País que será engolido pelo mar cria uma cópia digital no metaverso para evitar extinção
Estudos apontam que Tuvalu pode ser extinto até 2050, e governantes correm para criar uma versão digital de todas as memórias da nação
A essa altura, ninguém lembra mais o que é metaverso, apenas que foi um empreendimento que torrou vários bilhões de dólares da Meta e entregou uma versão ruim de The Sims. Mas o tal metaverso — uma versão digitalizada e ligeiramente descentralizada da nossa realizada, concebida por Mark Zuckerberg — pode sediar um país inteiro. Trata-se de Tuvalu, um estado da Polinésia, com ilhas e atóis, bem a leste da Austrália.
Além da beleza e de atrair turistas, Tuvalu também enfrenta diversas incertezas sobre o futuro. Com mudanças climáticas, várias das ilhas estão em seríssimo risco de desaparecer, juntamente com as casas e memórias e moradores. “A água do mar já está vazando pelo solo, matando plantações e estragando a água potável”, afirma a nação em um anúncio oficial.
O anúncio oficial foi feito em novembro de 2022, durante a COP27, pelo ministro das Relações Exteriores de Tuvalu, Simon Kofe, em um vídeo bastante emblemático, que já mostrava uma prévia de uma das ilhas digitalizadas.
Em uma atualização publicada no final de 2023, Kofe lembrou previsões que apontam que “Tuvalu deve ser engolido pelo mar em algumas décadas”, e que o projeto — chamado simplesmente de “Digital Nation” — convidou os moradores a compartilhar todos os tipos de memórias e itens importantes para a digitalização.
Enquanto afirma que se tornará a “Primeira Nação Digital do mundo”, os governantes de Tuvalu também discutem noções de direito internacional, que exigem que uma nação tenha território com fronteiras definidas e população permanente, o que Tuvalu pode não ter em breve.
Longa jornada
Na última atualização do projeto, governantes afirmaram que fizeram uma varredura 3D completa das 124 ilhas e ilhotas da nação, instalou cabos submarinos para obter largura de banda para funcionar digitalmente, começou a planejar um sistema de identificação digital baseado em blockchain, e atualizou a constituição do país.
A ideia é que os refugiados climáticos da ilha consigam manter a nacionalidade e tenham acesso ao território e memórias no metaverso. Como mostra a BBC, o governo da ilha também se planejou nesse sentido: em 2023 firmou um acordo de imigração com a Austrália, que permite que 280 moradores de Tuvalu consigam vistos permanentes para ficar na Austrália todos os anos.
Há ainda desafios técnicos consideráveis, explica o site The Conversation.
Tuvalu tem apenas cerca de 12.000 cidadãos, mas ter até mesmo essa quantidade de pessoas interagindo em tempo real em um mundo virtual imersivo é um desafio técnico. (…) Ninguém demonstrou ainda que os estados-nação podem ser traduzidos com sucesso para o mundo virtual.
Ainda assim, fica claro que o mais importante não é o backup digital do país, e sim a urgência de discutir como nações e territórios estão sob o risco de desaparecer em breve. Um estudo feito por cientistas da Nasa apontou que boa parte de Tuvalu estará inundado em 2050 — um risco que também assombra outros países insulares do Pacífico.