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Sucessão de panes em motores desafiam o setor de manutenção da GOL 

Dois incidentes envolvendo aeronaves da companhia foram registrados nesse sábado no Aeroporto Santos Dumont. Outros sete eventos ocorreram ao longo do ano, a maioria relacionada à indicação de baixa pressão do motor

Luiz Fara Monteiro|Do R7

GOL: panes em motores desafiam o setor de manutenção da companhia
GOL: panes em motores desafiam o setor de manutenção da companhia GOL: panes em motores desafiam o setor de manutenção da companhia

O ano de 2023 tem sido desafiador para o setor de manutenção da Gol Linhas Aéreas. Até a última sexta-feira a companhia acumulava sete ocorrências de falhas nos motores de suas aeronaves. Se uma luz amarela havia sido acesa com a média de um incidente a cada mês, a situação ficou muito mais tensa a partir desse sábado (02), quando outras duas situações incomuns foram registradas no mesmo dia.

No primeiro, o voo G31003 que ia do Santos Dumont, no Rio de Janeiro, para Congonhas, em São Paulo, teve que retornar ao aeroporto de origem depois que uma densa fumaça tomou conta da cabine. O incidente foi registrado em vídeo. "De acordo com a GOL, a fumaça era proveniente de vapores de fluído hidráulico que entraram na cabine pelo sistema de ventilação". O Boeing 737-700 de matrícula PR-VBW que decolou às 6h29 pousou em segurança 14 minutos depois, às 6h43. Há relatos de que os dois pilotos tiveram dificuldade de serem retirados do cockpit.

No final da tarde, por volta das 17h50, no mesmo Aeroporto Santos Dumont, um novo incidente: um outro Boeing 737 rejeitou a decolagem por falha no motor. Segundo a GOL, a rejeição ocrreu por conta de um "flame out" em um dos motores. Flameout é a falha do motor a jato quando a chama que normalmente queima continuamente durante a operação se apaga. Sem o calor da chama, o motor não pode mais fornecer propulsão. A companhia informou ainda que após uma inspeção visual preliminar não foram encontrados danos aparentes no motor e que a aeronave seria examinada detalhadamente para identificar a causa do evento. 

Voo G31003 da GOL retorna ao Santos Dumont após fumaça invadir a cabine
Voo G31003 da GOL retorna ao Santos Dumont após fumaça invadir a cabine Voo G31003 da GOL retorna ao Santos Dumont após fumaça invadir a cabine

Além das ocorrências em 2023, a GOL tem registrado ocorrências semelhantes.

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No Aeroporto de Congonhas, 157 passageiros e 6 tripulantes embarcaram no Boeing 737-800 da Gol Transportes Aéreos. De matrícula PR-GQX, a aeronave cumpriria o voo G3-1512, até o terminal de Porto Seguro, na Bahia. A decolagem se deu pela pista 17R de Congonhas. Mas assim que o avião levantou voo, a tripulação foi obrigada a interromper a subida devido a falha no motor número 2, do lado direito.

Os pilotos seguiram o manual para esse tipo de incidente e conduziram o Boeing até o Aeroporto de Guarulhos, com pista maior que a do aeroporto do centro da cidade de São Paulo, e realizaram um pouso seguro na pista 27L cerca de 35 minutos após a decolagem. 

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Esta ocorrência foi registrada em 9 de dezembro de 2022, já faz algum tempo. Mas panes como essa em aeronaves da companhia não são raras, pelo contrário.

No último 5 de julho foi a vez de outro 737-800, sob a matrícula PR-GGL, a apresentar problema em um de seus motores. A rota desta vez foi entre Brasília e Guarulhos.

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De acordo com dados do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, o CENIPA, o Boeing decolou do Aeroporto Presidente Juscelino Kubitschek às 17h54, com 172 passageiros e 6 tripulantes. Já na altitude de cruzeiro houve uma perda total do motor número 1, localizado do lado esquerdo do jato.

A tripulação mais uma vez seguiu o manual de procedimentos e, com Guarulhos como um dos terminais mais próximos e indicados para o pouso monomotor, a aproximação se deu de forma segura e sem intercorrências. 

Esses dois casos não são isolados. Nos sete primeiros meses desse ano a companhia experimentou sete ocorrências com os motores CFM e Leap (Leading Edge Aviation Propulsion), que equipam sua frota.

O Leap modelo 1A é utilizado em aeronaves da Airbus, como o A320neo. Já o Leap 1B é usado pela Boeing. O blog apurou que ambos têm registrado variações, sendo o modelo de motor do Boeing com mais intercorrências. No setor de aviação chegou-se a especular uma possível determinação de deixar no chão aeronaves com problemas frequentes. 

Um levantamento da AERO Magazine, que listou alguns dos casos com base em dados do Aviation Herald, site especializado em ocorrências aeronáuticas, três das ocorrências na Gol foram relacionadas à indicação de baixa pressão do motor esquerdo, tanto na versão NG quanto no MAX 8, e duas envolveram o motor direito das aeronaves durante a aceleração para a decolagem.

Em 22 de janeiro, um Boeing 737-700 de matrícula PR-GED, que seguia de João Pessoa (JPA) para São Paulo (GRU) com 142 pessoas a bordo, apresentou indicação de baixa pressão de óleo no motor esquerdo. A aeronave que cumpria o voo G39171 foi desviada para Porto Seguro, na Bahia.

No mês seguinte, em 11 de março, o voo G31999 realizado por um modelo 737 MAX 8 de matrícula PS-GPB seguia de Maceió para Brasília com 170 pessoas a bordo, quando houve também uma indicação de baixa pressão em um de seus motores durante a aproximação. O pouso na capital federal ocorreu em segurança. 

De março, seguimos para 12 de abril, quando um Boeing 737-800 de matrícula PR-GGK, que seguia de Belo Horizonte para Shanghai, na China, apresentou indicação de baixa pressão nos motores. A aeronave seria convertida em cargueiro em uma empresa especializada no país asiático, mas devido à pane precisou desviar para Natal quando já sobrevoava o oceano. A manutenção durou mais quase 72 horas.

Em 4 de maio, um modelo 737-800 de matrícula PR-GXH teve uma indicação de sobretemperatura no motor direito, quando acelerava para decolagem do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O procedimento foi abortado e o voo G32040, para Porto Alegre, acabou sendo cancelado.

Menos de duas semanas depois, em 14 de maio, o voo G31490 operado pelo 737-800 de matrícula PR-GTH registrou um estrondo em um dos motores com emissão de faíscas no motor número 2 durante a aceleração para decolagem no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. A aeronave retornou ao pátio e os passageiros foram remanejados para um 737 MAX 8, de matrícula PS-GPL, que seguiu viagem para Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

No dia 5 de julho houve o incidente no voo G31599, relatado no início da reportagem, em que o 737-800 sofreu uma pane no motor e pousou em Guarulhos.

E em 31 de julho, durante o voo G31715, um 737 MAX 8 de matrícula PR-XMI que seguia do Galeão, no Rio de Janeiro, para João Pessoa teve uma indicação de problema no filtro de óleo no motor esquerdo, enquanto sobrevoava o Espírito Santo. A aeronave foi desviada para Vitória e permaneceu em solo por quase uma semana.

Aeronaves bimotores utilizadas por companhias de aviação comercial como a GOL são certificadas para voar monomotor em caso de pane. Outras companhias no Brasil e no exterior também registram uma vez ou outra panes em um de seus motores.

No caso da GOL chama a atenção a frequência desse tipo de incidente, que fez soar um alarme no setor de manutenção da companhia. Até porque em casos assim as aeronaves são obrigadas a permanecerem inoperantes durante dias, o que aumenta o prejuízo das operações.

Em nota ao blog Aviação R7, a companhia aérea emitiu o seguinte comunicado:

"A GOL tem como valor número 1 a Segurança, princípio que priorizamos em tudo o que fazemos.

Em relação aos motores das aeronaves da Companhia, cumprimos à risca o programa de manutenção preventiva recomendado pelo fabricante, aprovado e auditado pelas autoridades de aviação civil. Além disso, adotamos medidas adicionais para alcançar os mais altos níveis de qualidade e confiabilidade. Isso inclui o monitoramento em tempo real dos parâmetros de cada motor da frota tanto pela GOL quanto pelo fabricante.

Em qualquer evento que afete motores, o fabricante conduz uma minuciosa investigação para buscar a causa-raiz do problema e desenvolver melhorias. Os aperfeiçoamentos são rapidamente incorporados pelas Companhias, tornando o equipamento ainda mais confiável.

A GOL opera há 23 anos nos mais altos níveis de segurança com histórico de eventos de manutenção dentro do padrão de indústria. A empresa segue os mesmos processos de manutenção, controle e monitoramento dos motores previstos para todas as companhias aéreas e está continuamente em contato com a autoridade de aviação civil".

A companhia também respondeu um ofício enviado pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas. A empresa afirmou que todos os eventos são investigados por sua equipe de Safety e comunicados ao fabricante e à Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Também reiterou seu compromisso em cumprir todos os protocolos de operação, manutenção e segurança da indústria.

A Gol também ressaltou que, como uma das maiores operadoras de Boeing 737 no mundo, com mais de 250 mil voos por ano, segue rigorosamente o programa de manutenção do fabricante e adota requisitos ainda mais restritivos de avaliação, monitoramento e manutenções preventivas de seus motores.

A companhia reforçou que incorpora prontamente as melhorias de produtos que os fabricantes eventualmente disponibilizam para a indústria e que o próprio fabricante dos motores e a ANAC também acompanham rotineiramente a empresa, com acesso a todos os dados e informações da operação e da manutenção.

A empresa informou ainda que os departamentos de segurança operacional e de manutenção continuam à disposição do SNA para prestar novos esclarecimentos caso sejam necessários.

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