Pilotos adormecem e passam sobre aeroporto onde deveriam pousar
Tripulantes só acordaram com sinal sonoro emitido pelo desligamento do piloto automático. Incidente grave, que pode estar relacionado a fadiga, foi registrado em voo internacional da Ethiopian Airlines
Luiz Fara Monteiro|Do R7
Um incidente anormal foi registrado na aviação comercial africana nesta semana: os dois pilotos de um voo internacional, com passageiros, adormeceram na cabine durante o trajeto e só foram acordados pelo aviso de desativação do piloto automático.
O Boeing 737-800 da Ethiopian Airlines, de matrícula ET-AOB, realizava o voo ET-343 de Cartum, no Sudão, para Adis Abeba, na Etiópia.
A aeronave estava a caminho da capital etíope, no nível de voo FL370 (cerca de 11 mil metros de altitude), quando os pilotos adormeceram.
O Boeing ultrapassou o ponto em que deveria iniciar a descida — momento em que os pilotos deveriam liberar a chamada "janela de altitude". O avião estava na direção correta, programada no sistema de gerenciamento de voo e executada pelo piloto automático, rumo à pista 25L (esquerda), sem, no entanto, descer.
O Controle de Tráfego Aéreo (ATC) chamou a tripulação pelo rádio várias vezes, sem sucesso. Os dois pilotos na cabine simplesmente não ouviram os repetidos chamados.
Ao passar sobre a pista onde deveria pousar, ainda a 37 mil metros de altitude, soou na cabine do Boeing 737-800 o alarme de desconexão (desligamento) do piloto automático. Afinal, o instrumento foi programado para voar até aquele ponto. Era como se o computador dissesse: "Vocês me programaram para vir até aqui, mas não desceram". Os tripulantes só acordaram com o som emitido pelo desligamento do piloto automático.
A partir desse momento, retomaram o controle do avião e iniciaram os procedimentos para um pouso seguro na pista 25L, cerca de 25 minutos após terem passado sobre a pista.
A aeronave permaneceu no solo por cerca de 2,5 horas antes de partir para o próximo voo.
Os dados ADS-B confirmam as informações recebidas pelo The Aviation Herald, mostrando que o avião manteve o nível de voo (FL370) até depois de sobrevoar a pista, antes de começar a descer e manobrar para outra aproximação.
A companhia não emitiu nenhum comunicado sobre as causas do incidente.
Em vários países, tripulantes têm reclamado da fadiga causada por horas seguidas de trabalho, embora não haja informação se essa foi a causa do sono prolongado dos pilotos da Ethiopian Airlines. A companhia tem uma boa reputação de segurança de voo e manutenção de aeronaves.
As longas jornadas são consequência da escassez de profissionais no mercado, um dos motivos que causaram atrasos e cancelamentos de centenas de voos durante este verão nos Estados Unidos e na Europa, principalmente.
Mesmo sem incidentes registrados, no Brasil pilotos chamam atenção para providências como investigação e mitigação dos riscos da fadiga humana na aviação. Um documento sobre esse assunto tem o título de Guia de Investigação da Fadiga Humana em Ocorrências Aeronáuticas.
Em alguns modelos de aeronaves, como o Boeing 777, há um alerta de cockpit após 10 ou 15 minutos, quando toca um aviso se não há nenhuma ação por parte dos pilotos. Algumas companhias adotam regras para que um comissário acione a cabine de comando a cada meia hora.
Veja abaixo a rota do Boeing 737-800 da Ethiopian no gráfico da plataforma de monitoramento de voos Airnav RadarBox.
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