Eduardo Leite: a terceira via pura
Leite mantém uma postura de imparcialidade, como um caminho alternativo ao choque dos extremos
Três Poderes|Bruno Soller

Certa feita, o filósofo francês Paul Valéry cravou: “O mundo só vale pelos radicais e só dura graças aos moderados.” Em um cenário onde a polarização entre dois grupos extremos não permite de forma afirmativa que algum deles seja majoritário no pensamento do brasileiro, o espaço para uma construção de uma via equidistante desses núcleos é desejado e possível, desde que assumido com propósito, posição e mensagem clara.
O eleitor está cansado de um governo que não consegue mudar sua realidade e uma oposição que transforma o debate sobre o país em um personalismo, que em nada refresca suas dores do dia a dia. O desânimo e a desesperança estão presentes e falta alguém que consiga transmitir um sopro de perspectiva positiva.
Uma pesquisa realizada pela Quaest, contratada pelo banco Genial, desnuda a posição política do eleitorado nacional. 32% respondem que são independentes, praticamente um terço de toda a amostra, que se soma a 14% de pessoas que se dizem de esquerda, mas que não são lulistas e 21% de direita, mas não bolsonaristas. Um total de 67% de respondentes que estão desgarrados dessa polarização que dominou uma década praticamente perdida em termos de avanços sociais e econômicos.
Hiato de representação
A grande questão, todavia, é entender o porquê neste hiato de representação, essas correntes minoritárias conseguem capturar todas as atenções sobre o futuro do Brasil, praticamente se escorando uma na outra, em uma interdependência para sobreviverem às custas de uma letargia que domina os ânimos dos eleitores.
Unidos pela preocupação com a violência, que domina as respostas como principal problema do Brasil para 36% do total dos entrevistados, cada cluster dos eleitores fora da bolha polarizada tem uma segunda demanda que mostra uma busca por uma combinação de desenvolvimento econômico e justiça social.
Na esquerda não lulista, 28% dizem se preocupar com as questões sociais e na direita não bolsonarista, 19% com a economia e 21% com a corrupção. Uma saga por um país que consiga se desenvolver economicamente, com equilíbrio fiscal, transparência e que não esqueça de olhar para quem mais precisa. Um balanço de demandas que exige uma candidatura que não se escore em um dos polos, mas que consiga se revelar de modo mais assertiva.
Candidatos
No hall dos possíveis candidatos que possuam alguma ressonância, chama a atenção o fato de estarem em sua imensa maioria à espreita para tentar representar algum lado dos polos.
Lula já é por si só um deles. Tarcísio de Freitas já deu demonstrações que só sai candidato caso seja abençoado por Jair Bolsonaro. Flávio Bolsonaro é a representação hereditária de um nicho. Ronaldo Caiado e Romeu Zema tentam respectivamente na segurança e economia, temas de seus domínios, representarem o bolsonarismo, de quem se mantém aliados. Até mesmo, Ratinho Junior flerta em declarações públicas com o ex-presidente, por exemplo, lamentando sua prisão, chamando de insensibilidade do poder judiciário.
Eduardo Leite
Nessa seara, só um dos postulantes prováveis se mantém fora dos quadrantes de domínio do bolso-lulismo. Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul, único reeleito na história do estado, mantém uma postura de absoluta imparcialidade, como um caminho de fato alternativo ao choque dos extremos.
Em 2022, quando Lula e Bolsonaro se enfrentavam diretamente, Eduardo Leite tentou se viabilizar candidato à presidência da República, mas foi barrado por uma prévia interna de seu partido à época, que acabou minando as suas possibilidades de entrar no jogo. Com o recuo enfrentou os representantes do lulismo, Edegar Pretto, e do bolsonarismo, Onyx Lorenzoni, nas eleições estaduais e saiu vitorioso.
Ao assumir pela primeira vez o Piratini, Leite herdou uma grave crise financeira do governo anterior, capitaneado por José Ivo Sartori, que havia adotado medidas extremamente impopulares, como parcelamento de salários dos servidores, e um desequilíbrio fiscal aterrorizador, que impactava diretamente na capacidade de investimentos do estado.
Com uma política econômica eficiente, o governador gaúcho conseguiu pouco a pouco equilibrar as contas, criar um plano de privatizações, concessões e reformas administrativas, que recuperaram a saúde financeira do Rio Grande do Sul. Um choque de gestão, que permitiu salubridade para as contas públicas e propiciou a possibilidade de aplicações em programas sociais.
Quase que testado pela natureza, Leite teve que encarar o maior desastre ambiental da história do Estado, com as enchentes que atingiram quase que 3 milhões de pessoas e devastou cidades inteiras, destruídas pela força das águas, que não cessaram por um longo período. Com eficiência, pouco mais de um ano da tragédia, o estado tem se recuperado com uma velocidade surpreendente para o estrago que foi feito.
Com uma série de programas sociais, como o RS Social Recomeço, a vida tem voltado à normalidade e Eduardo Leite tem conseguido manter um bom índice de aprovação, como os 62% aferidos pela pesquisa RealTime Big Data, encomendada pela Rede Record, no início do mês de dezembro.
Referências internacionais
Nos anos 90, a combinação entre o estado de bem-estar social e a adoção de políticas econômicas liberais marcaram governos que modificaram estruturas mundo afora.
Tony Blair, na Inglaterra, por 10 anos, combinou políticas de mercado com investimentos sociais, reformando o estado inglês e permitindo avanços reais nas condições de vida da população. Bill Clinton, nos Estados Unidos, tratou de reformar a previdência social, criou um novo marco de saúde pública e no plano econômico incentivou os acordos de livre comércio balanceando os anseios de democratas e republicanos, permitindo um período de recuperação norte-americana, após um governo contestado de George Bush pai.
Na mesma linha, a coalização vermelho-verde, na Alemanha combinava o que havia de melhor entre as pautas sociais e econômicas e propiciou a implementação da agenda 2010, por Gerhard Schröder.
Cenário brasileiro
Com 54% dos brasileiros dizendo que não votariam em Lula e 60% em Jair Bolsonaro, há um amplo espaço para que alguém consiga se posicionar de maneira a representar uma alternativa pura e palpável para superar essa polarização.
Uma candidatura afirmativa, sem medo de propor um choque para o país, que combine os avanços sociais e uma agenda de economia indutiva para que o Brasil vença seus principais gargalos.
Eduardo Leite pode ser essa moderação, por um histórico de posicionamento de não alinhamento a nenhum dos dois polos e por resultados administrativos que caminham para essa lógica.
Há, no entanto, que se mostrar disponível para esse debate e fazê-lo de forma imperativa, abrindo espaço para um diálogo com uma população que não quer, mas que precisa ouvir. Há uma chance de virada de rumo e dentre todos os postulantes, Leite é quem combina o maior número de atributos para encarná-la.
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