Com reajustes a 30%, inquilinos buscam renegociação do aluguel
Secovi orienta proprietários a firmarem acordo se locador não causa problemas e paga em dia para evitar custos com imóvel
Renda Extra|Márcia Rodrigues, do R7
O reajuste dos aluguéis residenciais e comerciais vem deixando muita gente em pânico. O IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado), indicador usado por muitos contratos de locação, vem registrando várias altas consecutivas.
O índice registrou alta de 2,94% em março, de 8,26% no ano e de 31,1% em 12 meses, segundo a última divulgação da FGV (Fundação Getulio Vargas), na terça-feira (30).
O descolamento do indicador do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que mede a inflação oficial dos brasileiros, vem gerando preocupação para inquilinos e proprietários de imóveis.
Enquanto o IGP-M acumula alta de 31,1%, a inflação projetada para o IPCA é de 4,81% ao ano. Esse é o maior percentual de reajuste dos últimos 18 anos. Em maio de 2003, o IGP-M foi de 31,53%.
Inquilinos buscam negociação
O servidor público Leandro Reis, por exemplo, levou um susto ao receber o boleto do aluguel de abril. Seu contrato faz aniversário neste mês e sofreu reajuste de 28%.
Reis ligou para a administradora do prédio para saber o motivo, soube sobre a alta do IGP-M e pediu uma negociação.
Dois dias depois, o informaram que a proprietária do imóvel concordou em aplicar um reajuste mais próximo do IPCA: 5,20%
Se não negociassem o reajuste%2C eu não teria condições de permanecer no apartamento e iria buscar uma alternativa mais em conta.
A iniciativa tomada pela administradora do prédio do servidor público é a recomendada pelo Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo) e já vem adotada por outras administradoras do mercado imobiliário.
Para Adriano Sartori, vice-presidente de gestão patrimonial e locação do Secovi-SP, hoje “mais do que nunca é importante negociar”.
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Sartori destaca que desde o início da pandemia, a relação proprietário e inquilino ficou muito instável por causa da questão financeira.
Ele também explica que cerca de 70% dos proprietários de residências possuem apenas um imóvel e utilizam o valor do aluguel como renda familiar ou para complementar a aposentadoria.
Então, ele consegue dar desconto por um certo período, mas não por muito tempo porque ele depende daquela renda.
Por outro lado, o inquilino também precisa de um alívio financeiro neste momento de crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.
Sartori ressalta que locatário e locador podem chegar a um percentual de reajuste que seja bom para ambos.
“Um reajuste entre 20% e 30% dificilmente será possível repassar. Mesmo com a crise, as pessoas estão se movimentando e mudando para imóveis menores ou maiores”, conta.
A recomendação do Secovi é que os donos de imóveis acompanhem o desempenho de índices que apresentaram elevações mais próximas da realidade do brasileiro, como o IPCA, por exemplo.
Outra alternativa é buscar um reajuste que fique entre o IPCA e o IGP-M.
Se o inquilino é bom%2C não causa problemas ao proprietário e sempre pagou em dia%2C é melhor negociar o preço e evitar que seu imóvel fique vazio e tenha de assumir custos de manutenção como condomínio e IPTU.
Atualmente, 90% dos imóveis residenciais são reajustados pelo IGP-M, segundo levantamento do Secovi.
“O mercado adotou o IGP-M por ser um índice criado pela FGV, que é uma instituição sólida e o IPCA vir de um órgão vinculado ao governo, o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]”, conta Sartori.
Porém, o porta-voz do Secovi diz que algumas administradoras começaram a adotar o IPCA em novos contratos. É o caso da Quinto Andar, que segundo ele já tem 30% da sua carteira atrelada ao IPCA, e da Lello Imóveis.
Administradora orienta adoção do IPCA
Moira Toledo, diretora de risco e governança da Lello, diz que a administradora e imobiliária vem orientando proprietários e inquilinos a negociarem o reajuste assim que o IGP-M começou a atingir patamares elevados.
“Não esperamos locatário e locador reclamarem. Vimos o descolamento do IGP-M e dos novos valores de aluguel a partir de outubro do ano passado e já começamos a sugerimos uma alternativa mais palpável para ambos. Para os contratos novos, já temos sugerido o IPCA como índice de correção”, conta a executiva.
Em outubro do ano passado, quando começaram as negociações na imobiliária, 20% locadores optaram por aplicar o IPCA no reajuste e 14% quiseram manter a correção pelo IGP-M.
Em março deste ano, os acordos firmados com o reajuste pelo IPCA subiram para 29% e os pelo IGP-M caíram para 8%.
Há, ainda, os locatários e locadores que optaram por um meio termo entre o IGP-M e IPCA. Outubro foram 38% e março 28%.
Ao propor os acordos%2C nós quisemos trazer um equilíbrio para a relação entre proprietários e inquilinos%2C e eles ficaram muito felizes por termos nos anteciparmos e oferecemos uma solução logo no início do problema.
Quanto aos novos contratos, Moira afirma que a imobiliária vem recomendando desde janeiro para que a correção seja feita pelo IPCA.
Comércio também negocia correção de contratos
Entre o final de 2020 e o início de 2021, Alario Navarro - Soluções por Acordo, empresa que atua na intermediação de negociações entre locatários e locadores, conseguiu renegociar 93% dos contratos de aluguel das lojas de uma rede varejista.
A companhia tem em torno de 1000 estabelecimentos em todo Brasil e conseguiu a redução do valor de locação em 20% das unidades, a manutenção de 79% e majoração somente em 1%.
Andrea Navarro, sócia da Alario Navarro – Soluções por Acordo, conta que desde novembro vem negociando cerca de 800 contratos de outros clientes.
Nós tentamos sempre trocar índice de correção e dar uma solução sustentável de contrato para o longo prazo. A maior parte a gente tenta alterar pelo IPCA que está mais perto da realidade da população brasileira.
Se proprietário não aceita a substituição de forma alguma, Andrea afirma que propõe um teto de 6,4% no reajuste, mesmo que o IGP-M chegue 30%, como agora.