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A oleaginosa que transforma a entressafra em combustível sustentável

Exclusiva no Brasil, a genética da carinata oferece renda extra ao produtor, benefícios ao solo e matéria-prima para biocombustível de aviação

Mundo Agro|Fabi GennariniOpens in new window

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A carinata entra na rota do SAF Foto cedida: Nufarm

Com a crescente demanda global por biocombustíveis sustentáveis — especialmente o SAF (Sustainable Aviation Fuel), ou combustível sustentável de aviação — novas culturas vêm ganhando espaço no campo brasileiro.


Entre elas, a carinata se destaca como uma oleaginosa de inverno capaz de gerar renda ao produtor, melhorar o solo e atender às exigências ambientais internacionais.

Para entender melhor o potencial dessa cultura, seu papel na transição energética e a estratégia da Nufarm, que detém exclusividade mundial sobre a genética da carinata, conversei com Philipp Herbst Minarelli, gerente de canola e carinata para Brasil e Paraguai.


Mundo Agro: O que é a carinata, qual região ideal para produção, originária de onde etc

Philipp Herbst Minarelli: A carinata é uma oleaginosa, da mesma família da canola, que tem origem na Etiópia. Diferente da canola, o óleo de carinata é tóxico, impróprio para o consumo humano. Isso poderia ser uma desvantagem, mas neste caso, é uma excelente vantagem competitiva para exportação de biocombustível sustentável de aviação para a Europa, uma vez que não compete com matérias-primas alimentares.


A planta é cultivada como uma cultura de inverno, principalmente, na entressafra com a soja, com o objetivo de proteger o solo e gerar receita extra aos produtores. Ela pode ser cultivada em diversas regiões do nosso país, como Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Goiás e Minas Gerais.

Mundo Agro: A Nufarm é a única empresa no mundo com exclusividade sobre a genética da carinata. O que isso significa em termos de inovação?


Philipp Herbst Minarelli: A Nufarm tem exclusividade sobre a genética da carinata por ter sido a primeira a desenvolver híbridos e pelo contínuo investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Há 12 anos, fomos para a África e coletamos todos os materiais genéticos que encontramos da carinata e montamos um programa de hibridação, ou seja, de cruzamento e melhoramento genético da carinata, adaptada a nossa região.

Isso mostra a visão de inovação da empresa. Estamos há anos buscando formas de desenvolver matérias-primas sustentáveis para a transição energética, em uma época em que esse tema nem era tão determinante como é hoje.

Mundo Agro: Quais avanços têm sido alcançados no melhoramento genético e na hibridação?

Philipp Herbst Minarelli: Nosso programa de melhoramento genético visa o desenvolvimento de materiais de carinata mais adaptados para as nossas condições de clima e de solo. Hoje, temos materiais muito mais adaptados e que geram alta produtividade aos agricultores. Nosso foco no melhoramento, atualmente, tem sido o aumento da produtividade e a redução de ciclo, visando aumentar ainda mais a janela de oportunidade na rotação com outras culturas.

Mundo Agro: Como essa exclusividade posiciona a Nufarm no mercado global de biocombustíveis?

Philipp Herbst Minarelli: A Nufarm é uma empresa global, que oferece proteção de cultivos e tecnologias de sementes. Um dos nossos pilares de atuação são as opções para os produtores interessados em produzir matérias-primas chave para a transição energética, como é o caso da carinata. Até 2030, planejamos alcançar – só no Brasil – mais de milhão de hectares cultivados com variedades de cana-de-açúcar, cana energia, carinata e oleaginosas como o sorgo para a produção de biocombustíveis.

Mundo Agro: Quais são as metas de produtividade e de eficiência que a empresa busca alcançar nos próximos anos?

Philipp Herbst Minarelli: Em 2025, tivemos produtividades variando de 22 a 51 sacas por hectare, com um ciclo variando entre 135 a 160 dias. Nosso foco é estabilizar a produtividade e regionalizar os materiais para que as produtividades médias estejam acima de 30 sacas e o ciclo abaixo de 140 dias (ou menos) para todas as regiões.

Mundo Agro: Como a carinata pode incrementar a renda do produtor durante a entressafra?

Philipp Herbst Minarelli: Dizemos que a carinata é uma cultura de cobertura que gera renda para o produtor. Por não competir com matérias-primas alimentares, recebe uma nota de crédito de carbono muito boa. Isso dá um valor de mercado diferenciado para o SAF na Europa. Tivemos casos, como no Paraná, de produtores com uma rentabilidade maior na carinata do que a obtida na soja safra. Como a carinata é uma cultura de cobertura com renda, o principal benefício é na quebra do ciclo de doenças do sistema, redução de nematoide, ciclagem de nutrientes e aumento da porosidade do solo, fatores que impactam positivamente a soja posterior e podendo, na maioria dos casos, também gerar lucro para o produtor pela venda dos grãos.

Mundo Agro: Há previsibilidade e garantia de compra? Como funciona o modelo de comercialização?

Philipp Herbst Minarelli: Sim, nós temos a exclusividade de fornecimento de sementes de carinata para os produtores rurais. Os produtores que compram nossas sementes plantam sabendo que terão 100% da safra vendida a determinado preço.

Isso é possível pois temos um contrato off-taker com a BP, que faz todo o refino do óleo na Europa. Com esse modelo, produtor tem total segurança para investir nesse novo negócio.

Mundo Agro: Qual é o custo de produção estimado para o produtor que deseja iniciar com a carinata?

Philipp Herbst Minarelli: Tivemos alguns produtores de carinata no Paraná em que o custo de produção ficou de seis a oito sacas, enquanto a produtividade chegou a 38 sacas por hectare, gerando quase 30 sacas de lucro por hectare, a um preço por saca de R$ 140. Na média, porém, os produtores têm obtido lucro de R$1.000,00 à 1.500,00 por hectare, sem contar o incremento na produtividade da soja seguinte, conforme diversos relatos de produtores, de 3 à 5sc a mais, quando comparado com outras áreas.

Mundo Agro: Que tipos de incentivos ou vantagens logísticas podem atrair mais agricultores?

Philipp Herbst Minarelli: O preço pago aos produtores têm sido um diferencial interessante, pois muitos estão conseguindo ter mais lucratividade com essa cultura de cobertura, do que com o seu plantio principal, como a soja. Além disso, para o manejo da carinata são utilizados equipamentos muito similares aos usados na produção de soja, o que reduz investimentos. Vemos esses pontos como bastante atrativos para que os produtores se interessem cada vez mais por essa cultura.

Mundo Agro: Como a Nufarm vê o papel da América Latina na produção global de matérias-primas para SAF?

Philipp Herbst Minarelli: Vemos o Brasil e a América Latina como regiões fundamentais para a produção de matérias-primas para SAF. Temos um potencial enorme de liderar a transição energética no mundo sem desmatar e sem diminuir nossa área de produção de alimentos. O Brasil, por exemplo, possui mais de 115 Milhões de hectares aptos a certificação da carinata e por outro lado passamos com mais de 35 milhões de hectares com solo descoberto na safrinha/inverno, ou seja, somos um estratégico player para abastecer o mundo com o SAF.

Mundo Agro: Quais são as projeções de demanda de SAF para os próximos 10 a 20 anos?

Philipp Herbst Minarelli: De acordo com os dados da COP30, precisamos fazer um blend de 65% de todo o querosene fóssil utilizado. Hoje, o mundo utiliza 390 bilhões de litros de querosene fóssil. Estamos falando de mais de 250 bilhões de litros que precisam ser substituídos por uma fonte sustentável. Hoje, a mistura com SAF no querosene fóssil é de apenas 1% de tudo que é usada na Europa. Em 2030, a meta é chegar a 10% chegando a 65% em 2050. Ou seja, estamos falando de um mercado que crescerá vertiginosamente com rapidez.

Mundo Agro: Como a diversificação de culturas (cana, sorgo, oleaginosas) contribui para a segurança energética global?

Philipp Herbst Minarelli: O mundo precisa de diversas matérias-primas para alcançar a eficiência energética sustentável. Não temos uma “bala de prata”, mas um conjunto de matérias-primas e tecnologias que poderão nos fazer alcançar essa eficiência. É isso que a Nufarm busca: oferecer opções para os produtores rurais.

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