Acordo entre EUA e China pouco altera o cenário para o sojicultor brasileiro
Se de fato comprarem todo ano 25 milhões de toneladas de soja dos EUA, os chineses voltam ao volume médio adquirido nos últimos 5 anos

Assombrados nas últimas semanas com a retomada das negociações comerciais entre EUA e a China, os produtores brasileiros temiam que a volta da China as compras da soja norte-americana trariam queda acentuada na demanda pela soja brasileira e, consequentemente, baixa nos preços.
O receio dos sojicultores brasileiros aumentou quando a chinesa Cofco anunciou a compra de pelo menos 180 mil toneladas de soja dos EUA para embarque ainda este ano. “Mas houve e há uma percepção negativa exagerada no mercado”, diz Christiano Erhart, presidente da Bolsa Brasileira de Mercadorias, a BBM. Os números anunciados demonstram receio em excesso.
Se confirmadas as compras de 12 milhões de toneladas de soja até o início de 2026 e de mais 26 milhões de toneladas por ano até 2028, o acordo apenas recupera o volume médio negociado entre os dois países nos últimos 5 anos. Assim, esse acordo anunciado pelo governo norte-americano com a China pouco altera o comércio de soja entre dois os países.
Além disso, firmado por um ano, será reavaliado. “E como envolve outros interesses, a China vai usar esse acordo da maneira mais estratégica possível... Vai dosar essas aquisições”, prevê Andrea Cordeiro, da Corretora Labhoro, de Curitiba (PR). Há ainda muitas dúvidas sobre as negociações China-EUA.
“A China não sinalizou nada concreto sobre essas compras”, ressalta Rodrigo Silva, do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária, o Imea. E enquanto os chineses se mantém longe dos holofotes, a paralisação de boa parte dos serviços de informações e dados dos EUA (o chamado shutdown) torna ainda mais arriscado estimar tendências no mercado.
“Há poucas informações sobre as lavouras nos EUA e dúvidas sobre se os volumes das compras chinesas de soja americana serão efetivas”, comentava Geraldo Isoldi, da Terra Investimentos.
Preços da soja subiram nos EUA e no Brasil
Após o anúncio da retomada das compras chinesas de soja norte-americana, as cotações subiram nos EUA nos últimos dias de outubro, refletindo um otimismo no mercado.
No primeiro dia de negociação de novembro na Bolsa de Chicago, os contratos futuros fecharam com cotações mais altas: o vencimento de janeiro de 2026 fechou a US$ 11,34 o bushel (+1,7%) e o contrato de março a US$ 11,40 (1,5%). “Essas compras anunciadas dão um norte para o produtor norte-americano”, comenta Giovana Cavalca, analista da Consultoria Datagro.
No Brasil, a notícia “travou” o mercado e sem negociações caíram os prêmios pagos, amortizada logo após por alguma alta de preços, com as indústrias até pagando um pouco mais pelo produto. Em Paranaguá (PR), novembro iniciou com preços médios acima de R$ 140,00 reais a saca (+0,23%), como apurou o Cepea/USP.
Não foi diferente nas demais regiões brasileiras. Em Campo Verde e Primavera do Leste (MT) corretores apontaram negócios a R$ 125,00 a saca (+1,21%) e em Luiz Eduardo Magalhães e Barreiras (BA) a R$ 127,00 a saca (+2,42%). E a semana vinha mantendo cotações firmes, com algumas pequenas oscilações dependendo da região.
Preocupação é com a próxima safra
Nesta temporada 2024/2025 a guerra comercial EUA-China beneficiou o Brasil. Dos cerca de 86 milhões de toneladas de soja adquiridas pela China entre janeiro e setembro, perto de 64 milhões saíram do Brasil (e até o final do ano pode chegar a 73 milhões de toneladas).
Com essa guerra tarifária, nesse período os EUA forneceram 17 milhões de toneladas, e outras 4 milhões de toneladas os chineses compraram da Argentina e outros países. Dois meses antes de terminar o ano,
Com cerca de 95% da soja produzida já comercializada, as estimativas indicam que o Brasil entra 2026 com não mais do que 2 milhões de toneladas. E se ano foi bom para os produtores e exportadores brasileiros, em 2026 a situação é outra.
As estimativas mostram abundante produção mundial de soja em 2026, próxima de 425 milhões de toneladas. Desse total, o Brasil produziria 183 milhões de toneladas (40%), os EUA outros 115 milhões (35%), a Argentina mais ou menos 50 milhões (15%) e o restante pulverizado em outros países.
Com a retomada das compras chinesas de soja no mercado norte-americano e perspectiva de colheita maior no Brasil, a nova temporada será diferente.
“As negociações para a próxima safra de soja já estão mais lentas”, comentou Ernane Klein, corretor de grãos em Sinop (MT).
Dados apurados pela Consultoria Datagro até o final de setembro apontam volume de negociações abaixo da média de anos anteriores: apenas 22% da safra futura de soja brasileira estaria comercializada. Isso não significa que haverá grandes alterações no mercado mundial de soja, mas como alerta Giovana Cavalca, “é preciso ter cautela daqui para frente”.
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