Em entrevista ao meio de comunicação português Público, divulgada nesta quinta-feira (13), o ministro da Defesa português, Nuno Melo, descartou a possibilidade de encomendar o caça de quinta geração, alinhando-se com outras nações europeias que estão reconsiderando suas estratégias de aquisição de defesa.O Ministro apontou diretamente a incerteza em torno do governo Trump como um fator-chave na decisão.A aparente guinada do presidente dos Estados Unidos em direção à Rússia em seu segundo mandato na Casa Branca chocou os aliados tradicionais da OTAN na Europa. Trump também exigiu que os membros da OTAN da Europa aumentassem seus gastos com defesa e questionou o financiamento predominante de seu país para a OTAN.Os comentários controversos de Trump sobre a OTAN, questionando as contribuições dos membros e até mesmo sugerindo que os EUA podem não cumprir seus compromissos de defesa, bem como a decisão de interromper as entregas de armas e o compartilhamento de inteligência com a Ucrânia após a reunião com Zelensky na Casa Branca, levantaram alarmes em toda a Europa. A decisão portuguesa é baseada na precariedade associada à compra de hardware americano. Por exemplo, Donald Trump interrompeu a ajuda militar à Ucrânia após uma briga verbal com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy no Salão Oval.A ajuda militar já foi restaurada, mas o incidente criou uma grande divisão dentro do Atlântico, com vários países europeus cogitando reforçar sua defesa independentemente dos EUA.Há uma preocupação predominante na Europa de que uma administração americana “imprevisível” possa interromper a entrega de peças críticas ou atualizações de software para a aeronave.Veja trechos da entrevista do ministro português, destacado pelo The Aviationist:P. A Europa está preparando um pacote financeiro significativo para defesa. Se o governo AD for reeleito, ele aprovará a compra de aeronaves F-35?“Os F-16 estão no fim do seu ciclo e teremos de pensar na sua substituição. No entanto, não podemos ignorar o ambiente geopolítico nas nossas escolhas. A posição recente dos Estados Unidos, no contexto da NATO e no plano geoestratégico internacional, deve fazer-nos pensar nas melhores opções, porque a previsibilidade dos nossos aliados é um trunfo maior a ter em conta. Temos de acreditar que, em todas as circunstâncias, esses aliados estarão do nosso lado. Há várias opções que devem ser consideradas, nomeadamente no contexto da produção europeia e tendo também em conta o retorno que essas opções podem ter na economia portuguesa.”P. A Força Aérea quer que essa substituição seja feita com F-35s, que são aeronaves de fabricação americana. O que você está dizendo é que, devido à mudança na política externa americana, é menos provável que Portugal substitua os F-16s por uma aeronave americana?“O mundo já mudou. Houve eleições nos EUA, houve uma posição em relação à NATO e ao mundo, dita pelo Secretário de Defesa e pelo próprio Presidente dos EUA, que também deve ser tida em conta na Europa e no que diz respeito a Portugal. E este nosso aliado, que sempre foi previsível ao longo das décadas, pode trazer limitações de utilização, de manutenção, de componentes e de tudo o que tem a ver com garantir que as aeronaves estarão operacionais e serão utilizadas em todo o tipo de cenários”, finalizou o ministro.A decisão portuguesa teria sido comunicada dias após especialistas em defesa alemães expressarem preocupações de que os EUA poderiam potencialmente usar um “kill switch”, uma espécie de ‘botão de desligamento´no F-35 para impor seus objetivos políticos. Apesar de oficiais militares belgas e suíços rejeitarem tais preocupações, especialistas militares europeus sinalizaram apreensões sobre possível interrupção dos Estados Unidos.