, e caríssimas, empresas de marketing político estão na parada. Vêm do centro-sul, antecedidas por nomes de famosos marketeiros e se julgam “a última Coca-Cola do deserto”.
Só falta dar certo: melhorar a percepção que a população tem do governo e do presidente da República. Um desafio inédito na história da Nova República, comprometida eleitoralmente em melhorar a vida dos brasileiros de uma forma geral.
Em último caso, é necessário olhar para o passado e procurar um meio de comunicação que seja de fácil acesso e possa atingir as pessoas do centro das grandes cidades, aos rincões mais distantes da Amazônia até as fronteiras longínquas do sul.
O rádio é escolhido como o propagador das ideias e dos feitos do governo e o mais adequado ao estilo do presidente, um homem apegado ao passado. O Palácio do Planalto cria o Conversa ao Pé do Rádio, sempre às sextas-feiras, com uma edição logo às seis da manhã e outra no início da noite.
Com a morte de Tancredo Neves, o mandato de presidente “caiu no colo” de José Sarney, o então vice-presidente. Durante cinco anos o programa era exibido em todas as rádios do Brasil, haja vista que ainda não havia as redes sociais. Era uma cópia do Conversa ao Pé do Fogo, apresentado nos Estados Unidos por Franklin Roosevelt ao subir ao poder em 1933 com a promessa de debelar a crise do capitalismo.
Sarney usa e abusa dos seus 5 minutos, não há contestações ou perguntas de jornalistas. É pré-gravado e analisado pela equipe de marketeiros. Ele aproveita para criticar duramente o processo de redação da Constituição que estava sendo elaborada pela Assembleia Constituinte.
Nem mesmo o rádio foi capaz de capitalizar melhores índices de aprovação para o governo e nem para a figura do presidente, consolidado como um velho coronel nordestino.
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