Crédito digital impulsiona digitalização do agro na safra 2025/26
Com análise de crédito automatizada e liberação instantânea, modelo aumenta competitividade e amplia o alcance do financiamento rural

Uma iniciativa promete transformar a dinâmica do varejo de insumos ao integrar o financiamento diretamente no ponto de venda, acelerar a tomada de decisão e ampliar a liquidez para distribuidores e produtores.
Em um momento de restrição de crédito no setor, o Mundo Agro entrevistou Patricia Ambrósio, líder de Serviços Financeiros e Operações Estruturadas do conecta.ag, da BASF Soluções para Agricultura, e Rafael Pilla, CEO da Farmtech, para entender como a parceria entre as duas empresas estruturou R$ 500 milhões em crédito digital para a próxima safra.

Mundo Agro: O que motivou BASF/Conecta.ag e Farmtech a estruturarem um volume de R$ 500 milhões em crédito digital para a próxima safra?
Patricia Ambrósio: Na estratégia do conecta.ag, umas das frentes é a integração de soluções de financiamento para os distribuidores e agricultores que aderirem à nossa plataforma.
A parceria surgiu como uma alternativa financeira para os distribuidores e o volume de R$ 500 milhões foi projetado para atender à crescente adesão à plataforma até o final da safra 2025/26.
Rafael Pilla: A parceria nasce com a proposta de elevar a eficiência comercial das revendas e dos distribuidores inseridos no ecossistema digital da BASF e criar uma infraestrutura financeira à altura da transformação que o agro vive. Ao colocar o crédito como protagonista e levá-lo diretamente ao ponto de venda, impulsionamos o volume de transações e ampliamos a autonomia das revendas, que passam a operar com maior previsibilidade de caixa e capacidade de execução.
Mundo Agro: Como foi o desempenho da solução desde outubro? Há expectativas de crescimento acima do previsto?
Patricia Ambrósio: Desde a assinatura do contrato em outubro, o desempenho superou as expectativas iniciais, com mais de R$ 200 milhões em crédito concedidos aos distribuidores.
Rafael Pilla: O ritmo de adesão confirma que estamos no caminho certo. A demanda crescente pelo modelo digital revela uma mudança estrutural na forma de como o crédito é consumido no agro e a nossa solução conseguiu capturar esse movimento com rapidez. À medida que avançamos na digitalização das jornadas financeiras dentro do ecossistema, nossa expectativa é não apenas cumprir o volume projetado, mas ampliar a relevância da solução e acelerar sua participação nas transações da plataforma ao longo da safra.
Mundo Agro: O que diferencia essa oferta de crédito digital das opções tradicionais disponíveis no mercado rural?
Rafael Pilla: O diferencial é a integração do crédito diretamente ao fluxo de venda, permitindo que toda a operação da negociação à liquidação ocorra de forma digital, tecnológica e contínua. Isso reduz etapas intermediárias e coloca o financiamento no momento exato da decisão comercial.
Nosso motor proprietário de análise de crédito altamente tecnológico assegura avaliações rápidas e consistentes, com modelos capazes de escalar sem perder precisão. Ao mesmo tempo, oferecemos estruturas de garantia mais simples e condições competitivas, ampliando o acesso dos distribuidores a uma solução financeira alinhada à realidade do varejo de insumos.
Trata-se de um modelo que aproxima o crédito da dinâmica real do mercado, aumentando a previsibilidade para o distribuidor e fortalecendo a eficiência de toda a cadeia.
Mundo Agro: Como funciona na prática a liberação desse crédito diretamente no ponto de venda dentro da plataforma?
Rafael Pilla: Na prática, o crédito passa a fazer parte da própria dinâmica comercial da revenda. A plataforma conecta.ag integra a jornada de compra e financiamento em um único fluxo digital, permitindo que o vendedor finalize a negociação já com o crédito aprovado para o produtor. Isso significa que a operação ocorre no ponto de venda, sem etapas externas ou retrabalho.
Enquanto o produtor acessa a compra a prazo de forma imediata, a revenda recebe o valor à vista, preservando seu capital de giro e ampliando sua capacidade de
operação. É um processo contínuo, que vai da adesão do distribuidor à liberação dos recursos e que reposiciona o crédito como protagonista da venda.
Mundo Agro: De que forma a revenda e o distribuidor se beneficiam ao receber à vista enquanto o produtor compra a prazo?
Patricia Ambrósio: O principal benefício é a otimização do fluxo de caixa. Ao receberem à vista, revendas e distribuidores não comprometem seu capital de giro para financiar os clientes. Isso permite que utilizem o recurso para comprar mais produtos, antecipar a formação de estoque, ampliar o portfólio ou outras necessidades de capital, impulsionando o crescimento de seus negócios. Paralelamente, o produtor amplia suas alternativas de negociação e planejamento de safra.
Mundo Agro: Como essa iniciativa pode destravar o crescimento no varejo de insumos, especialmente para empresas com menor capital próprio?
Patricia Ambrósio: O agro tem uma dinâmica muito particular, mas iniciativas como essa ajudam a acelerar o setor em um ritmo mais próximo ao do varejo massivo, trazendo agilidade e desburocratização. A parceria permite que distribuidores, mesmo aqueles com menor capital próprio, ofereçam uma jornada de crédito aos seus clientes sem comprometer seus recursos. Como recebem o pagamento à vista, conseguem liberar capital para reinvestir no ecossistema seja para ampliar operações, diversificar portfólio ou impulsionar vendas. É um ciclo que fortalece toda a cadeia.
Rafael Pilla: O que essa iniciativa faz é mudar o patamar competitivo do varejo de insumos. Ao substituir a dependência do capital próprio por um modelo digital de crédito integrado e seguro, as revendas passam a operar com a mesma capacidade de resposta dos grandes players. Na prática, estamos democratizando o acesso financeiro e criando as condições para que o crescimento deixe de ser limitado pelo caixa e passe a ser impulsionado por eficiência, tecnologia e visão estratégica.
Mundo Agro: Como funciona o motor de análise de crédito proprietário da Farmtech e quais dados ele considera?
Rafael Pilla: Nosso motor de crédito foi desenvolvido para atuar como uma peça central da eficiência financeira no ecossistema. A partir das informações vinculadas ao CPF do cliente, aplicamos tecnologia proprietária que transforma esses dados em análises consistentes e decisões de crédito em tempo real. Isso nos permite substituir etapas tradicionais e demoradas por um fluxo digital contínuo, que sustenta a velocidade da venda sem comprometer a qualidade da avaliação.
O que diferencia essa tecnologia é a capacidade de avaliar risco com precisão e liberar crédito no momento da negociação, diretamente no ponto de venda. Essa agilidade dá ao distribuidor previsibilidade operacional e ao produtor acesso imediato ao financiamento necessário.
Mundo Agro: O uso de dados de mercado e comportamento de vendas trouxe mais precisão e segurança para as operações?
Rafael Pilla: Sem dúvida. Nossa capilaridade de originação nos permite enxergar, em tempo real, como o mercado está se comportando, especialmente as vendas a prazo dentro da cadeia de insumos. Isso nos dá um nível de precisão que poucas instituições conseguem alcançar no agro.
Ao transformar esses dados em inteligência aplicada, aumentamos de forma significativa a assertividade da concessão e antecipamos as necessidades financeiras de cada elo da cadeia. O resultado é um processo muito mais seguro, escalável e confiável, capaz de sustentar operações de alto volume sem perder qualidade na análise.
Mundo Agro: O que o produtor rural ganha com esse modelo de crédito digital?
Patricia Ambrósio: Além da conveniência, em um momento de escassez de crédito no mercado, é mais uma fonte de crédito junto aos fornecedores de insumos com custo competitivos.
Rafael Pilla: Para o produtor, esse modelo representa um avanço real na forma de financiar a sua operação. Ao ter o crédito aprovado no momento da compra, sem etapas intermediárias ou dependência de processos bancários tradicionais, ele ganha velocidade para executar o planejamento da safra e maior previsibilidade sobre seu fluxo de caixa. Isso reduz incertezas, amplia o poder de negociação e permite que ele concentre energia no que realmente importa: produtividade e gestão do negócio.
Mundo Agro: O acesso mais rápido e desburocratizado ao financiamento pode alterar o planejamento da próxima safra?
Patricia Ambrósio: Tem um potencial de afetar positivamente. Quando o acesso ao financiamento fica mais rápido e menos burocrático, o distribuidor ganha fôlego e consegue estruturar melhor suas ofertas ao produtor. Isso tende a antecipar decisões de compra, dar mais segurança no planejamento e reduzir riscos na próxima safra. É um impacto indireto, mas bastante relevante para quem está no campo.
Rafael Pilla: Quando o crédito passa a ser liberado de forma imediata e sem barreiras operacionais, ele deixa de ser um limitador e se transforma em um instrumento estratégico para toda a cadeia. Para o distribuidor, o impacto é profundo, pois ele consegue liquidez garantida no ato da venda, ganha poder de negociação, acelera o giro de estoque e amplia sua capacidade de atender mais clientes sem pressionar o próprio caixa.
Para o produtor, isso significa financiar a safra com previsibilidade, antecipar decisões críticas e capturar melhores condições comerciais em momentos adequados.
Mundo Agro: Quais produtores se beneficiam mais da solução?
Patricia Ambrósio: Embora não seja um financiamento direto ao produtor, a solução também gera benefícios concretos para ele. Como se trata de uma operação de Cessão de Recebíveis entre distribuidor e agricultor, ela aumenta a disponibilidade de crédito no sistema justamente em um momento de maior pressão no setor. Com mais fôlego financeiro para os distribuidores, o produtor encontra condições mais favoráveis na ponta, mantém seu acesso a insumos e consegue planejar melhor a safra. No fim, é um mecanismo que fortalece toda a cadeia e ajuda o crédito a continuar girando no campo.
Rafael Pilla: Os produtores que mais se beneficiam são aqueles que dependem de agilidade e previsibilidade para as decisões de compra, principalmente em regiões ou culturas onde o ciclo de compra é mais sensível ao momento exato da aquisição de insumos. Como o distribuidor passa a ter liquidez imediata, ele consegue atender perfis de produtores com diferentes necessidades de prazo, volume e
disponibilidade de insumos, ampliando significativamente o alcance do crédito na ponta. Isso favorece desde o produtor que busca eficiência para antecipar a safra até aquele que precisa garantir insumos em períodos de maior pressão de mercado.
Mundo Agro: O crédito privado digital pode ser uma alternativa relevante em um ambiente de juros altos e incertezas?
Rafael Pilla: O crédito privado digital se consolida como uma fonte de recursos altamente relevante porque entrega algo que o agronegócio valoriza profundamente, que é velocidade, pulverização, previsibilidade e aderência às necessidades reais da operação. Quando conseguimos aprovar e disponibilizar crédito no exato momento da negociação, eliminamos gargalos que normalmente atrasam a tomada de decisão no campo.
Além disso, a combinação entre tecnologia, análise de dados e modelos proprietários de avaliação de risco nos permite oferecer soluções mais ágeis e personalizadas para os distribuidores e revendas, mantendo custos competitivos mesmo em ciclos mais desafiadores. Isso dá fôlego para tanto para distribuidores quanto para revendas operarem com liquidez, sustenta o ritmo das vendas e cria um ambiente financeiro mais equilibrado. É um ritmo diferente e muito mais eficiente que os recursos públicos.
Mundo Agro: Como a parceria se posiciona frente à necessidade de reduzir custo financeiro e aumentar previsibilidade para o produtor?
Patricia Ambrósio: A parceria ajuda a reduzir custo financeiro e dar mais previsibilidade ao produtor ao aumentar a liquidez para os distribuidores. Com mais crédito disponível e menos pressão no elo comercial, eles conseguem oferecer condições mais estáveis e competitivas. Isso dá ao produtor mais segurança para planejar suas compras e a próxima safra.
Rafael Pilla: Ao integrar crédito digital direto ao fluxo de vendas, criamos uma jornada mais estável, com menos variação operacional e maior controle sobre prazos e condições. Para o produtor, isso significa negociar em um ambiente no qual o distribuidor tem liquidez garantida e, portanto, pode estruturar ofertas mais consistentes ao longo do ciclo comercial. Essa previsibilidade reduz surpresas no momento da compra de insumos e permite que o produtor execute o planejamento
da safra com maior confiança, transformando o crédito em um aliado estratégico da gestão.
Mundo Agro: Vocês acreditam que o mercado privado de crédito rural deve crescer mais rápido do que o crédito oficial nos próximos anos?
Rafael Pilla: Acredito que o crédito privado deve avançar mais rápido do que o crédito público nos próximos anos. O agronegócio está ampliando sua demanda por soluções financeiras mais ágeis, flexíveis e conectadas ao momento real da decisão de compra, características que o mercado privado entrega. Enquanto o crédito oficial opera dentro de limites orçamentários e ciclos definidos, o crédito privado consegue crescer impulsionado por tecnologia, análise de dados e modelos de risco mais aderentes à dinâmica comercial do setor.
Do nosso ponto de vista, essa combinação cria uma trajetória sustentável de expansão. À medida que distribuidores e produtores percebem o valor da velocidade, previsibilidade e integração que o crédito digital oferece, o espaço para soluções privadas só tende a aumentar, consolidando esse mercado como um dos motores de crescimento do agro nos próximos ciclos.
Mundo Agro: Qual é o papel do Conecta.ag na estratégia de digitalização da BASF e na oferta de serviços financeiros ao ecossistema?
Patricia Ambrósio: O conecta.ag é a peça-chave na estratégia de digitalização da BASF, com o propósito de integrar toda a cadeia do agronegócio em um único ambiente digital.
A oferta de crédito através da plataforma, como a parceria com a Farmtech, é uma manifestação direta dessa estratégia. Ela reflete o compromisso da BASF em fortalecer toda a cadeia do agronegócio por meio de parcerias e modelos de negócio inovadores. Essa ação está alinhada ao investimento mais amplo da companhia em inovações que conectam tecnologia e rentabilidade para impulsionar a produtividade e o crescimento sustentável do setor, antecipando as necessidades do mercado e integrando soluções digitais à jornada do produtor.
A BASF reconhece que há um longo caminho para a digitalização dos processos de crédito no agro. Nesse cenário, o conecta.ag se posiciona para ser o parceiro ideal dos distribuidores e revendas nesta jornada de integração entre crédito, pagamentos e soluções digitais financeiras. Assim, o pilar financeiro se consolida
como um dos serviços essenciais da plataforma, junto com as soluções de marketplace e fidelidade.
Mundo Agro: Existem planos para ampliar outros serviços financeiros dentro da plataforma?
Patricia Ambrósio: Pretendemos seguir alavancando nossa estrutura financeira para sermos o parceiro ideal dos distribuidores e revendas nesta jornada de integração entre crédito, pagamentos e soluções digitais financeiras.
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