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Luiz Fara Monteiro

Especial: comandantes respondem dúvidas mais frequentes de passageiros

O blog reuniu 3 especialistas para esclarecer algumas das curiosidades sobre aviões e viagens.

Luiz Fara Monteiro|Do R7

Juliana Steck: ex-comissária e piloto explica aviação no canal Ju Helps
Juliana Steck: ex-comissária e piloto explica aviação no canal Ju Helps

Por mais que se afirme e prove que a aviação é o meio de transporte mais seguro, muitas pessoas ainda veem esse segmento com temor ou desconfiança.

Pesquisa do Instituto Real Time Big Data divulgada pelo telejornal Fala Brasil, da Record TV, mostrou que 32% dos brasileiros têm medo de voar. Outros 36%, mesmo não admitindo medo, confessam que passam por algum tormento ao embarcar em uma aeronave.

Mesmo passageiros mais acostumados a voar têm algum tipo de receio ou conhecem poucos detalhes que podem tranquilizá-los ou simplesmente matar a curiosidade sobre fatos ou procedimentos a bordo.

Você, leitor do blog, pode ter muitas perguntas sobre o funcionamento, detalhes e regras da rotina que cerca a aviação, não é mesmo?


Um texto que circula há algum tempo na Internet destaca 15 dúvidas e curiosidades sobre a aviação.

Questões que os passageiros comuns têm pouco ou nenhum conhecimento.


O blog republica esses temas, mas com as contextualizações e respostas de quem realmente conhece o assunto: pilotos profissionais com uma longa experiência na cabine de grandes jatos.

Para esta tarefa o blog convidou 3 aeronautas:


Juliana Steck já foi comissária e piloto de linha aérea. Atualmente fala para uma legião de seguidores do canal Ju Helps, no YouTube, onde fala de aviação. Ela também administra cursos para futuros pilotos.

Fernando Pamplona comandou durante anos cabines de vários aviões, especialmente os modelos do Boeing 737. Pamplona ensaiou uma aposentadoria recentemente mas o setor não o deixou descansar. Foi chamado por uma grande companhia para colaborar com sua expertise.

Paulo Licati também comanda Boeing 737 e operou por quase uma década na ponte aérea, que liga dois dos mais desafiadores aeroportos do país: Congonhas e Santos Dumont. Licati é especialista em prevenção de acidentes aeronáuticos e especialista em Logística e Supply Chain pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

A seguir, numeradas, estão as perguntas e curiosidades. E abaixo dos parágrafos, os comentários e respostas dos nossos convidados.

Comandante Fernando Pamplona: experiência em Boeing 737
Comandante Fernando Pamplona: experiência em Boeing 737

1 - Existem aviões que podem voar várias horas com um único motor

Embora pareça impensável, algumas aeronaves certificadas com ETOPS (regulamentos da Organização de Aviação Civil Internacional) podem voar por horas, mesmo que alguns de seus motores não estejam funcionando. Isso aconteceu em 2014 com o Boeing 787 Dreamliner quem tem que voar cinco horas em um único motor.

Segundo Fernando Pamplona, comandante de Boeing 737, foi esta confiabilidade da tecnologia que permitiu que hoje os voos de longo curso sejam feito com bimotores, e não mais tri ou quadrimotores.

O comandante Paulo Licati informa que os motores aeronáuticos têm uma confiabilidade muito alta. “Para aeronaves com dois motores e que sobrevoam lugares remotos, como é o cruzamento de um oceano, precisam estar certificadas para voar com apenas um dos motores até o local mais próximo que tiver uma pista, seja em que posição geográfica estiver. Para isto é preciso que o fabricante prove e demonstre esta capacidade”.

Juliana Steck lembra que qualquer aeronave de mais de um motor pode voar pelo tempo necessário para que o piloto faça o pouso, desde que haja um aeroporto utilizável na rota. Porém, no geral, nenhuma aeronave poderá ficar a mais de 90 minutos de uma pista conveniente sem que haja essa certificação chamada ETOPS [sigla em inglês para Extended-range Twin-engine Operational Performance Standards]. Para isso são utilizadas aeronaves com vários sistemas redundantes, garantindo que mesmo a uma distância de muitas horas de um aeroporto, elas possam chegar em segurança, como no caso do [Boeing] 787 citado no ítem acima. Ju ainda lembra que todos os jatos de passageiros conseguem decolar mesmo que apresentem uma pane após a velocidade em que não é mais possível parar o avião na pista, conhecida tecnicamente como ‘V1’.

2 - O lugar mais sujo do avião é bem na frente do passageiro, na mesinha de refeições

Ao contrário do que você possa pensar, o lugar mais sujo do avião não é o banheiro, mas a ferramenta usada para abrir o compartimento localizado no assento oposto. Portanto, toda vez que você gira o botão para abaixar a mesa do assento dianteiro, você está tocando no ponto mais sujo de um avião.

“Sim, é verdade mesmo. Afinal, o tempo que se passa com a mesa é muito maior do que no banheiro. Além disso o cuidado no banheiro é sempre maior que numa simples mesa”, explica Fernando Pamplona.

“Eu não concordo [com o ítem 2], prefiro comer na mesinha do que na privada. As aeronaves são limpas regularmente”, diz a Ju Helps.

3 - Se alguém morre durante o voo, o corpo pode ser seu companheiro de viagem

Se um passageiro morre durante a viagem, os protocolos variam de acordo com cada companhia aérea, embora não muito. Em princípio, a maioria das companhias aéreas opta por colocar o corpo nas últimas filas, independentemente de haver passageiros ou não. Normalmente, o corpo é movido para um assento com poucas pessoas por perto. Se os assentos de turistas estiverem ocupados, eles irão para a primeira classe.

Ju Helps concorda a afirmação. Mas ressalta que o melhor seria trocar o termo “assentos de turistas para assentos da classe econômica”.

Fernando Pamplona reafirma que se o avião estiver cheio, é isso mesmo. “Lembre-se que o lugar mais seguro para manter alguém é sentado e com o cinto do assento, esteja vivo ou não”, ressalta.

Comandante Paulo Licati: especialista em prevenção de acidentes
Comandante Paulo Licati: especialista em prevenção de acidentes

4- Quanto tempo dura o oxigênio nas máscaras a bordo?

Máscaras de aeronaves, que fornecem oxigênio em tempos difíceis, podem fornecer um fluxo contínuo de ar por 12 a 22 minutos. É tempo mais do que suficiente, disse Dan Guzzo, com vasta experiência na área de segurança operacional. "A descida até a altitude onde você pode respirar sem as máscaras leva de três a cinco minutos."

Ju Helps explica: “o tempo de descida assim como o tempo de oxigênio das máscaras depende ainda para qual tipo de rota a aeronave está homologada também”.

Ela continua: “As aeronaves que sobrevoam as Cordilheiras têm que estar equipadas com geradores de oxigênio de 22 minutos, pois o pilotolevará mais tempo para sair das áreas onde as elevações são maiores e o oxigênio é mais escasso”. Os geradores de oxigênio são químicos e a reação causada para gerar oxigênio esquenta os geradores a temperatura elevada”. Ju destaca que uma aeronave que voar sobre grandes extensões de água têm que ser maritimizadas, ou seja, levar coletes e botes infláveis

5 - Caixas pretas não são pretas

As caixas pretas em que são mantidos os registros de tudo o que acontece no comando do avião, não são realmente pretas, mas de cor laranja. Para a sua construção é utilizada uma tinta, por um lado resistente ao calor, e por outro impressionante o suficiente para localizar após um acidente.

Fernando Pamplona reforça: “São laranja aeronáutico, que é um tom de laranja que não existe na natureza, pois facilita sua localização”.

Ju Helps acrescenta que as caixas são divididas em dois tipos: uma grava dados de voz na cabine de comando; a outra grava dados [técnicos] do voo, hoje, de forma digital. A ex-piloto lembra que “as aeronaves possuem transmissores localizadores de emergência tanto portáteis como fixos. E que em caso de acidentes transmitem a posição da aeronave possibilitando a captação por outros aviões, inclusive os de busca e salvamento”.

A trava da mesa de refeição é o local mais sujo do avião. Lembre sempre de higienizá-la antes do uso
A trava da mesa de refeição é o local mais sujo do avião. Lembre sempre de higienizá-la antes do uso

6 - Qual é o momento mais perigoso de um vôo?

Se o avião estiver em voo, há muito pouca chance de um acidente, mas sim, no momento da decolagem e especialmente no pouso, É quando ocorre a maioria dos acidentes aéreos.

“Por estatísticas, esse momento ocorre entre a aproximação final e a corrida de pouso. São os pontos mais críticos”, diz Paulo Licati.

Pamplona diz que a afirmação é correta. “E quando a aerodinâmica do avião está mais ‘diferente’ do que quando ele voa em [altitude de] cruzeiro, além disto as velocidades são mais baixas e a proximidade com o chão limita o tempo de reação”.

Nota do Blog: Certa vez perguntaram a um comandante qual seria o momento mais perigoso de uma viagem de avião. Para reforçar o alto nível de segurança aeronáutico, o experiente piloto respondeu: “O momento mais perigoso de uma viagem de avião é aquele compreendido entre o instante em que você sai de casa ou do hotel até o momento em que você chega no aeroporto”.

7 - Os assentos mais seguros são aqueles na parte de trás?

Diante de um hipotético acidente, coisa que, comprovadamente, acontece muito raramente, quem se encontra na parte traseira do avião terá mais chance de sobreviver. Em 2007, a revista Popular Mechanics analisou dados de todos os acidentes de avião desde 1971 que tiveram sobreviventes e mortos. Para realizar o trabalho, ele teve acesso aos bancos dos passageiros. Desta forma, ele foi capaz de observar que aqueles situados nos assentos que ficam na parte inferior do avião, atrás das asas, eles têm 69% de chance de sobreviver em caso de acidente, enquanto aqueles que estão localizados nos assentos que ficam na frente das asas do avião, têm um 56% de chance de permanecer vivo. Os 15 assentos da frente oferecem 49% de chance de sobrevivência.

“Com números não se discute, porém depende muito do tipo de evento envolvido”, afirma o comandante Fernando Pamplona.

Toalete: segredo para destravar a porta
Toalete: segredo para destravar a porta

8 - Apontar emissores a laser para aviões é ilegal

Se alguém com um apontador laser quiser bancar o engraçado e apontar para um avião na fase de aproximação, pode acabar na prisão, de acordo com a lei americana. Quem for preso por isso pode receber penas severas que podem chegar a 5 anos.

“No Brasil também. A diferença é que lá os meios de localização do emissor, além do rigor na pena, proporcionam a inibição do ato”, diz Pamplona.

Ju Helps lembra que “os lasers ofuscam a visão dos pilotos, havendo inclusive, casos de danos à retina”.

9 - A tripulação tem o segredo de como entrar no banheiro mesmo que a porta esteja travada

Ao entrar no banheiro de um avião, mesmo colocando a fechadura, isso não impedirá que a tripulação entre em caso de emergência. Ele usará um mecanismo simples que só eles conhecem.

“Isso também serve para checar e travar os toaletes antes dos pousos e decolagens”, lembra a Ju.

Fernando Pamplona confirma existência do segredo. “Mas não revelo o segredo”, brinca.

Licati reforça: “Segredo é segredo, não posso falar”.

10-Existe companhia aérea que nunca registrou acidente fatal (na era dos jatos)?

A companhia aérea australiana Qantas nunca teve um acidente fatal uma vez que os chamados jatos foram incorporados à aviação comercial em 1952, ou seja, o avião movido a motores a jato, o que significou um salto na aviação, tanto comercial quanto militar.

Embora nenhum dos convidados tenha comentado o ítem número 10, o blog destaca que a Qantas foi listada como a aérea mais segura do mundo numa pesquisa divulgada pela Airline Rating. A avaliação traz as 20 companhias mais seguras no ano de 2021.

A australiana Qantas: companhia mais segura do mundo
A australiana Qantas: companhia mais segura do mundo

11-A água do avião tem bactérias?

A água dos banheiros dos aviões está contaminada. De acordo com um relatório do The Wall Street Journal, Bactérias como salmonela e staph foram encontradas na água de algumas aeronaves que investigaram, assim como em ovos de insetos.

Ju Helps garante que “no geral, nas melhores companhias isso não acontece, pois a água é testada pela Vigilância Sanitária e tratado para uso”.

Fernando Pamplona minimiza: “Provavelmente nossa caixa d'água de casa também estejam assim”.

12 - Piloto e o copiloto são obrigados a fazerem refeições diferentes ?

Isso porque, se a comida estiver contaminada, sempre haverá um piloto em boas condições para pilotar o avião. Esta não é uma regra das autoridades aéreas, mas a maioria das companhias aéreas prefere aplicá-la porque uma intoxicação alimentar da tripulação pode complicar a continuidade do voo.

“Sim, por motivos de segurança. Se uma comida estiver estragada o outro tripulante provavelmente estará resguardado”, afirma Paulo Licati.

O comandante Fernando Pamplona conta que “aqui [no Brasil] não é regra, mas algumas empresas fazem isto sim como meio de prevenção, e sempre o [profissional] mais novo fica sem escolha.

Bimotores podem voar por horas com apenas um motor
Bimotores podem voar por horas com apenas um motor

13-Por que a tripulação não apaga todas as luzes do avião para ajudar passageiros adormecerem?

Ao contrário do que se pensa, quando a tripulação diminui a luminosidade da cabine, não é para que as pessoas durmam melhor, mas para prepará-las para um eventual acidente e que seus olhos estão prontos para guiá-lo no escuro.

“O ideal é que a luminosidade seja a mesma do exterior da aeronave”, explica Ju Helps. Ela destaca mais uma curiosidade: “Os pilotos nunca irão deixar a temperatura da cabine muito mais do que 22º ou 23º pois isso aumenta a quantidade de pessoas que passam mal a bordo. Por isso eles preferem que você passe um pouco de frio”.

Fernando Pamplona faz uma observação: “A regra só vale para pouso e decolagem, em [altitude de] cruzeiro, é pra você dar menos trabalho mesmo”.

Nota do blog: as aeronaves mais modernas trazem configurações de luminosidade inteligente. O Boeing 787-Dreamliner, por exemplo, traz luzes de LED reguladas de acordo com o tempo de voo e fuso horário do local de destino, para o processo de adaptação do passageiro ao cruzar diferentes longitudes. A iluminação no interior da aeronave pode simular a irradiação de luz típica da manhã ou da noite, a fim que o organismo do passageiro se adeque mais facilmente ao horário de seu destino final.

Boeing 787-Dreamliner: Iluminação ajustável para diminuir jet lag
Boeing 787-Dreamliner: Iluminação ajustável para diminuir jet lag

14 - É impossível abrir a porta de um avião durante o voo ?

A menos que você seja um super-herói, a força que uma pessoa deve usar para abrir a porta de um avião em pleno voo está além das possibilidades humanas. Então não precisa se preocupar, é impossível para um passageiro sem noção confundir o banheiro com a porta para o exterior.

“Sim é verdade, porém pode provocar um vazamento de pressurização, ainda que não cause a perda de pressão total”, explica Fernando Pamplona.

“Podemos usar também o exemplo da panela de pressão: ela não abre se estiver com pressão. A aeronave também não”, complementa a ex-piloto Ju Helps.

15 - 43% dos pilotos adormecem enquanto pilotam o avião

De acordo com um estudo da British Airline Pilots Association (BALPA) entre um grupo de 500 pilotos pesquisados, 43% admitiram ter adormecido acidentalmente durante a tripulação do avião, mas nenhum causou um acidente.

O comandante Paulo Licati, especialista em fadiga do aeronauta, explica:

“O sono pode ser incontrolável para qualquer pessoa. De forma didática, o deficit de sono começa a ocorrer a partir da 16º hora acordado. E uma conta simples, para a maioria das pessoas, para cada hora de sono temos duas de autonomia acordado”.

Licati revela dados em que “o sono demonstrou ser um grande regulador da homeostase humana (habilidade de manter o meio interno em um equilíbrio), em razão da sua imensurável pertinência no revigoramento dos sistemas do corpo”.

Quando o débito de sono ocorre em conjunto com os horários da madrugada, a possibilidade de micro sonos é muito grande. Por isso a Organização de Aviação Civil através do DOC 9966 prevê o descanso controlado durante o voo para os tripulantes. Mas o órgão regulador de cada estado deve ter isto previsto também em seus regulamentos. Este procedimento seguido com bases científicas pode melhorar e muito o estado de alerta nos momentos de maior carga trabalho, ou seja durante o pouso”

No Brasil, a lei nº 13.475 de 28/08/2017 (nova lei do aeronauta) trouxe grandes avanços, que ainda precisam ser melhorados. De qualquer maneira, ja traz muitos benefícios para mitigar o risco da fadiga humana nas operações aéreas.

Fernando Pamplona acredita na quantidade de pilotos que adormeçam em voo e reforça a afirmação do colega Paulo Licati: “Pequenos cochilos, algumas vezes, estão até previstos em manual. E por vezes, em voos muito calmos, pode ocorrer alguma ‘saída do ar’ involuntária. “Somos treinados pra gerenciar isto, e quando acontece o outro fica mais atento”, tranquiliza.

Ju Helps ironiza o índice de pilotos que tiram uma soneca nas alturas:

“Só 43%? No Comments. kkkk”

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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