Governo que contrata mercenários corre riscos
Pixabay/@tprzemMercenário é pago para matar. Não tem pátria, bandeira, ideologia nem mesmo lado. Luta por dinheiro. Seu objetivo é cumprir o mais rápido possível sua missão, receber o que foi combinado com o contratante e buscar outra empreitada.
Muitas vezes são recrutados com o que de pior existe na sociedade, até mesmo assassinos profissionais presos no sistema carcerário. Liberados, podem obter o perdão do Estado e recuperar a liberdade de delinquir com autorização oficial.
Veja também
-
Heródoto Barbeiro
Parece, mas não é! O uso político da construção do estádio de futebol na capital da República
-
Heródoto Barbeiro
Parece, mas não é! As viagens do presidente no 'aviãozinho da alegria'
-
Heródoto Barbeiro
Parece, mas não é! Fazenda improdutiva gera conflito entre latifundiários e sem-terra
Não são fáceis de ser comandados, vez por outra se rebelam, especialmente quando o pagamento atrasa. Nada os une a não ser o objetivo comum de derrotar o inimigo e ganhar dinheiro.
A ação do mercenário não tem limite. É acostumado a matar a sangue-frio, estuprar mulheres e criar legiões de órfãos famintos. Nada os sensibiliza nem intimida. Sem religião, não temem nenhum castigo divino antes nem depois da morte. Seus olhos refletem ódio e ressentimentos não se sabe por quem.
Ter mercenários próximos à capital do país é um perigo. Sob qualquer pretexto podem se voltar contra o governo que os contratou. Falta de pagamento é o principal, mas manter estrangeiros no país é motivo para outras discordâncias de choques.
Mais de uma vez a história registra casos de mercenários que mudaram de lado em pouco tempo. Os chefes usam a tática do quem paga mais. Fazem um verdadeiro leilão do trabalho dos soldados, muitos pagam com a própria vida e não voltam para sua terra de origem.
É uma tradição arregimentar mercenários entre os piores condenados nas cadeias públicas. Assassinos, estupradores, genocidas, enfim gente que está destinada à forca ou a apodrecer nas masmorras do cárcere.
Uma vez alistados nada têm a perder. Obedecem ao chefe até onde lhes convém e não raramente desertam para as forças contrárias. Em suma, nem mesmo quem paga o salário deles tem certeza de que não será abandonado ou assassinado pelas costas.
Para contratar mercenários é preciso dinheiro. Muito dinheiro. Os gastos são maiores se for necessário comprar material de guerra. Armar uma marinha não é fácil. Além de dinheiro, é preciso ter navios à venda.
O Brasil, para consolidar sua independência, precisa expulsar as tropas portuguesas estacionadas na antiga colônia. O aventureiro, ex-comandante escocês, acusado de pirataria e de ser louco por dinheiro, é contratado a peso de ouro.
Lord Cochrane é nomeado chefe da esquadra imperial. Tem como missão destruir ou apresar navios portugueses, bloquear portos e expulsar os lusitanos resistentes à independência do Brasil.
Sua ficha é extensa: lutou contra Napoleão, no Peru e no Chile. É contratado por dom Pedro 1° para expulsar portugueses de cidades no Norte e no Nordeste. Tem sucesso em Salvador, São Luís e Rio de Janeiro.
É acusado de pirataria e divide a esquadra com John Grenfell. Para as tropas terrestres é contratado o francês Pierre Labatut, outro aventureiro.
Quem pensa que mercenários são coisa do passado, se enganou — eles estão atuantes na Ucrânia e na África.
Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.