A história da maçã no Brasil: de fruta para ocasiões especiais a sucesso na mesa
Como o alimento importado e elitizado se tornou presente na mesa de milhões de brasileiros

A maçã, que há 40 anos era importada e consumida apenas em ocasiões especiais, hoje é a terceira fruta mais consumida do país.
Em entrevista ao Mundo Agro, Arival Pioli, diretor da Fischer, relembrou os desafios do início da produção nacional, a adaptação das variedades ao clima tropical e a popularização da fruta.

Mundo Agro: Antigamente, o Brasil importava maçãs da Argentina. Quando esse cenário mudou? Por que não produzíamos maçãs no Brasil? Era considerada uma fruta cara? Estava presente na mesa de todos os brasileiros?
Arival Pioli: Não produzíamos maçãs no Brasil porque a maçã é uma fruta considerada de clima temperado. Exige uma quantidade de horas de frio para uma boa produção. O Brasil é um país considerado de clima tropical e com uma quantidade enorme de frutas que aqui se produzem. E com pouca quantidade de frio adequado para as macieiras. Ela era importada, cara e com pouca presença nos hábitos de consumo. Era elitizada. Hoje é a terceira fruta mais consumida no Brasil .Mas isso começou a mudar quando, nos anos setenta, foram plantados os primeiros pomares comerciais no Brasil. Logo houve o crescimento da pomicultura como atividade econômica e um grande avanço na qualificação dela. Com isso a fruta passou a ter oferta contínua no nosso mercado e o consumidor aprendeu que, além de ser uma fruta muito saborosa, fácil e agradável de se consumir, ela entrega muita saúde ao consumidor.
Mundo Agro: Ouvi dizer que você só tinha o hábito de comer um pedacinho de maçã quando precisava tomar um remédio. Poderia me contar essa história? E hoje, quantas maçãs você costuma comer por dia ou por semana?
Arival Pioli: Isso é fato. Na nossa família de origem humilde, com 5 filhos, só recebíamos um pedaço de maçãs quando tínhamos de tomar remédios ruins (como purgantes), ou quando estávamos doentes. E isso acontecia com muitas famílias conhecidas. Hoje, graças a popularização da fruta e ao aprendizado de quanto ela é importante para a nossa saúde, na minha família consumimos em média duas maçãs por dia por componente (nós e nossos filhos).
Mundo Agro: A Família Fischer iniciou seu plantio na década de 1970. Qual foi a primeira variedade cultivada e quais foram os principais desafios enfrentados no início?
Arival Pioli: A família Fischer participou dos primeiros pomares comerciais plantados pelos pioneiros, na década de 70. Na ocasião as cultivares plantadas foram as originarias da Europa, trazidas pelos imigrantes para seus quintais. Estas cultivares ou variedades, eram muito exigentes em frio, por isso a produção era alternada, anos produziam bem outros não. Eram as cultivares como Red Delicious, Golden Delicious e similares.No início tudo era desafio. Mas entre eles buscar uma cultivar mais adaptada ao pouco frio disponível no nosso país e qualificar a produção para obter frutas de qualidade que atendesse o padrão europeu, foram dois grandes.
Mundo Agro: A Fischer foi precursora nesta qualificação da produção no Brasil. Atualmente, quais variedades a empresa produz? Qual delas é a mais consumida e por quê?
Arival Pioli: Hoje a empresa produz a família das GALA’s com seus clones (Gui, Ametista, Maxigala...), FUJI’s com seus clones (Suprema, Mixima...) e também novas cultivares em teste como LUIZA, ISADORA e similares. As GALA’s ainda são as mais consumidas e cultivadas no Brasil. São menos exigentes em frio e muito bonitas e saborosas.
Mundo Agro: Quando a empresa começou a exportar? Hoje, para quais países é possível encontrar a maçã produzida no Brasil e qual é o volume exportado?
Arival Pioli: A FISCHER foi pioneira na exportação de maçãs do Brasil. Em 1.986 foram exportadas as primeiras maçãs para a Europa. O volume exportado atualmente pelo Brasil, varia de ano para ano em função dos volumes de safra, mas o Brasil exporta entre 60.000 a 120.000 toneladas de maçãs anualmente.
Mundo Agro: Qual é o estado brasileiro que mais consome as maçãs de vocês?
Arival Pioli: Hoje todos os estados brasileiros consomem a maçã, mas São Paulo é o estado que detém o maior consumo.
Mundo Agro: As mudanças climáticas representam um desafio para a produção? Quais adaptações foram necessárias?
Arival Pioli: Sim. Todo o clima tem estreita relação com o agronegócio. Mudanças climáticas trazem desafios enormes. Temos exemplos no nosso dia a dia que vão desde chuvas intensas e frequentes que afetam a produção de hortifrutis ( preços ficam voláteis). Granizos que dizimam produções. E o famoso aquecimento global que exige muito mais investimento e tecnologia para tentar contornar a situação. As adaptações são inúmeras como investimentos em irrigação para superar secas, cobertura antigranizo e/ou cultivos em ambientes fechados para evitar danos de granizo e/ou ateques de pragas, até investimentos caros e demorados no desenvolvimento de cultivares adaptadas e/ou até migração de região produtora.
Mundo Agro: Além da fruta in natura, vocês também produzem suco de maçã. O suco já conquistou espaço na mesa dos brasileiros? Ele combina com diferentes ocasiões e refeições?
Arival Pioli: Sim. Além das maçãs, kiwis e uvas in natura, produzimos suco de maçãs. Temos o suco concentrado e clarificado e o NFC (suco integral de maçãs).O suco de maçãs tem sua maior parte destinado a exportação e uma parte menor ao mercado interno. Mas nossa produção é destinada às industrias (B2B). Nossos clientes é que fazem o produto para consumidores (B2C).Lá fora o suco de maçãs é um dos principais sucos consumidos, em alguns países, até mais que o de laranja. Combina com todas as refeições, com chá da tarde, em drinks etc...Aqui no mercado interno ele disputa o espaço na mesa do brasileiro pois há uma variedade enorme de sucos de frutas nativas do nosso país, que já estão incorporadas no hábito de consumo, entre eles, laranja, uva, caju, maracujá, acerola, frutas tropicais...
Mundo Agro: Como surgiu a parceria com a Turma da Mônica, considerada um verdadeiro case de sucesso? Hoje, as vendas relacionadas representam quantos por cento do total?
Arival Pioli: Foi uma idéia dada pelo sr. Jair Leandro- profissional de vendas- que havia visto venda de sacolas na Europa e Estados Unidos. Como o Brasil produz uma boa quantidade de maçãs de tamanho menor, sugeriu embalar para crianças e nasceu a parceria com a Turma da Mônica. A Fischer, que já exportava maçãs menores para a alimentação escolar no Reino Unido, passou a fornecer estas maçãs, de alta qualidade, para as maçãs Turma da Mônica, que acabou virando a marca mais conhecida de maçãs no Brasil.Atualmente as maçãs Turma da Mônica representam entre 15 e 20% das vendas da Fischer.
Mundo Agro: Do pomar até a mesa do consumidor, qual é o maior desafio para entregar uma maçã com consistência ideal, suculência marcante e a crocância característica da casca?
Arival Pioli: Entregar uma fruta que realmente satisfaça o consumidor é um desafio muito grande e que começa lá no pomar, já no plantio da mudinha que irá produzir as frutas. Precisa ser uma muda selecionada com material certificado, livre de vírus, bem formada, plantada e conduzida por protocolos de certificações internacionais que são auditados. Isso assegura “alimento seguro”. O manejo tem que ser por profissionais capacitados desde a brotação até a colheita. A colheita tem que ser no ponto de madurez correto, o transporte e estocagem deve ser feito com muito cuidado e tecnologia. A fruta deve ser classificada e limpa com equipamentos modernos e tecnológicos que já embala com muito cuidado pois a fruta é sensível. Embalada deve ser transportada em carros que mantenham a cadeia de frio até o ponto de venda.
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