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Varig voo 820: quando o 'overbooking' salva vidas

Único passageiro sobrevivente do acidente na França em 1973 revela a história de passageiras que se salvaram ao serem barradas no voo internacional. 123 morreram durante o pouso forçado.

Luiz Fara Monteiro|Do R7

Ricardo Trajano: único passageiro sobrevivente da queda do Varig 820
Ricardo Trajano: único passageiro sobrevivente da queda do Varig 820 Ricardo Trajano: único passageiro sobrevivente da queda do Varig 820

Único passageiro que sobreviveu ao acidente do Varig 820 nos arredores do Paris, em 1973, o carioca Ricardo Trajano chegou a ser dado como morto pelos socorristas que organizaram a lista de vitimas. Nos poucos instantes de consciência e lucidez após a queda do Boeing 707, Trajano rabiscou num pedaço de papel o telefone e o nome do pai, possibilitando a confirmação de sua indentidade. A família, que já se reunia no Brasil para um velório simbólico, imediatamente cessou as lágrimas e deu início a euforia e comemoração.

A história de Ricardo Trajano é bem conhecida na aviação comercial. Mas um novo episódio decorrente da tragédia que vitimou 123 pessoas e deixou 11 feridos há 48 anos chamou a atenção e comoveu muita gente. Ele conta que recentemente atendeu a um telofonema em que o interlocutor se apresentou com o mesmo nome, Ricardo:

"Xará, preciso muito te revelar uma história", disse o homem até então desconhecido deTrajano.

O homem revelou que a mãe, grávida dele, e mais uma tia, deveriam embarcar na mesma aeronave que Trajano. Mas ao tentarem o check-in no balcão da Varig no Galeão, as duas foram informadas que o voo tinha dado overbooking, ou seja, a companhia havia vendido mais assentos do que a capacidade disponível.

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Trajano foi acomodado na penúltima fileira do avião.

E se arrepiou ao ouvir o relato recente.

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Ele conclui que se as duas passageiras tivessem embarcado e sentado ao seu lado nas poltronas do meio e corredor, provavelmente nao conseguiria se levantar a tempo de correr em direção a parte da frente da aeronave quando viu a densa fumaça saindo de um dos toaletes traseiros. Foi esta atitude que salvou sua vida. Trajano chegou a levar uma bronca de um dos comissários por ter se levantado do assento.

Trajano imagina que provavelmente as duas mulheres nao sobreviveriam. Nesse caso, o xará de Ricardo não estaria entre nós para contar esta história.

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"A Varig deve ter feito confusão ao informar que não tinha vaga no voo, porque ao meu lado havia duas poltronas livres", se impressiona.

O incêndio a bordo começou a menos de 5 minutos do pouso no aeroporto de Orly, que na época recebia os passageiros que se destinavam à capital francesa. O terminal Charles de Gaulle só seria inaugurado meses depois do acidente.

As investigações oficiais indicaram que um cigarro jogado na lixeira do toalete tenha sido a causa provável do incêncio na aeronave, de matrícula PP-VJZ. Versões atualizadas, no entanto, dão conta de que o fogo começou no porão do Boeing. 10 tripulantes sobreviveram ao pouso forçado, inclusive o comandante Gilberto Araujo da Silva. A atuação dos pilotos durante o pouso forçado foi elogiada pelos investigadores do acidente. Ironicamente, Gilberto desaparecia 6 anos depois sobre o Oceano Pacífico quando fazia um voo num cargueiro da Varig - também um Boeing 707 - na rota entre Toquio e Los Angeles, com destino final no Rio de Janeiro.

Ricardo Trajano foi o único sobrevivente entre os passageiros, um fato contra todas as previsões para quem estava de pé na galley dianteira próxima a cabine dos pilotos e sem cinto de segurança. Ele sofreu fraturas e queimaduras. A causa de boa parte das mortes foi a inalação de monóxido de carbono. Entre os óbitos estavam personalidades como o cantor Agostinho dos Santos, a atriz e socialite Regina Lecléry, o iatista Jörg Bruder, o senador Filinto Müller, então presidente do Senado, e o jornalista Júlio Delamare.

Ricardo Trajano cursava engenharia civil e tocava guitarra na época do acidente. Aos 21 anos de idade, comprara o bilhete para conhecer Londres, a meca do rock naquela época. Meses depois de se recuperar totalmente dos ferimentos, voltou à loja da Varig e pediu um passagem para a capital do Reino Unido. A funcionária lhe passou o valor do bilhete e Trajano fez valer seu direito.

- A senhora se lembra daquele acidente em Paris? Sou o passageiro sobrevivente e, embora tenha pago por um bilhete até Londres, nao cheguei ao meu destino.

A funcionária o abraçou emocionada. E a Varig lhe deu uma nova passagem, desta vez, gratuita.

Ricardo Trajano vive na capital mineira com a esposa e as duas filhas, Julia, de 23 anos e Marina, de 20.

"sou um engenheiro 'civira', não exerço mais a engenharia civil, brinca ao relatar que foi obrigado a se virar ao se desfazer de uma franquia após a crise econômica causada pela pandemia de Covid-19.

As dificuldades da vida não desanimam o sobrevivente do Varig 820, pelo contrário.

"Acredito que a vida é muito curta para ser pequena", diz.

Nos últimos 5 anos, tem se dedicado a palestras motivacionais em que conta a história do acidente e as lições que o episódio deixou em sua vida.

Para quem quiser assistir a entrevista que ele concedeu ao autor deste blog, acesse o perfil @luizfaramonteiro no Instagram. As falas de Trajano durante a transmissão podem ser classificadas como pra lá de inspiradoras.

Os textos aqui publicados não refletem necessariamente a opinião do Grupo Record.

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