A Associação do Transporte Aéreo Internacional (IATA) anunciou projeções positivas de lucratividade das companhias aéreas em 2024 em comparação com as previsões de junho e dezembro de 2023. Contudo, o retorno agregado acima do custo de capital continua sendo uma incógnita para a indústria aérea global.Os destaques das projeções incluem:“Com as várias incertezas atuais, as companhias aéreas continuam reforçando sua rentabilidade. O lucro líquido agregado esperado de US$ 30,5 bilhões em 2024 é uma grande conquista, considerando as grandes perdas recentes causadas pela pandemia. Com um recorde de 5 bilhões de viajantes aéreos esperados em 2024, a necessidade humana de voar nunca foi tão forte. Além disso, a economia global conta com a carga aérea para entregar US$ 8,3 trilhões em produtos que chegam aos clientes por via aérea. Sem dúvida, a aviação é fundamental para as ambições e a prosperidade das pessoas e economias. É importante fortalecer a lucratividade das companhias aéreas e aumentar sua resiliência financeira. A lucratividade permite investimentos em produtos para atender às necessidades dos nossos clientes e nas soluções de sustentabilidade necessárias para atingir zero emissão líquida de carbono até 2050″, disse Willie Walsh, diretor geral da IATA.“O setor aéreo segue rumo a lucros sustentáveis, mas ainda há uma grande lacuna a ser coberta. O retorno sobre o capital investido de 5,7% está bem abaixo do custo do capital, que é superior a 9%. E o ganho de apenas US$ 6,14 por passageiro mostra como os nossos lucros são escassos – mal dá para tomar um café em várias regiões do mundo. Para melhorar a lucratividade, é muito importante resolver os problemas da cadeia de suprimentos para que possamos implementar as frotas de forma eficiente para atender à demanda. Além disso, também ajudaria reduzir a série de regulamentações onerosas e propostas de impostos cada vez maiores. A ênfase em medidas de política pública que impulsionem a competitividade dos negócios seria uma vitória para a economia, para os empregos e para a conectividade, e nos colocaria em uma posição forte para acelerar os investimentos em sustentabilidade”, disse Walsh.Fatores de impacto nas estimativasA lucratividade deve se fortalecer em 2024, pois as receitas subiram um pouco mais rápido do que as despesas (+9,7% versus +9,4%, respectivamente). Os lucros operacionais devem atingir US$ 59,9 bilhões (+14,7% em relação aos US$ 52,2 bilhões estimados para 2023). Os lucros líquidos, no entanto, devem crescer um pouco mais lentamente, com aumento de +11,3% e atingindo US$ 30,5 bilhões estimados para 2024 versus US$ 27,4 bilhões estimados para 2023.ReceitaAs receitas do setor devem atingir o recorde histórico de US$ 996 bilhões em 2024.As receitas do transporte de passageiros devem atingir US$ 744 bilhões em 2024, representando aumento de 15,2% em relação aos US$ 646 bilhões em 2023. O aumento da receita medida em passageiro pagante por quilômetros (RPKs) deve ser de 11,6% em relação ao ano anterior. A tendência de crescimento de longo prazo de 20 anos deve promover aumento de 3,8% na demanda de passageiros no período de 2023 a 2043.Os dados da pesquisa de abril de 2024 da IATA estão alinhados às expectativas de desempenho forte e contínuo nos mercados de passageiros.Estima-se que as receitas de carga tenham queda, atingindo US$ 120 bilhões em 2024 (de US$ 138 bilhões em 2023). Isso representa um declínio drástico em relação ao pico extraordinário de US$ 210 bilhões em 2021, mas continua acima das receitas de 2019, que foram de US$ 101 bilhões, e representam uma melhoria em relação à previsão anterior de US$ 111 bilhões (anunciada em dezembro de 2023).Apesar da força da demanda, os rendimentos de carga devem cair 17,5% em 2024, mantendo-se ligeiramente acima dos níveis de 2019. Trata-se de uma normalização após as altas extraordinárias durante a pandemia. Um fator importante para isso é a capacidade de carga significativa que entrou no mercado em 2023 com a recuperação das viagens de passageiros.Em geral, a carga aérea está em um período de correção após um ano excepcional em 2021. Os rendimentos, o aumento da capacidade, a divisão de cargueiros dedicados e outras métricas importantes estão saindo da situação extraordinária de meados da pandemia para uma continuação das tendências e níveis pré-pandemia. DespesasAs despesas do setor devem subir e atingir US$ 936 bilhões em 2024 (+9,4% em relação a 2023).Estima-se o preço médio do combustível de US$ 113,8/barril (jet) em 2024, o que significa uma conta total de combustível de US$ 291 bilhões, representando 31% de todos os custos operacionais. Espera-se que os altos preços do petróleo bruto sejam ainda mais exagerados para as companhias aéreas, já que crack spread (valor premium pago para refinar o petróleo bruto em combustível de aviação) deve apresentar média de 30% em 2024.As despesas não relacionadas a combustível estão bem controladas. Estima-se que os custos unitários não relacionados a combustível atinjam 39 centavos de dólar por toneladas de carga disponível por quilômetro (ATKm), sem alteração em relação a 2023. Esse valor está ligeiramente abaixo do valor de 39,2 centavos de dólar por ATK registrado em 2019.FrotasNo total, 38,7 milhões de voos são esperados em 2024. Esse número está 1,4 milhão de voos abaixo das estimativas anteriores (dezembro de 2023), o que pode ser atribuído em grande parte à desaceleração das entregas de aeronaves devido a problemas persistentes na cadeia de suprimentos do setor aeroespacial. Por exemplo, o número de entregas de aeronaves programadas para 2024 deve ser de 1.583, o que é 11% menor do que as expectativas publicadas há poucos meses, que previam a entrada de 1.777 aeronaves na frota global em 2024. As companhias aéreas estão adotando aeronaves maiores como uma estratégia de mitigação. RiscosA lucratividade do setor é frágil e pode ser afetada de forma positiva ou negativa por vários fatores:Resumo de cada regiãoEm 2024, todas as regiões devem gerar lucros pelo segundo ano consecutivo, mas o aumento mais significativo deve ser das companhias aéreas da região Ásia-Pacífico.A América do Norte continua a região com contribuição mais significativa para os lucros do setor, apoiada por uma alta taxa de ocupação de passageiros, rendimentos robustos e fortes gastos do consumidor, apesar da pressão do custo de vida. Em 2024, espera-se que a demanda de passageiros (crescimento de 7% em RPK) e a forte taxa de ocupação de 84% apoiem o desenvolvimento da receita e a lucratividade operacional. O Canadá apresenta crescimento mais lento no tráfego e maior pressão salarial do que o mercado dos Estados Unidos.A Europa tem uma perspectiva positiva de desempenho, com a expectativa de que a demanda continue forte em 2024. No entanto, os problemas da cadeia de suprimentos, combinados às altas taxas de juros e ao risco de disputas trabalhistas, podem limitar as perspectivas de aumento no lucro no curto prazo.A região da Ásia-Pacífico deve ser responsável por metade do crescimento de RPK mundial em 2024, impulsionado principalmente pela recuperação dos mercados domésticos na China, no Japão e na Austrália. As viagens internacionais na região permanecem moderadas, em particular na China, onde ainda estão abaixo dos níveis pré-COVID. Isso indica que ainda há muita demanda reprimida por viagens internacionais na região, o que provavelmente impulsionará as perspectivas de crescimento futuro.A América Latina tem registrado uma melhoria constante no desempenho financeiro desde 2020, mesmo com desempenho variável em toda a região. Quando o desempenho financeiro está abaixo do esperado, isso é em grande parte consequência da turbulência econômica e social observada em partes da região. Os países da América Central, em particular México, El Salvador, Guatemala e Honduras, são os que mais colaboram para o aumento dos lucros da região. A perspectiva mais positiva para 2024 se deve ao fato de que as companhias aéreas da região relataram forte crescimento de vendas e alta lucratividade no primeiro trimestre do ano e aumentado suas estimativas para o ano inteiro.O Oriente Médio se beneficia da força das economias da região e de seus hubs globais. Os Emirados Árabes Unidos continuam se beneficiando de sua atratividade para viajantes a lazer e a negócios. Enquanto isso, os investimentos maciços da Arábia Saudita em infraestrutura e turismo estão proporcionando um crescimento robusto nos volumes de passageiros e cargas. Embora as companhias aéreas continuem aumentando a capacidade, os rendimentos permanecem saudáveis e a demanda por viagens continua forte e parece que continuará em ritmo acelerado. Os riscos geopolíticos são a principal ameaça, em particular para as companhias aéreas da região do Levante. As companhias aéreas do Golfo são relativamente menos afetadas, a menos que aumentem as tensões entre Irã e Israel.A África tem uma alta base de custos operacionais e uma baixa propensão a gastar com viagens aéreas. Além disso, os desafios de conectividade prejudicam a expansão e o desempenho do setor. Apesar desses fatores desfavoráveis, há uma demanda contínua por viagens aéreas, o que deve permitir que o mercado tenha um segundo ano de lucratividade. 2023O lucro das companhias aéreas em 2023 foi melhor do que o esperado nas perspectivas de dezembro da IATA. Agora, estima-se que as receitas de 2023 atinjam US$ 908 bilhões (US$ 12 bilhões a mais do que a previsão anterior). As despesas aumentaram para US$ 856 bilhões (US$ 1 bilhão a mais do que a previsão anterior) e o lucro líquido atingiu US$ 27,4 bilhões em todo o setor (US$ 4,0 bilhões a mais do que a previsão anterior). Com isso, a margem de lucro líquido de 2023 foi de 3,0%, acima da previsão anterior de 2,6%.Opinião dos viajantesAs viagens aéreas continuam agregando valor aos consumidores. A pesquisa de opinião pública da IATA de abril de 2024 revelou que 97% dos viajantes expressaram satisfação com suas viagens. Além disso, 91% concordaram que a conectividade aérea é fundamental para a economia e 89% disseram que ela tem um impacto positivo nas sociedades.Os passageiros querem um setor aéreo seguro, sustentável, eficiente e lucrativo. A pesquisa de opinião pública da IATA mostrou o papel importante do setor aéreo, segundo os viajantes:A aviação continua comprometida com sua meta de atingir zero emissão líquida de carbono até 2050. Os viajantes estão expressando altos níveis de confiança nesse compromisso: 82% acreditam que essa é a meta certa, 76% dizem que poderemos voar de forma sustentável e 78% concordam que os líderes da aviação estão levando a sério o desafio climático.